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Corpo de trabalhador morto em obra da Embasa é enterrado no Cemitério Campo Santo


 

"Mataram meu irmão e só queremos justiça", diz irmã de Neílton

  • Da Redação

Publicado em 31/08/2021 às 19:06:00
Atualizado em 21/05/2023 às 21:46:12
. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

Ao som de louvores, o corpo de Neílton Souza Santos foi velado na tarde desta terça (31), no Cemitério Campo Santo, na Federação. Morto durante prestação de serviços a uma empresa terceirizada da Embasa, a LPX Lander, o trabalhador de construção civil teve despedida marcada por amigos e familiares ainda inconformados com o acontecimento do último dia 30.

"Colocaram meu irmão em um buraco que já tinha anos com infiltração sem equipamentos de proteção. Mataram meu irmão, ele foi assassinado, e só queremos justiça. Nada vai trazer ele de volta", disse Naiana Souza à reportagem. "Ele era um irmão incrível, super protetor, brigávamos como todo irmão briga, mas nos amávamos. Ele era um filho incrível para minha mãe e um pai incrível para os filhos. Nada vai trazer ele de volta". Neílton deixou a esposa e dois filhos, um menino e uma menina, de 3 e 7 anos.

Ele tinha 31 anos e trabalhava há menos de 30 dias na empresa quando o acidente aconteceu. O trabalhador estava em uma obra de esgotamento sanitário em Itinga, Lauro de Freitas, em uma vala, durante uma escavação, quando a terra deslizou e ele foi soterrado. Além de terra, a escavação ficou inundada e precisou ser drenada, de acordo com o Centro Integrado de Comunicações (CICOM) da Secretaria de Segurança Pública. Com ele, cerca de dez operários estavam no local, por volta das 20h50. O deslizamento de terra atingiu três trabalhadores. Moradores ajudaram no resgate e dois dos trabalhadores foram retirados. Neilton ficou preso.

O pai de Neílton, Nilton Souza, explica que o filho costumava aceitar diversos empregos, para conseguir sustentar a família. "Ele era um homem batalhador, puxou isso do pai. Para suprir as dívidas e as necessidades da casa, ele sempre fazia", diz. Também acredita que nesse caso, a empresa não deu segurança o suficiente para que conseguisse trabalhar.

"A empreiteira não deu o mínimo de segurança ou de apoio. Tinham materiais para isolarem a área, mas não isolaram, um tubo estourou e ele morreu afogado", explica o que soube. De acordo com Nilton, a empresa entrou em contato com a família e, até então, só assumiu as finanças do funeral. Procurada, a LPX Lander afirmou ao CORREIO que está prestando toda a assistência aos familiares.

"Nossa preocupação é somente os familiares, e a empresa está prestando toda assistência a eles. Todos estamos consternados", disse o representante Valeni Conceição. Ele ainda afirmou que esse foi o primeiro acidente do tipo envolvendo a LPX.

Valmir de Andrade, um dos vizinhos da família, esteve presente durante o funeral. Ele conta que conheceu Neílton quando criança e que o operário foi criado dentro da igreja, no bairro de Jardim Valéria. "Ele era muito querido da família e essa morte pegou a gente de surpresa. Eu soube através do jornal hoje de manhã, minha filha ligou para mim e eu vim para cá".

Francenilton Oliveira diz que jogava bola com Neílton e, até seus últimos dias, era próximo do trabalhador. "Conheço os filhos, a esposa e tinha muito carinho por ele. Cheguei a trabalhar com ele em outros momentos. Só espero que a empresa tome responsabilidade e não ajude somente com o funeral, mas no sustento da esposa e dos filhos dele".

De acordo com informações do diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira no Estado da Bahia (Sintracom), Marcos César, a morte do trabalhador foi confirmada à 00h14, quando o corpo foi resgatado. O diretor do sindicato criticou a exposição dos trabalhadores na obra. Segundo ele, não havia escoramento da escavação. "A maioria da frente de trabalho todos são novatos sem a devida experiência e treinamento", criticou.

Através de nota, a Embasa lamentou a morte do funcionário. "A empresa está cooperando com as autoridades na apuração das responsabilidades neste acidente, ao tempo que acompanha com seu serviço social o apoio dado pela prestadora LPX Lander aos familiares da vítima", diz o posicionamento.

O Ministério Público do Trabalho ainda abriu um inquérito nesta terça-feira (31) para investigar as responsabilidades trabalhistas. Segundo informações preliminares do MPT, no local havia um equipamento de contenção para evitar soterramento, mas ele não foi usado. Testemunhas disseram também que os trabalhadores não usavam cinto de segurança, nem cordas.

O caso é investigado pela 27ª Delegacia, de Itinga. Um laudo será feito pelo Departamento de Polícia Técnica. A Superintendência Regional do Trabalho da Bahia (SRT-BA) também foi acionada para realizar estudo que determine as causas do acidente e eventuais descumprimentos de normas de saúde e segurança do trabalho. Todos esses materiais serão usados no inquérito do MPT.

*com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo