Crise na Avianca pode levar Aeroporto de Salvador a patamar de 2009

Voos encerrados pela companhia representam 1,2 mi de passageiros ao ano

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  • Bruno Wendel

Publicado em 5 de abril de 2019 às 04:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Avianca está em recuperação judicial desde dezembro do ano passado (Foto: Marina Silva/CORREIO) A tranquilidade com que os passageiros da Avianca circulavam pelo saguão do aeroporto de Salvador, nesta quinta-feira (4), não lembrava nem de longe a turbulência pela qual a empresa está passando. Pela manhã, a Vinci Airports, que administra o Aeroporto de Salvador, anunciou que os voos da companhia não vão decolar a partir de segunda-feira, se as taxas de embarque não forem pagas com antecedência. Além disso, os sete voos encerrados pela companhia em março são responsáveis por 1,2 milhão de usuários do terminal, por isso, se não forem absorvidos pelas operadoras concorrentes, o aeroporto vai voltar a operar com capacidade para 7 milhões de passageiros ao ano, um cenário que não era visto desde 2009.

Retroceder dez anos é um problema que preocupa quem trabalha com turismo e quem depende desse setor para sobreviver. Segundo o diretor-presidente da Vinci Airports, concessionária que administra o Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães, Júlio Ribas, essa queda descontrolada vai atingir diversos seguimentos.  “Isso pode até afetar o aeroporto, mas afeta muito mais a economia da Bahia, afeta os fluxos de turistas e de viajantes de negócios, que são extremamente importantes para a Bahia e para Salvador. Afeta pequenos e médios negócios, e repercute em postos de trabalho. O aeroporto é a porta de entrada para que haja negócios e turistas, é um item que interessa a todos”, afirmou.Desde dezembro do ano passado a Avianca está em processo de recuperação judicial. Em março, a empresa anunciou o cancelamento de 21 rotas, sete delas em Salvador, até o final de abril. São: Aracaju-Salvador, Salvador-Bogotá, Petrolina-Salvador, Recife- Salvador, Brasília-Salvador, Galeão-Salvador, e Maceió-Salvador.

Esses voos somam 1,2 milhão passageiros na capital baiana. As companhias Azul, Gol, e Latam já manifestaram interesse em substituir a Avianca nessas rotas, uma esperança para trade turístico que tenta respirar mais aliviado.

Dívida No início da manhã desta quinta-feira, a Vinci emitiu um comunicado informando que todos as aeronaves da Avianca estarão proibidas de decolar a partir de segunda-feira (8), caso a empresa não repasse previamente ao terminal as tarifas da taxa de embarque relativas a cada voo.

O diretor-presidente da concessionária explicou que a taxa é cobrada junto com o valor da passagem e depois repassada pelas companhias para o aeroporto. A Avianca deixou de fazer os repasses desde julho do ano passado, o que resultou em uma dívida de R$ 10 milhões. Por enquanto, a decisão vale apenas para os voos de decolagem e não interfere nas conexões.“Não estamos pedindo para Avianca um dinheiro que eles não têm. Eles receberam esse dinheiro do passageiro, então, tudo o que eles têm que fazer é repassar. Eles não têm o direito de reutilizar o dinheiro em outras coisas. A gente confia que a Avianca vai ter consciência em, pelo menos, pagar antecipado para os próximos voos enquanto não paga uma dívida passada que já soma R$ 10 milhões”, afirmou Ribas.Procurada, a Avianca não se posicionou até a publicação desta reportagem. Em nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que “permanece acompanhando com atenção a situação da empresa” e que a Avianca “continua obrigada a cumprir integralmente os regulamentos do setor”.

A Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-BA) informou que não foi notificada oficialmente sobre a situação, mas se colocou à disposição para prestar toda a orientação e informação aos consumidores.

“À Avianca é mantida a obrigatoriedade de dar assistência ao consumidor em caso de atraso ou cancelamento desses voos, porque os motivos não podem atingir a relação de consumo”, explicou o superintendente do Procon na Bahia, Filipe Vieira.

