‘Covid Folia’? Cidades baianas fazem planos para atrair turistas no Carnaval

Turismo ‘seguro’ e ao ar livre são as apostas dos municípios; festas estão proibidas

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 07:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Mesmo com o avanço da covid-19, algumas cidades da Bahia apostam na semana do Carnaval como um período que vai contribuir para incrementar o turismo, ainda que este ano a festa não seja feriado. O Governo do Estado suspendeu o ponto facultativo, em um decreto com vigência em todo o território baiano, que deve ser seguido por todos os municípios, segundo a Casa Civil. Apenas empresas privadas têm a autonomia para definir os expedientes de seus colaboradores  e se vão manter ou não o trabalho durante o Carnaval.

A preocupação é que se repitam as cenas de aglomeração vistas em destinos turísticos baianos durante os festejos de Natal e de Ano Novo. Só em Porto Seguro, entre os dias 28 de dezembro e o dia 3 de janeiro, pelo menos 70 festas irregulares foram desmobilizadas pela Polícia Militar (PM). O distrito de Trancoso se tornou notícia nacional com as diversas festas realizadas em casas de alto padrão, bares e vias públicas.  

O resultado das aglomerações nas festas de final de ano foi a elevação da média móvel de casos de covid-19 na primeira quinzena de janeiro. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), 15 dias após o Réveillon os casos da doença dispararam. Só a título de comparação, a média móvel de casos, que estava em torno 1,7 mil em dezembro, em 11 de janeiro já tinha saltado para 2.419 casos e em 15 de janeiro, para 2.834. Em 15 de janeiro também houve registro recorde de casos em 24 horas: 5.471. 

No mesmo período, a ocupação de leitos de UTI na região Sul do Estado, onde fica Porto Seguro e Trancoso, por exemplo, estava em 90%. Como geralmente os sintomas da infecção pelo novo coronavírus demoram de 2 a 14 dias para aparecerem, o crescimento dos casos e da ocupação das UTIs na primeira quinzena de janeiro tem relação direta com as aglomerações dos festejos da virada.

Mais buscados

Tradicionalmente, o Carnaval de Porto Seguro é um dos destinos mais procurados do país, com opções pagas e gratuitas. Segundo o decreto estadual, no entanto, em 2021 todos os festejos estão cancelados. A validade da norma que determina que nenhuma festa pode ser realizada no estado é até o dia 7 de fevereiro, mas pode ser renovada.  

Moradora de Trancoso, a empresária Marcia Taliberti, dona do restaurante Maritaca, está confiante de que, pelo menos no distrito, não serão vistas cenas de aglomeração como a registrada no final do ano passado. “A polícia está atenta e coibindo festas. Mas Trancoso já não tem tradição de Carnaval. As pessoas vêm para cá nesse período justamente para descansar, fugir das festas. Não acho que vai ser a mesma linguagem do réveillon”, explica.  

Atualmente, Porto Seguro tem 5,2 mil casos de covid-19 confirmados, sendo 230 destes só em Trancoso, 485 em Arraial da Ajuda e 54 em Caraíva. Por causa das aglomerações de fim de ano, a cidade também teve aumento de casos em janeiro. Só entre os dias 23 de dezembro e 5 de janeiro, 237 novos casos foram confirmados. A população de Porto Seguro é de cerca de 150 mil habitantes.  

Outras cidades

Ainda no litoral baiano, outras cidades se preparam para receber mais turistas durante o Carnaval. Segundo a assessoria de comunicação da prefeitura de Itacaré, uma reunião, hoje, vai oficializar que a cidade não vai ter ponto facultativo no período momesco. “Mas a gente entende que a cidade vai receber turistas nesse período, mesmo assim, e estamos nos preparando para uma ocupação significativa”, diz o órgão.  

Ainda segundo a prefeitura, um dos projetos que devem ser adotados é o CarnaSocial, no qual pessoas vão se fantasiar e distribuir para turistas máscaras, álcool em gel e ensinar os protocolos de saúde. “O nosso carnaval vinha se consagrando como uma grande festa nos últimos anos. Mas agora estamos direcionados ao turismo de lazer, a céu aberto, com natureza. Festas e aglomerações são indesejadas e serão combatidas”, explicou Luiz Paulo Herculian, presidente do Conselho Municipal de Turismo.  

