Cristãos na política

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Dom Sergio da Rocha
  • Dom Sergio da Rocha

Publicado em 7 de setembro de 2020 às 08:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Um dos maiores desafios para o Cristianismo no mundo de hoje é a presença efetiva dos cristãos na sociedade, assumindo com responsabilidade a vida política, econômica e cultural. Os cristãos, em virtude da fé professada e celebrada, não podem assistir com indiferença ou passividade ao desenrolar da história, como simples espectadores ou vítimas. São chamados a serem sujeitos da história, contribuindo para a construção de uma sociedade fundada na fraternidade, na justiça e na paz. À luz da fé cristã, a pessoa humana não pode ser compreendida como vítima de um destino cego que se abate sobre ela de modo inexorável. Ao invés da visão fatalista, o homem e a mulher são chamados a construir a própria vida e a vida social com consciência, liberdade e profundo senso de responsabilidade. 

“Sal da terra” e “Luz do mundo” são expressões empregadas por Jesus, que expressam, com forte simbolismo, o ser e o agir dos seus seguidores no mundo. Não se pode relegar a fé à esfera privada ou ao interior dos templos. Tal postura equivocada ignora que a pessoa humana não pode ser concebida como indivíduo fechado sobre si, sobre sua liberdade e interesse próprio, mas como pessoa aberta ao “Outro”, que é Deus, e aberta ao “outro”, que é o próximo. A abertura ao outro faz parte da natureza do ser humano, o que inclui a sua dimensão social. A fé repercute não apenas nos círculos mais próximos, de cunho familiar ou comunitário, mas se expressa também nos diversos ambientes e situações da sociedade. 

Contudo, é preciso aprofundar criticamente a presença cristã na política e em outros âmbitos da vida social, pois ela não pode ser vista apenas pela ótica quantitativa. O desafio está em atuar na política de modo coerente com o Evangelho, respeitando-se a justa autonomia das instituições religiosas e políticas. Ao invés do proselitismo religioso, do corporativismo e da pretensão de dominação, devem nortear o agir político dos cristãos o respeito, o diálogo e a busca do bem comum, com especial atenção aos que mais sofrem com os problemas sociais. A afirmação da ética na política é tarefa permanente que desafia a todos, políticos e eleitores. 

Apesar da influência condicionante dos diversos fatores na política, é possível contribuir para a construção de novas relações sociais mais justas e fraternas. A participação na política através dos partidos, é muito importante, mas o exercício consciente da cidadania não se restringe à via partidária e ao voto. A atuação da sociedade civil organizada tem-se revelado sempre mais relevante, exigindo maior interesse e participação. É longo o caminho a percorrer, com passos constantes de respeito e diálogo. O caminho da agressividade e da intolerância, nas ruas ou nas redes sociais, representa a negação da política e da própria fé cristã. 

*Cardeal Arcebispo de Salvador