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Gil Santos
Publicado em 11 de outubro de 2019 às 18:19
- Atualizado há 2 anos
Um cenário triste de ver. Um dos principais cartões-postais da Bahia amanheceu irreconhecível nesta sexta-feira (11). Os corais da Praia do Forte perderam o colorido e ganharam o tom de piche. As manchas de óleo borraram de preto a paisagem e obrigaram os moradores a fazerem um mutirão para a limpeza.>
Os comerciantes, vendedores ambulantes e pescadores ouvidos pela reportagem ainda não conseguiram estimar o prejuízo provocado pelo óleo, mas contaram que estão tendo bastante trabalho. Wilton do Amor Divino, 36 anos, aluga cadeiras na praia e também é pescador. Ele contou que levou um susto quando chegou no Portinho, região da Praia do Forte, nesta manhã.>
“As pedras estavam cobertas de manchas e a areia toda suja. Tudo preto. A gente (moradores e vendedores) se reuniu e fez um mutirão de limpeza junto com a prefeitura. Eles distribuíram pás e sacolas, retiramos bastante material. Como essa situação começou ontem (quinta-feira), ainda não deu para calcular o prejuízo, mas o movimento na praia hoje é menor que o normal”, contou. Wilton mostra as mãos sujas de petróleo (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Depois que a maré encheu não foi mais possível chegar até os corais para retirar o óleo, mas, durante a reportagem, mais e mais pedaços do petróleo cru se desprenderam das pedras e chegaram à areia, arrancados pela força das ondas. Para as crianças, uma diversão. Para os adultos, motivo de preocupação.>
“A gente entra na água, mas fica com receio. Ninguém sabe ainda de onde esse óleo está vindo, nem o tamanho desse problema. Como a água está limpa, estamos tomando banho, mas se a quantidade de manchas aumentar não vai dar mais para aproveitar as férias desse jeito”, reclamou a advogada Eliana Gurgel, 34 anos, que veio à Bahia com a irmã e a sobrinha. Mutirão recolheu petróleo encontrado nas areias em Praia do Forte (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Nas praias da Pedra, do Lorde e de Papa-Gente, a situação foi a mesma. Manchas para todos os lados. João Celino, 51, contou que trabalha há 30 anos na praia vendendo picolé e garante que nunca viu nada igual. “É triste ver a nossa praia assim. Hoje é meu aniversário e esse foi o presente que eu recebi”, lamentou.>
Nessas três praias também houve mutirão de limpeza e quilos de petróleo cru foram retirados da areia e do mar. A prefeitura de Mata de São João ainda está calculando a quantidade de material recolhido. Em Salvador, foram 20 kg até a manhã desta sexta-feira, em seis praias: Praia do Flamengo, Jardim dos Namorados, Jardim de Alah, Itapuã, Buracão e Piatã. Apesar do óleo, banhistas foram à praia do Litoral Norte (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Mancha de 21km² A situação pode ficar ainda pior porque pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) localizaram duas novas manchas no mar, uma de 21,6 km² e outra de 3,3 km². Elas estão em alto mar, mas seguindo em direção a costa da Bahia.>
O petróleo cru foi identificado por um satélite da União Europeia, às 7h55 desta sexta-feira (11). Ela está a 100 km da costa, entre o Litoral Norte da Bahia e o Sul de Sergipe.>
Segundo os especialistas, devido às condições de circulação atmosférica e oceânicas no momento, é muito provável que essas manchas se desloquem em direção ao litoral da Bahia. Porém, ainda não é possível dizer quando exatamente elas devem atingir as praias.>
Os especialistas frisaram que, apesar de, juntas, as manchas terem quase 25 km², a tendência é que elas se fragmentem à medida que se aproximarem da costa, por conta da força dos ventos e das ondas.>
Soltura das Tartarugas Com o aumento da mancha em Praia do Forte, a soltura dos filhotes de tartaruga do Projeto Tamar é incerta. De acordo com a coordenadora de pesquisa e conservação da fundação Projeto Tamar, Neca Marcovaldi, é possível que a liberação seja feita em alto mar ou em praias mais ao sul, como Arembepe.>
“Estamos fazendo um monitoramento no dia a dia. Se tiver mais filhotes para soltar, isso vai ser avaliado”, pontuou a coordenadora.>
São cerca de 500 ninhos de tartaruga na região afetada na Bahia, o que corresponde a 50 mil filhotes nascendo no estado, segundo Marcovaldi. As cinco espécies que ocupam a costa brasileira estão em ameaça de extinção. Destas, apenas quatro estão no litoral baiano - as quais, são menos ameaçadas do que a espécie que não vive na Bahia.>