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Cultura passada entre gerações é celebrada em evento no Centro Histórico

Festival de Cultura Popular, organizado pelo Instituto ACM, reuniu artistas e expositores de vários municípios do estado

  • D
  • Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2022 às 18:30

. Crédito: Paul Froes / CORREIO

Já dizia o músico, compositor e pesquisador de Santo Amaro da Purificação, Roberto Mendes: "a arte se faz, cultura se vive". Com a fé, a ancestralidade e um chamado para mostrar ao mundo o que, de fato, a Bahia tem, o primeiro Festival de Cultura Popular foi realizado no Pelourinho neste fim de semana, 

O céu estava completamente acinzentado, coberto por nuvens neste domingo (27), mas o tempo nublado não desanimou os integrantes de manifestações culturai, como a zampiapunga, ou os expositores que colocaram suas produções à venda no Largo de São Francisco. Artistas de várias cidades da Bahia, como Santo Amaro, Acupe, Maragogipe, São Félix, São Bartolomeu, Saubara, São Brás e Maracangalha, além de produtores da capital, expuseram com orgulho suas peças no festival, organizado por iniciativa do Instituto ACM.

Esse é o caso de Daniela Silva, 39, que está no ramo do macramê há dois anos. A empreendedora chegou ao Pelourinho no dia 25. Na barraca colorida, a artesã colocou colares, pulseiras, vestidos e seu carro chefe: as bolsas. "Sou de Marechal Rondon e essa exposição é incrível para mostrar ao público que o artesanato saiu da questão de ser feito apenas em casa, como hobby. Agora é uma profissão, somos todos profissionalizados e respeitados", diz. (Foto: Brenda Viana - CORREIO) Atrás da barraca de Daniela, o ceramista Alonso Rocha, 42, saiu de Maragogipinho e trouxe a Salvador algumas das peças que faz em sua cidade natal. Com orgulho, ele comenta que o público tem gostado de uma peça em questão: as gordinhas. "São sucesso em minha barraca e tem dado um retorno financeiro bom, mesmo com essa chuva".

O distrito do município de Aratuípe, Maragogipinho, é considerado o maior produtor de cerâmicas da América Latina, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O distrito recebeu a menção honrosa de "Maior centro cerâmico da América Latina", em 2004, para o orgulho dos nativos da região. (Foto: Brenda Viana - CORREIO) Samba de raiz 

Enquanto isso, grupos de Maragogipe, cidade que fica a 130 km de Salvador, marcaram presença nos três dias de festival. Um deles, os Mascarados de Maragogipe, subiram no palco por volta das 10h40 e iniciaram o cortejo pelas ruas do Centro Histórico, levando crianças, pais e idosos com o samba de marchinha.  (Foto: Paula Froes - CORREIO) (Foto: Paula Froes - CORREIO) Uma hora depois, o tradicional Samba de Maragogó, ideal para dançar no passinho e com a mão na cintura, subiu ao palco e levou embora - ao menos por um tempo - a garoa que insistia em cair e trouxe um mormaço que só o baiano compreende, além daquela palminha típica do Recôncavo que boa parte do público já identifica que vem música boa por aí. As saias das sambadeiras rodavam a cada nota musical e abrilhantaram a tradição do samba de roda, mostrando para a nova geração o que os ancestrais deixaram como herança cultural. Samba de Maragogó (Foto: Paula Froes - CORREIO) O pedagogo e produtor cultural de Maragogipe, Paulo Fernandes, trabalha no ramo há 17 anos e conseguiu levar para o Largo de São Francisco vários grupos importantes, como Os Mascarados, Bumba Meu Boi e a Burrinha, o Samba de Maragogó, além do Samba de Maracangalha, que é composto apenas por mulheres. Para ele, essa iniciativa foi essencial para que o povo do Recôncavo se sentisse acolhido pela capital."Sou um amante da cultura popular, tenho prazer em fazer esse trabalho e difundir a cultura do Recôncavo. Tivemos várias reuniões nas comunidades praieiras, quilombolas, explicando a eles como seria realizado e estamos felizes com a primeira edição do festival, além dos próprios artistas que estão podendo mostrar suas culturas que, muitas vezes, ficam retidas apenas às cidades e comunidades que moram. Tem mais de 500 pessoas envolvidas e houve toda uma articulação para que o pessoal saísse do recôncavo e viesse à capital", comenta. Dona Cadú no Festival de Cultura Popular (Foto: Edu Alves) 102 anos puro aprendizado

