Coronavírus: Quarentena sem fome e nem desperdício

Confira dicas para ter a reserva de alimentos necessários durante os 15 dias de isolamento

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 22 de março de 2020 às 07:46

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Parece mentira. Um homem coloca um grande saco de tomates no carrinho de supermercado – já abarrotado de produtos – de uma grande rede de supermercados. O outro vai à mercearia perto de casa, onde costuma comprar um quilo de frango por semana,  e compra quatro quilos do produto. A ideia –desnecessária, segundo os especialistas – é suportar os dias de isolamento voluntário para a população em geração e de quarentena para os suspeitos ou acometidos pelo coronavírus. 

Foi para evitar que o caro leitor caia no mesmo erro que o CORREIO ouviu o setor supermercadista sobre os estoques do setor, o setor de saúde a respeito dos riscos de uma ida ao supermercado para repor a dispensa, além de dicas de como fazer as compras e o que comprar. E se mesmo assim, a decisão seja não sair de casa, é só conferir a lista de serviços de delivery disponível. 

Desde que o poder público determinou as medidas para a contenção do coronavírus, Dairlane Sampaio, de 33 anos, e a filhinha de oito anos estão em casa, cumprindo o isolamento voluntário. A pequena deixou de ir à escola e ela fechou a loja onde comercializa produtos infantis. Apenas o marido ainda sai para ir ao trabalho, mas a expectativa é que ele se junte à família em breve.

 Por sinal, a chegada do marido em casa costuma dar início a uma operação de guerra contra o vírus. “Quando ele chega tem todo um processo, a rotina da gente mudou totalmente em relação à higienização”, conta. Ele tira o sapato do lado de fora e é álcool em tudo. As roupas são colocadas rapidamente para lavar. O marido vai pra o banho e o trabalho de limpeza prossegue na maçaneta, carteira e o que mais precisar. 

É justamente em relação ao mercado que a comerciante diz estar mantendo praticamente a mesma rotina de antes. Ela foi ao mercado pela última vez na terça-feira, “cedo”, para aproveitar o local mais vazio.  “A rotina de compras foi a mesma. Foi a mesma quantidade de frios, cereais, material de higiene, limpeza”, conta. “Ainda não senti a necessidade de comprar em quantidade para estocar, até porque a gente precisa ter a consciência em relação às outras pessoas. Não compramos nada com exagero”, afirma. 

Selma Magnavita, presidente do Movimento das Donas de Casa da Bahia, lembra que a ideia de armazenar uma grande quantidade de produtos em casa pode causar um problema econômico grave. Ela lembra ainda que o armazenamento de itens perecíveis pode acabar provocando desperdício. “Ninguém deveria correr para armazenar porque isso é entendido como um aumento de procura, que desencadeia em alta nos preços e é ruim para todo mundo”, diz. 

Além disso, complementa, o comportamento pode impedir, ainda que temporariamente, o acesso de pessoas com menos condições financeiras aos produtos. “Temos pessoas que só podem fazer a compra dos produtos numa quantidade regrada, se os outros não pensarem nisso, iremos penalizar exatamente os mais pobres”, avalia. 

“Não existe ainda nenhuma indicação de que teremos falta de alimentos, então nada justifica a ideia de chegar em um supermercado e esvaziar as prateleiras. É uma questão também de solidariedade”, diz. Uma recomendação na hora de fazer a lista de compras é no reforço a itens relacionados às crianças, que vão passar mais tempo em casa. 

Contato O infectologista Fábio Amorim explica que qualquer tipo de contato que puder ser evitado, pode ajudar a evitar na disseminação do coronavírus, mas conta estar vendo atitudes que fogem à racionalidade em relação às idas aos supermercados. “Fui ao mercado e me dei conta de que alguns itens estavam em falta. Foi quando minha filha viu um homem com um saco gigantesco de tomates, que é um produto que não dura nem uma semana”, lembra. 

“Esse comportamento compromete quem não tem os recursos. A gente sabe que as pessoas precisam se alimentar e nem todos podem comprar quatro quilos de feijão de uma vez. Ainda que este não seja tanto o papel da infectologia, é algo importante a se ponderar”, avalia. “Vamos passar por um processo muito difícil, mas existem atitudes que não deveriam ser tomadas”, acredita. 

Segundo o médico, qualquer tipo de ambiente confinado traz riscos. “Estamos passando por um momento de crescimento do Covid-19 em Salvador, então se pudermos evitar ambientes fechados, isso será muito importante. É importante se poupar,  buscar ficar mais tempo em casa e tentar passar este momento da maneira mais branda possível. Talvez, escolher bem os horários de ir, se for necessário”, destaca. 

Delivery Entretanto, a postura dela não vem se repetindo em todos. Na Mercearia Caribé, desde o início desta semana a frequência dos fregueses diminuiu, entretanto o valor das compras aumentou. “A sensação que nós temos é que as pessoas estão optando por fazer compras maiores para vir menos”, diz o comerciante Rafael Caribé, que há dois anos e meio administra o estabelecimento na Cajazeira 7. 

