Corpo de Alaíde do Feijão é enterrado em Salvador

Sepultamento seguiu protocolos sanitários no Cemitério Quinta dos Lázaros

  • D
  • Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2022 às 10:16

- Atualizado há um ano

. por Arisson Marinho/CORREIO

O corpo da cozinheira Alaíde Conceição, a Alaíde do Feijão, 72 anos, foi sepultado sob forte comoção na manhã desta terça-feira (1º), em Salvador. O sepultamento no Cemitério Quinta dos Lázaros reuniu amigos, familiares e admiradores da cozinheira, que foram prestar a sua última homenagem.

A cozinheira morreu nessa segunda-feira (31) após sofrer uma parada cardiorrespiratória em decorrência da segunda infecção por covid-19. A primeira vez foi em março de 2021, quando passou 12 dias de internada. Neto da matriarca, Eldo Neves contou que sua avó lutou com muita bravura, mas não resistiu e partiu para o descanso. Ela tinha três filhas, sete netos e seis bisnetos.

Por ter sido vítima da covid-19, o sepultamento seguiu os protocolos sanitários e o caixão foi lacrado. 

[[embed]]

Legado O restaurante Alaíde do Feijão existe desde 1974. O ofício foi herdado da mãe, Maria das Neves, que tinha um tabuleiro nas imediações do Elevador Lacerda. Com menos de 15 anos, Alaíde decidiu ajudar a mãe a buscar o sustento dos 12 irmãos - 8 biológicos e mais 4 adotados.

Quem conheceu Alaíde crava: era ela quem dava a última palavra, memória descrita pelo ator Jorge Washington, do Bando de Teatro Olodum. Alaíde bateu o pé para ajudar a mãe, que não a queria trabalhando tão jovem. Em 1974, assumiu o posto de dona Maria das Neves, que se aposentou e foi morar na Ilha de Itaparica. Levou o ponto, a clientela e ampliou a banca, que àquela altura já vendia feijoada e sarapatel. 

Onde Alaíde estava, também havia muita conversa e política. “A gente saía da farra e ia lá comer feijão, mas não era só isso. Estar perto dela era um momento de descontração, alegria, saber de tudo quando era fuxico do movimento negro. Era uma figura que agregava Bahia, Vitória, PT, PC do B, Psol, DEM, todo o mundo se dava bem ali. Toda terça tinha a resenha em Alaíde. Se falava de tudo, da comida, do futebol, da política... Quando o clima esquentava, ela botava água no meio. Quando ela levantava a voz, todo o mundo se abaixava”, conta Jorge Washington.

Nos anos 1990, durante a gestão do governador Antônio Carlos Magalhães, houve uma revitalização no Pelourinho e Alaíde subiu o elevador junto com seu feijão. O tabuleiro virou restaurante e seu feijão virou tradição. Toda terça-feira, recebia deputados, secretários, vereadores, artistas, produtores, criadores, policiais, ladrões, ricos e pobres em seu espaço. Só tinha uma regra: respeitar quando ela desse um basta na agonia. Mas também era proibido sair de lá com fome.