Cria da Europa, Raí superou desconfiança e se firmou como titular do Bahia

Ao CORREIO, atacante falou sobre formação fora e rápida adaptação ao tricolor

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 16 de novembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

Contratado no último dia do prazo de inscrições para o Brasileirão, o atacante Raí Nascimento chegou como uma surpresa no Bahia. Nascido no Rio de Janeiro, ele fez toda a formação na Espanha e só agora dá os primeiros passos no futebol brasileiro. 

De pouco conhecido, o atacante passou a titular do tricolor após a chegada de Guto Ferreira e vem deixando uma boa impressão em campo. Em oito jogos, ele marcou dois gols e deu uma assistência. 

Em entrevista ao CORREIO, Raí explicou o motivo de ter deixado o Brasil tão cedo, falou sobre a adaptação ao Bahia e o que espera do futuro com a camisa tricolor. Confira: 

Como surgiu a oportunidade de ir viver na Espanha? Saí com 12 anos aqui do Rio de Janeiro, sou natural do Rio, mas o meu pai é do Maranhão e a minha mãe da Paraíba. A família do Borja Alcazo, que é o meu representante e o meu pai lá fora, me deu a facilidade de estudar lá, que foi o primeiro caso, e a segunda opção era o futebol.Então o futebol não foi o que te levou para a Europa? Naquele momento, para o consulado, o motivo da saída tinha que ser o estudo, não vou mentir (risos). Eu tinha que ter boas notas ou não poderia voltar. Foi uma saída muito importante tanto no futebol como na minha carreira escolar. Você pode ser um grande jogador, mas às vezes pode ter uma interrupção e você precisa ter um estudo, estar preparado para o que vai acontecer.  Raí mostrou estrela e marcou gol logo na estreia pelo Bahia (Foto: Vitor Tamar/EC Bahia) Chegou a jogar por algum clube no Brasil?  Antes de ir para a Espanha eu passei na escolinha do Imperial, é uma escolinha do Vasco e o meu pai pagava cerca de R$ 25 de taxa. Decidi ir tão cedo lá para fora para buscar recursos para a vida da minha família, tanto no futebol como nos estudos.

Como foram os primeiros passos no futebol europeu? Lá na Espanha fiquei por muito tempo jogando em categorias de base, mas sem poder jogar uma liga profissional por conta da idade, até chegar no Zaragoza, que foi onde me deram a primeira chance. Eu tive a oportunidade de treinar e ficar com o time profissional desde os 18 anos, quando subi para treinar com eles. E foi muito gratificante para mim, mesmo passando por um processo lento.

Na Espanha você chegou a jogar contra o Barcelona. Qual foi a sensação?  Do Zaragoza fui emprestado ao Ibiza, que é um clube da Segunda B, onde fiz uma temporada e meia e pude jogar a Copa do Rei contra o Barcelona de Lenglet, Griezmann, Arthur, uma promessa que hoje tem a 10 do Messi, que é o Ansu Fati. Isso fica na experiência, no currículo, na história da gente, é o que temos a oportunidade de viver. Não imaginaria que estaria em um grande clube como o Bahia, no meu país, contando essa história. Do Ibiza voltei ao Zaragoza, fiquei meia temporada, mas estava não estava jogando, aí decidi romper os dois anos de contrato e fui para o Deportivo La Coruña. No Deportivo eu tive a chance de jogar, fiquei meio ano, e depois veio o Bahia.  Raí é marcado por De Jong, do Barcelona, quando atuava pelo Ibiza, na Espanha (Foto: Reprodução) Tem um gostinho diferente de jogar aqui? Nada melhor do que jogar no meu país, junto com a minha família. Estava conversando com o meu pai de que passa um filme na cabeça. Lembrava de quando ele me levava para treinar na chuva, em um Palio, e eu lembro que ele estava me levando para a pousada em que eu ficava longe da família mesmo aqui no Brasil, e o pneu do carro furou. Ele com um sorriso na cara, falava que nada tinha acontecido. Ele ajeitou o pneu, eu moleque, estava dormindo, não percebi nada, só que o carro parou. Quando chegou lá perguntei para ele, e ele disse que não foi nada. Isso levo para o resto da vida, levar as coisas na alegria, no bom humor, colocar a bola para frente como o meu pai fez naquele dia. Toda criança quer jogar em um grande estádio como o Maracanã. Passava por fora, ficava olhando. Em 2014 eu assisti à Copa junto com o meu empresário, o meu pai e o meu irmão, e falei para mim mesmo: ‘Tomara que um dia eu possa brincar aí dentro do Maracanã’. É o sonho de toda a criança do Brasil e poder jogar com os meus companheiros é um orgulho muito grande.

O que acha que consegue trazer de diferente para o futebol brasileiro por ter sido formado na Europa? Hoje o futebol está muito parecido em todos os países. Claro que cada campeonato tem suas características. Acredito que a formação fora me condicionou muito taticamente. Taticamente e fisicamente o futebol lá é diferente. Não é melhor nem pior, mas é diferente. Aprendi isso lá fora e tomara que ajude no Bahia. 

O futebol no Brasil está distante do europeu?  Não acho que seja assim. O futebol, a cada ano que passa, está sendo mais igualado na forma de jogar. A maioria dos treinadores que o Brasil tem vem com formação de fora e dá bons resultados. Raí não precisou de muito tempo para se adaptar e se firmar como titular do Bahia (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia) Esperava essa rápida adaptação no Brasil? Esperar eu acho que ninguém espera. Um jogador hoje em dia tem que se esforçar ao máximo, trabalhar e estar pronto para o momento dele. O meu momento chegou, Guto me deu a oportunidade, e foi bom para mim, bom para o Bahia. Espero continuar assim, vai ser bom para todos. Em termos de entrosamento, a cada dia estou melhorando com eles, cada jogo é um plus na minha adaptação, tanto grupal como individual. Foi uma surpresa a proposta do Bahia?  Quando o meu empresário falou que estava tudo certo, me senti muito feliz, confortável, pois passei muito tempo trabalhando sem perder a fé, o foco, acreditando em Deus que o meu momento ia chegar. Eu fiquei cinco meses sem jogar, treinando, me cuidando, esperando por esse momento. A minha família, as pessoas que estão mais próximas, sabem o quanto me preparei e sei que vai valer a pena todo esforço que fizer. 

A concorrência no ataque aumenta com o retorno de Rossi. Como você encara a disputa? Tem preferência por posição?  A prioridade de todo jogador é jogar. Jogar onde puder ajudar a equipe, onde o treinador pedir, mas competir. Rossi é um grande jogador, um companheiro espetacular, e se em algum momento o Guto decidir trocar, é coisa do treinador e nem eu nem ele vamos questionar. Sei que as decisões do Guto são sempre para ajudar a equipe e tirar o melhor de cada um. Ajuda muito a volta do Rossi. Até aqui eu estive tentando ajudar a equipe e sei que ele vai ajudar muito também.