Em uma dessas apresentações, o palco do Pelourinho teve a honra de receber Dona Ricardina, mais conhecida como a mestre de cultura popular Dona Cadú. Aos 102 anos, a idosa moradora da localidade de Coqueiros do Paraguaçu, distrito do município de Maragogipe, recebeu diversas homenagens por sua vasta contribuição à cultura do recôncavo. 

Durante toda vida, ela trabalhou como ceramista e fez artefatos de cerâmica e argila para sustentar a grande família, além de deixar seu legado para filhos e netos. No sábado (26), Dona Cadú expôs suas obras e ainda teve uma apresentação especial dos 'Filhos de Dona Cadú', sendo ovacionada pelo público presente. O produtor Edu Alves, que já acompanha Dona Cadú há anos, reforça a importância da ceramista para o Recôncavo: "Uma pessoa com amabilidade fora do comum e com o comportamento de matriarca. É uma honra recebê-la aqui".

Além dos expositores com peças e grupos de artistas no palco, também ocorreu o roteiro gastronômico ‘Caminho da Comida Afetiva do Recôncavo’. A turista de São Paulo, Marilene Soares, 55, revelou que nunca tinha experimentado maniçoba e ficou encantada com a riqueza de temperos. "Vim com meu filho e estamos apaixonados. São comidas que a gente acaba não tendo no sul e sudeste. É necessário, ao menos uma vez na vida, ter essa experiência".

Três dias de cultura

O evento, que começou no dia 25, reuniu diversos grupos culturais de várias cidades, além de Salvador. No primeiro dia, o público que passeava pelas ruas do Pelourinho pode acompanhar cortejos com a Banda Didá, Filhos de Gandhy com baianas, além de reverenciar ao sagrado com uma missa que aconteceu no Rosário dos Pretos. No dia seguinte, os Pierrot's de Plataforma abriram o evento. Ao longo do festival, também se apresentaram Caretas do Acupe, Samba de Roda João do Boi, Nego Fugido, roda de capoeira e o cantor Roberto Mendes. 

Um dos produtores do festival, Aétio Filho comemorou o sucesso do evento, mesmo com a grande chuva que caiu no início da tarde. "O desafio maior foi passar pela curadoria. Identificar e selecionar tantas manifestações culturais da Bahia. Mesmo com esses dias chuvosos, conseguimos resultados incríveis com turistas levando a cultura da Bahia para outros estados e países", disse. 

Parceria Instituto ACM

Atuando não só em Salvador, mas como em toda Bahia, o Instituto ACM realizou o primeiro Festival de Cultura da Bahia focado no Recôncavo, principalmente para revitalizar e fortalecer as manifestações que são importantes para manter forte a ancestralidade do estado. Com a riqueza e a pluralidade que só a Bahia tem, a diretora executiva do Instituto,Cláudia Vaz reforçou que é necessário evidenciar esses municípios que têm uma vasta cultura escondida."A gente tem 417 municípios na Bahia. É um estado muito grande, que tem riqueza demais. Escolhemos municípios do Recôncavo para iniciar o projeto porque estamos mais perto deles, mas, ao mesmo tempo, estamos distantes, porque são manifestações diferentes em cada lugar. Há linguagens próprias, danças, músicas. Então, a gente precisa trazer a Salvador essa cultura para os soteropolitanos. Precisamos preservar a nossa história. O povo não vive sem memória", disse.Com as raízes culturais passando de pai para filho, de tia para sobrinho, de família para família, o evento pretende rodar pelo estado à procura de outras culturas que ainda estão escondidas e que têm muito para ensinar. "Essas tradições familiares que vêm dos interior não foram criadas agora, pelo contrário. Precisamos manter viva essa história da Bahia", completou.