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Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2019 às 15:00
- Atualizado há um ano
Salvador é a cidade mais negra fora da África e, ali na cidade alta, pertinho da Liberdade, o bairro do Curuzu, famoso por sua ladeira e reconhecido internacionalmente por conta do Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil, respira cultura e africanidade. Recentemente, o prefeito ACM Neto assinou a ordem de serviço para o início das obras de requalificação urbana do local, mas, além da transformação no espaço, o nosso principal objetivo é promover uma verdadeira transformação social. Tema de clássicos da música baiana, a Ladeira do Curuzu é um símbolo da luta do povo negro. O local representa a força da nossa cultura, música e das nossas raízes africanas. O Curuzu é o coração da negritude da capital baiana e com a revitalização, queremos mostrar para o mundo a representatividade desse bairro. O trecho de 1,1 km, que vai desde a Avenida General San Martin à Estrada da Liberdade, será reformado e vai ganhar nova pavimentação com piso intertravado que terá cores com alusão ao Ilê. Serão implantados também parque infantil, rampas acessíveis, uma nova escadaria, novo paisagismo e instalação de marcos de acesso. Além dessas intervenções urbanísticas, o Curuzu vai fazer parte de um projeto criativo, transformando-se em um verdadeiro corredor cultural com o propósito de reforçar e impulsionar a história, tradição e cultura afro-brasileira. As paredes vão dar lugar a murais de grafite, as ruas serão tomadas por artistas e expositores, e será possível visitar restaurantes temáticos, centros de estética e loja de moda negra. As obras vão dar uma repaginada no local, mas, o que queremos renovar mesmo é autoestima dos moradores. Queremos que o morador do Curuzu tenha orgulho e bata forte no peito para dizer de onde vem, de onde é. Queremos que o Distrito Cultural do Curuzu se transforme em um reduto dos negros na capital baiana e que seja um espaço visitado internacionalmente como acontece mundo afora na U-Street, em Washington DC, Bourbon Street, em Nova Orleans, Castro, em São Francisco e Soweto, em Johanesburgo. Essa revitalização vai trazer mudanças importantes do ponto de vista urbanístico, além de valorizar a história e a cultura do Curuzu e de seus 23 mil habitantes. Mas, os sentimentos de reconhecimento e valorização não vão ficar apenas no inconsciente. Além da melhora da autoestima de quem reside na região, as mudanças serão tangíveis com a redução da violência no local, melhoria da mobilidade e o aumento de geração de renda. O Curuzu é o berço e resistência do nosso povo e era preciso fazer algo para ser motivo de orgulho para os moradores e negros de todo o mundo. Ao reconhecer isso, passamos a idealizar um espaço que representasse a identidade negra e pudesse trazer o sentimento de pertencimento. Quando o projeto do Distrito Cultural do Curuzu foi apresentado ao Prefeito ACM Neto, ele abraçou a ideia de forma imediata. Ele teve sensibilidade para reconhecer a importância de uma ação como essa, a necessidade de valorizar a tradição do lugar e criar em Salvador um reduto do povo negro, onde essas pessoas possam se sentir acolhidas e representadas. Agora, o palco do mais belo dos belos vai se transformar em um lugar para se reconectar com suas raízes e também trazer à tona as questões contemporâneas da negritude. E pode apostar: depois da obra, subir a ladeira do Curuzu vai ter muito mais significado e também vai ser uma coisa linda de se ver.
Sérgio Guanabara é Secretário Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de reponsabilidade dos autores