Entre os dias 23 de dezembro e 5 de janeiro, Itacaré teve redução no número de casos ativos, uma queda de 89 para 10. Ao longo de janeiro, esse número foi aumentando e agora se encontra em 45. No total, são 1085 casos confirmados para uma população de cerca de 30 mil habitantes. 

É mais gente do que em Cairu (18 mil habitantes), onde fica Morro de São Paulo e Boipeba). No início do ano, em 12 de janeiro, Cairu tinha 676 casos confirmados de covid-19 e agora já está em 796. O número atual de casos ativos é 27.  “Aqui ainda precisa ser confirmado, mas acredito que vamos seguir a orientação do estado quanto ao ponto facultativo. Nós temos barreiras sanitárias, estamos aferindo a temperatura dos turistas, obrigando o uso de máscara e fiscalizando o funcionamento dos estabelecimentos. Tudo isso deve ser intensificado no período do Carnaval, para garantir a segurança dos moradores e turistas”, afirmou Júlio Oliveira, secretario de turismo de Cairu. Já em Mata de São João, cidade que abriga os distritos de Praia do Forte e Imbassaí, uma medida adotada durante os festejos de Ano Novo pode retornar no carnaval: a proibição de acesso de carros de não moradores em Praia do Forte. “A depender do movimento, vamos ter a restrição de entrada de veículos. Isso depende da quantidade de veículos no estacionamento. Quando a gente vê que atingiu uns 70%, a gente começa a limitar o acesso”, explicou a assessoria de comunicação da prefeitura.  

Ainda assim, as ações de fiscalização devem continuam em toda cidade no período de carnaval. Lá também não vai ter ponto facultativo. Atualmente, Mata de São João tem 1,4 mil casos confirmados, sendo 148 ativos e 14 mortes. Dos casos ativos, quatro são em Imbassaí e três em Praia do Forte.  

Chapada  

Focado no turismo ao ar livre, outro destino que deve ser procurado no Carnaval é a Chapada Diamantina. Em Palmeiras, cidade que costuma ter blocos carnavalescos, todas as festas estão suspensas. “O maior carnaval da Chapada Diamantina é aqui, porém, com a pandemia, não tem possibilidade de ter qualquer tipo de aglomeração. Vamos contar com a polícia militar, que está orientada a tomar a devida providência para evitar qualquer bloquinho de rua”, explica o secretário de Saúde Walney da Silva.  

É em Palmeiras que fica um dos destinos mais famosos da Chapada Diamantina, o Vale do Capão. “Como não é um feriado, esperamos que os turistas venham normalmente, como já está acontecendo, seguindo os protocolos. Pode vir muitas pessoas como veio no Natal e Ano Novo, mas seguiremos o mesmo padrão. Uso de máscara, álcool em gel e número restrito de pessoas para caminhada”, disse.  

Já em Ibicoara, o acesso à Cachoeira do Buracão só poderá ser feito mediante agendamento num site. Lá a limitação de turistas é de 120 pessoas por turno (240 pessoas no dia), mas o número deve ser aumentado para 150 pessoas por turno durante o carnaval.“Se não fosse a pandemia, daria umas 500 pessoas por turno. A gente é a única cidade da região que fez treinamento intenso de segurança com os guias. Quando o acesso à cachoeira foi aberto, tínhamos apenas 126 casos ativos, agora são seis. Estamos confiantes”, disse o secretário de turismo Luan Sampaio.  Em Lençóis, não é esperado um fluxo de estrangeiros como costuma acontecer no período de carnaval. “Mas a procura e o número de Reservas estão altos e muitos meios de hospedagem incluindo os grandes hotéis já estão com taxa de ocupação em torno de 70% e devem chegar a 100% com as reservas de última hora”, diz a prefeitura, em nota.  

“A predominância nas reservas são casais em busca de tranquilidade e de recarregar as energias em contato com a natureza. Nos últimos anos, o carnaval de rua com pequenos bloquinhos vinha se fortalecendo em Lençóis. Esse ano, devido a pandemia, não teremos nenhum evento que possa gerar aglomerações. Mas atualmente todos os atrativos de Lençóis estão abertos à visitação”, garante outro trecho da nota. 

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro