Cortejo homenageia 67 anos de Mestre Moa do Katendê

Capoeirista foi morto em uma discussão política, em 2018

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  • Roberto Midlej

Publicado em 30 de outubro de 2021 às 14:54

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Roberto Midlej/CORREIO

Era na Curva do Asilo, nas proximidades do Parque Solar Boa Vista, no Engenho Velho de Brotas, que Mestre Moa do Katendê (1954-2018), ainda bem jovem, se reunia com os amigos do grupo Jovens Loucos. Foi daquelas reuniões que surgiu o Badauê, um dos mais importantes afoxés da história cultural baiana.

E foi ali que amigos e artistas se reuniram neste sábado (30) para homenagear o Mestre, barbaramente assassinado em 2018 por um apoiador de Jair Bolsonaro, devido a uma discussão política. O cortejo se concentrou por volta das 9h e foi filmado para o documentário Raiz Afro Mãe, que vai celebrar a memória de Moa. 

O cortejo desceu a Ladeira de Nanã e parou em frente ao local onde aconteceram os primeiros ensaios do Badauê. No Dique, perto de onde Moa foi assassinado, foi feito um minuto de silêncio e um pedido de paz. O percurso teve como trilha sonora as canções que Moa compôs e ainda não foram gravadas, mas, em breve, estarão num álbum com vozes de Lazzo, Márcia Short e outros artistas. O azul e o branco, referência ao Badauê, predominaram no trajeto. Músicos reverenciaram a memória de Mestre Moa antes da saída do Cortejo Na Ladeira de Nanã, Jorjão Bafafé, também fundador do Badauê, cantou em memória a Moa. O poeta Nelson Maca recitou seus versos para homenageá-lo: "O respeito é processo complexo, cotidiano, único, transcendental/ Cada templo com seu nexo/ Cada casa, seu reflexo/ Mas na base o respeito é fun-da-men-tal". 

Documentário

A equipe do documentário veio de São Paulo para realizar entrevistas e também para registrar o cortejo, que celebrava os 67 anos de nascimento do Mestre, que completados na sexta, 29. "Estávamos em São Paulo em 2017, quando soubemos que Mestre Moa estava lá e fomos chamados para conhecê-lo. Não conhecia bem a história dele, mas logo fiquei encantado também com a maneira dele falar. Ele se revelou principlamente um grande educador", diz Gustavo McNair, que dirige o o filme Raiz Afro Mãe. 

Num daqueles encontros, conversou com Moa por cerca de duas horas e gravou a entrevista. O material seria usada apenas como fonte inicial para outras entrevistas e pesquisas, mas, como o Mestre morreu no ano seguinte, Gustavo não pôde reencontrá-lo. As entrevistas então vão fazer parte do filme. "Foi o último grande depoimento dele", diz Gustavo.

O dançarino Negrizu, que participou dos primeiros anos do Badauê, estava no cortejo. Ele ressalta que o bloco, ao contrário, por exemplo, do Ilê Ayiê, aceitava brancos como integrantes. Isso revelava o caráter agregador de Moa, segundo o dançarino: "Nós não nos apresentávamos para confrontar, queríamos quebrar aquela barreira. E Moa acreditava na necessidade do diálogo". Negrizu (de calça azul) dançou para homenagear o amigo Moa do Katendê Mestre Plínio, que também estava na homenagem, diz que Mestre Moa acreditava na necessidade de levar a cultura do povo preto até o s brancos: "Ele acreditava que a cultura preta transforma as pessoas. A capoeira, a dança, a percussão... tudo isso, para ele, pode levar as pessoas a outro lugar. Para ele, a cultura e a arte tinham a função de curar e educar".