A suspensão afeta as seis rotas que a empresa opera partindo de Salvador: Congonhas (SP), Guarulhos (SP), Galeão (RJ), Maceió (AL), Recife (PE), e Ilhéus (BA). No total, são 13 viagens por dia. Até a última semana de março eram 22 voos, mas o restante foi sendo extinto pela própria companhia nos últimos dias.

O titular da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), Cláudio Tinoco, lamentou a decisão da empresa de encerrar os sete voos de Salvador e disse que a ação é ruim para o turismo da capital e de toda a Bahia.“Perdemos conexões importantes para a cidade e as consequências disso são o aumento das passagens aéreas para locais como Maceió, Aracaju e Rio de Janeiro, além de uma ameaça de queda do fluxo turístico na capital e em todo o estado. Haja vista que 77% dos turistas que chegam a Bahia por via aérea é por Salvador”, afirmou.Serviço Apesar dos transtornos pelo qual está passando, a Avianca é aprovada entre os passageiros. O CORREIO foi ao Aeroporto Internacional de Salvador e repercutiu com clientes da companhia a possibilidade de a empresa não operar mais na capital baiana. A agente de viagens Ariany Cividini, 34, lamentou.

“É uma pena. Viajo sempre pela Avianca, inclusive viemos à Salvador pela empresa. O atendimento de bordo e o valor das passagens mais acessível é o chamariz da companhia. De uma certa forma, quem trabalha no ramo como eu, já esperava que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde”, disse. A agente de viagens Ariany e a família costumam viajar pela Avianca e lamentam a crise (Foto: Marina Silva/CORREIO) Ela chegou à Salvador no dia 27 deste mês, para passar as férias com o marido, o empresário Antônio Carlos Sperança Filho, 40, e o filho, Alexandre Cividini, 12. Já o consultou financeiro Carlos Kawaguti, 44, que veio para Salvador junto com a mulher, a Timey Kamiya, 39, e um irmão disse que estava “tudo tranquilo”.

Para a professora Ana Oliveira de Almeida, 62, a Avianca é a melhor companhia. “As aeronaves são novas, há um espaço maior entre as cadeiras, é a única que ainda oferece lanche gratuitamente”, afirmou.

A Secult informou que essa semana Claudio Tinoco participou da World Travel Market (WTM) Latin America, em São Paulo, e os representantes das companhias aéreas demonstraram interesse em participar do provável leilão da Avianca, previsto para os próximos dias.

A pasta afirmou que os estados brasileiros vivem uma guerra fiscal com relação ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que incide sobre o combustível da aviação, e que a Bahia precisa ser mais agressiva para ampliar a competitividade.

Tinoco defende que haja uma regulação fiscal, inclusive com a participação do Governo Federal, através do Ministério do Turismo, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Fórum Nacional de Secretários Municipais de Finanças e Fazenda visando uma padronização para que o turismo do Brasil não seja prejudicado.

Em nota, a Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz) informou que acredita que as companhias áreas concorrentes vão assumir as rotas operadas pela Avianca e afirmou que, no campo do ICMS, o governo oferece incentivos que aumentam de acordo com a quantidade de voos de cada empresa. “Assim, quem agregar os vôos da Avianca poderá se habilitar a ter maiores incentivos, porque terá maior movimento na Bahia”, diz a nota. A Azul tem a maior malha no estado, segundo a pasta.

Já a Secretaria Estadual do Turismo (Setur) informou, também em nota, que quando a Avianca ingressou na recuperação judicial o alerta indicava que esse processo poderia produzir impacto no mercado, e que as consequências começam agora a atingir as diversas capitais brasileiras onde a companhia opera.“Já está demonstrado o interesse de outras empresas pelos ativos da Avianca o que as levará ao leilão marcado para o próximo dia 18. Torcemos pelo melhor resultado. A meta do Governo da Bahia é ampliar a oferta de voos, com a participação de todas as companhias aéreas, aprimorando a qualidade do atendimento à demanda crescente de passageiros”, diz a nota.Procurada, a Associação Brasileira de Empresas Áreas (Abear) informou que não vai comentar o caso e pediu que a reportagem entrasse em contato com a Avianca.