Custou caro: após domingo de aglomeração, Orla da Barra será fechada por uma semana

Interdição será similar à que aconteceu na Pituba

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  • Gil Santos

Publicado em 15 de junho de 2020 às 11:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho

O prefeito ACM Neto anunciou que a orla da Barra será fechada por sete dias, a partir desta terça-feira (16). O trecho interditado vai do Porto da Barra até a área de Ondina. A decisão foi tomada depois que uma multidão se aglomerou no bairro no último fim de semana. A cena foi registrada por algumas pessoas e viralizaram nas redes sociais.

"A praia já está interditada, agora vamos interditar o calçadão. Então, nesses sete dias só terão acesso ao local os moradores", disse, durante entrevista coletiva para apresentar a atualização dos dados sobre o novo coronavírus na cidade e anunciar as novas medidas de restrições.

Neto contou que a interdição será somente da Orla, e que as ruas do bairro estarão livres. Moradores poderão transitar de carro na região desde que apresentem comprovante de residência. O gestor garantiu que o acesso ao Hospital Espanhol, referência para pacientes com covid-19, ficará liberado. 

“Após as imagens divulgadas ontem pela imprensa, nós tomamos essa decisão. Não tem jeito, infelizmente. Fazer aglomeração no Farol, gerar multidão nas ruas, é injustificável”, afirmou. "Quer fazer seu exercício? Bota a máscara e vai. Não precisa aglomeração".

Até este domingo (14), Salvador tinha 19.860 casos confirmados de covid-19, com 742 mortes. A taxa de contaminação caiu para 3,7%, mas, mesmo com esse percentual, a estimativa é de que até o dia 30 de junho serão 44 mil infectados com o novo coronavírus na capital baiana. Neto cobrou mais responsabilidade dos soteropolitanos."Se fosse feito com respeito, usando máscara, tudo bem. Atividade ao ar livre sem aglomeração tem risco bem menor de contaminação que atividade em ambiente fechado. Não seria um problema. Passa a ser um problema porque as pessoas não respeitam as regras", disse.Salvador está com 84% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 75% das acomodações clínicas da rede pública ocupados. Na rede privada a taxa caiu de 85% para 79%. Ontem, 40 pessoas foram reguladas das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para unidades hospitalares, e sete ainda aguardam pela transferência.

O fim de semana foi mesmo movimentado. De acordo com os dados da prefeitura, 73% dos motoristas que costumam sair de casa aos domingos estavam nas ruas ontem. Esse percentual é um dos maiores desde o início da pandemia. No transporte público, 33%, dos passageiros usaram o serviço, a mesma taxa das últimas semanas.

ACM Neto destacou que dos 33.119 testes rápidos aplicados em Salvador do início da quarentena até domingo, 6.013 deram positivo para covid-19. Ele voltou a falar da possibilidade de retomar as medidas de isolamento setorizado em bairros que já passaram por essas restrições, e disse que dos 8.727 novos casos que surgiram em junho, 4.271 foram registrados apenas nos últimos sete dias.

Movimento na Barra Presidente da Associação de Amigos e Moradores da Barra (Amabarra), Waltson Campos relata que a situação do vídeo que motivou a decisão da prefeitura já vinha acontecendo há pelo menos outros dois fins de semana, quando as chuvas na capital começaram a dar uma estiada.“Vem crescendo a aglomeração a cada fim de semana mais ensolarado. Isso nos preocupa porque a gente percebe que as pessoas estão relaxando o isolamento e a guarda também vem relaxando a fiscalização”, aponta. Para ele, a simples interdição do calçadão pode não ser suficiente para fazer o pessoal ficar em casa. De acordo com o morador, tem gente indo para ver o pôr-do-sol e para consumir cerveja na Praça dos Tamarineiros ou sentados na balaustrada, já que as praias estão interditadas. Durante os dias úteis ele ainda relata que vem acontecendo um movimento de pessoas se exercitando na região, ainda que usando máscaras e mantendo um distanciamento social. 

“Se você andar pelas ruas, vai ver que não é um problema só da Barra, é porque naturalmente a Barra chama atenção. Mas Rio Vermelho, Pituba, Itapuã, está geral isso aí. É como se não estivéssemos numa pandemia”, comenta.

Moradora da Barra há 15 anos, a autônoma Camila Santana, 34, criticou o comportamento dos frequentadores do bairro. “Eu vejo da janela de casa a quantidade absurda de pessoas que andam para lá e para lá em vários momentos do dia. Aqui fica lotado de manhã, no fim da tarde e à noite, muitas vezes com pessoas sem máscaras, correndo em grupo, indo até para a praia. Ontem mesmo tinha um grupinho no Porto. Parece que nada está acontecendo”, criticou.

Morador do prédio vizinho, na Ladeira da Barra, o estudante Paulo Arthur, 23, disse compreender a decisão da gestão municipal, mas admitiu que vai sentir falta de respirar o ar livre. "Sei que não pode sair, mas de vez em quando eu descia pra respirar um pouco, mas sempre quando a rua estava vazia. O problema é que tem horário de pico, quando isso aqui lota de gente, aí começa a ficar perigoso".

* Colaborou Hilza Cordeiro