Após perceber que os clientes de mais idade estão indo menos ao local, Caribé resolveu criar um mecanismo para atende-los e passou a oferecer o serviço de entregas. “Aqui na comunidade temos muitas pessoas idosas e elas, com toda a razão, estão evitando sair, mesmo na mercearia ao lado de casa”, conta. 

O preço é camarada, destaca, e em alguns casos ele diz que nem cobra. “A depender do valor da compra, a gente entrega sem custo. Mas mesmo quando cobramos, é um valor em conta, mas para compensar o combustível, porque não é minha intenção ganhar com essa situação. Quero apenas atender a minha clientela”, explica. 

Mesmo grupos empresariais maiores que a Mercearia Caribé estão adotando estratégias para atender à população em meio à crise do coronavírus. O Hiperideal, por exemplo, avisou que pretende abrir suas unidades na Vitória, Manoel Dias, Apipema, Vila Laura, Litoral Norte e Stella Maris em horário especial para os idosos, das 6h às 8h. Além disso, os usuários com dificuldades para comprar pelo site do supermercado terão à disposição um número de telefone para solicitar suas compras. 

No site do supermercado, o consumidor encontra o aviso de que alguns produtos estão em falta devido à alta demanda, além do congelamento dos preços pelos próximos 15 dias. Por lá, o consumidor tem a possibilidade de comprar online e retirar na loja, ou no conforto do lar. 

Em alguns casos, a elevada demanda dos consumidores levou à falta temporária de alguns produtos, ou mesmo à suspensão temporária do serviço de entregas. 

O Pão de Açúcar.com está informando aos clientes que alguns de seus produtos possuem estoques limitados e que, neste caso, podem ser trocados por similares. Além disso, a rede de supermercado avisa ainda sobre a possibilidade de atrasos em algumas entregas.

Abastecimento O empresário Joel Feldman, presidente da Associação Baiana de Supermercados (Abase), conta que nos últimos dias houve uma mudança no comportamento dos consumidores baianos, mas ressalta que a atitude é desnecessária. “Nos últimos dias houve um movimento atípico nas lojas, talvez por conta da necessidade de reclusão social, sem escolas, academias, então podem estar buscando suprimentos. Mas no nosso setor nada justifica a necessidade de fazer estoques. Estamos preparados para atender e manter todas as lojas abastecidas”, diz. 

Segundo ele, o único item que atualmente tem faltado é o álcool em gel, porque a indústria foi pega de surpresa com o aumento repentino de demanda. E o papel higiênico? “Essa preocupação não faz o menor sentido. A Bahia possui uma das maiores fábricas do mundo, a maior empresa de celulose do planeta fica aqui”, lembra. 

“Se uma rede de supermercados está habituada a vender uma determinada quantidade de papel higiênico, por exemplo, e de uma hora para outra aumenta, pode haver uma falta de um dia ou dois, mas a temos capacidade para atender até a essa demanda”, garante. 

Feldman acrescenta que de modo geral, não há risco de desabastecimento. “Temos uma indústria alimentícia que até este momento está funcionando a todo o vapor”, acrescenta. Segundo ele, o leite líquido é o único item que deve sofrer aumentos de preços, por conta de questões sazonais, mas sem risco de faltar. 

“O Brasil tem uma capacidade de produção gigantesca e neste momento não temos nenhuma delas paradas”, destaca. 

Serviços de entrega de alimentos Hiperideal Atende exclusivamente idosos das 6 às 8h, nas unidades na Vitória, Manoel Dias, Apipema, Vila Laura, Litoral Norte e Stella Maris. Oferece a possibilidade de compras pelo www.hiperideal.com.br. Usuários com dificuldades podem solicitar auxílio pelo 71 99610-3090 (das 8h às 17h)

Pão de Açúcar.com O cliente pode fazer as compras pelo www.paodeacucar.com. Na pesquisa de CEP, alguns endereços aparecem como indisponíveis, mas o consumidor por ou fazer a retirada na loja, nos casos de pedidos feitos     entre as 8h e 16h. 

Alpha Mercado Atende das 7h às 20h de segunda a sexta e aos sábados, ate às 12h. As entregas acontecem em Salvador, Lauro de Freitas e Litoral Norte. As compras podem ser feitas pelo endereço www.alphamercado.com.br e as entregas são feitas de acordo com a ordem dos agendamentos. Informações pelo Whatsapp 71 98237-3196

Mercearia Caribé Atende em horário comercial em Cajazeira 7 e Águas Claras. Contato pelo Whatsapp: 71 98855-0059

Sugestão de lista de compras para 15 dias em casa Alimentos 1 quilo de leite em pó 3 litros de leite 6 pacotes de flocos de milho 1 quilo de goma 2 placas de ovos 3 pacotes de café 3 pacotes de macarrão 3 quilos de arroz 12 quilos de carne 2 latas de milho 2 latas de atum 3 pacotes de pães

Limpeza 4 esponjas 4 litros de água sanitária 1 quilo de sabão em pó 2 litros de detergente 180 gramas de creme dental 6 sabonetes em barra 500 ml de sabonete líquido 1 litro de álcool