Da invasão da embaixada à sexualidade do príncipe

Questões sem relevância contaminam o debate público no país

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  • Divo Araújo

Publicado em 17 de novembro de 2019 às 07:00

- Atualizado há um ano

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Aliados de Juan Guaidó entraram em confronto com partidários de Maduro na entrada da embaixada (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo) Na quarta-feira, os brasileiros acompanharam, desde as primeiras horas da manhã, a notícia de que a Embaixada da Venezuela foi invadida em Brasília. Muito confuso de início, o imbróglio começou a ser esclarecido à medida que o tempo passava. Um grupo de 15 pessoas, entre eles alguns brasileiros, ligado ao autoproclamado presidente venezuelano, Juan Guaidó, conseguiu entrar na representação diplomática. Teve briga fora da embaixada, a Polícia Militar foi acionada e usou spray de pimenta para conter as pessoas que tentavam derrubar o portão.

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela atribuiu às autoridades brasileiras uma “atitude passiva” diante da invasão. De início, o Itamaraty disse que “não estava claro se houve uma invasão ou se uma parte dos diplomatas que representam o governo Maduro desertaram”. Mas, depois em nota, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) negou participação do governo no episódio, que qualificou de “fatos desagradáveis”. E acusou: “Como sempre, há indivíduos inescrupulosos e levianos que querem tirar proveito dos acontecimentos para gerar desordem e instabilidade”.

A confusão ocorreu no dia em que o presidente Jair Bolsonaro recebeu líderes de China, Rússia, Índia e África do Sul, na capital federal, para a cúpula do Brics. Mas, da mesma forma inesperada que começou, a ocupação terminou, no final do mesmo dia, sem ninguém saber explicar exatamente qual era a intenção dos invasores. Sobrou o bate-boca, baseado em suposições e preconceitos, que dominou por horas o debate público (sobretudo digital) e depois desapareceu sem deixar rastros ou maiores consequências.

A própria cúpula do Brics, aposta certa para fugir de uma semana marcada por assuntos barulhentos e irrelevantes, terminou sem dizer para que veio. Juntos, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul representam um terço da economia mundial e cerca de 40% da população. Mas seus mandatários, no documento final do encontro, preferiram evitar assuntos conflitantes. 

Dessa forma, não houve nenhuma palavra sobre as crises que têm agitado o continente americano. Restou, no documento, apelos genéricos para fortalecer a cooperação comercial, referências a soberania ambiental e menções aos conflitos na Síria, Afeganistão e Iêmen, a ameaça nuclear da Coreia do Norte e a crise humanitária do Sudão.

Sobrou para a opinião pública acompanhar a polêmica sobre a sexualidade do príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, a quem Bolsonaro disse preferir que tivesse sido seu vice no lugar de Hamilton Mourão. Sinal dos tempos, coube ao deputado federal Alexandre Frota (PSDB) negar essa versão. Segundo ele, o herdeiro do trono real brasileiro deixou de ser opção porque teria circulado um dossiê sobre sua homossexualidade. Em áudio distribuído a correligionários, Orleans e Bragança garantiu: “Eu não sou gay, nem sei onde é que faz suruba gay”.

Diante dos dossiês, invasões e outras questões do gênero ninguém mais parece interessado em saber de onde, afinal, partiu o petróleo cru que ainda ameaça as praias e mangues do Nordeste, principalmente. E o navio de bandeira grega Bouboulina, apontado de forma conclusiva em investigação da Polícia Federal como o responsável pelo desastre ambiental? Foi mesmo ele? E, se foi, será chamado à responsabilidade?

Enquanto essas (relevantes) questões seguem sem respostas, pelo menos uma boa notícia:  o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, anunciou essa semana que deixou as redes sociais por pelo menos um mês. A saída foi aplaudida de pé por quase 500 representantes do mercado financeiro que participavam de um seminário em São Paulo. Pelo menos um motivo para comemorar.

O testemunho de um pai

As palavras de um pai que testemunha o filho, portador de autismo, ser morto com um tiro na cabeça tem que ter credibilidade. E nas palavras do tesoureiro Juarez Conceição, 46 anos, a morte de Natanael de Araújo Conceição, de 17 anos, foi resultado da ação desastrosa de dois policiais rodoviários federais que perseguiam um criminoso que tinha acabado de executar um motorista de aplicativo em Pirajá, na quinta-feira. O bandido também foi morto na ação. Ele contou que chegou a implorar aos policiais que não atirassem.  “Por favor, não atirem, meu filho está aqui dentro. A gente não é bandido”, lembrou ele. O corpo do adolescente foi enterrado, na última sexta-feira, no Bosque da Paz.

A difícil vida das mães negras solteiras

Elas não têm vida fácil: 75,1% das mulheres negras, sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos, estão abaixo da linha da pobreza na Bahia, vivendo com menos de R$ 413 por mês. De acordo com o censo do IBGE, divulgado na quarta-feira, em 2018 um total de 682 mil baianas estavam nessa situação. “Há uma tradição patriarcal muito forte no Brasil, coincidente em todos os setores sociais da sociedade, que tem uma cultura machista que produz uma relação de baixa responsabilidade paterna, fazendo com que as mulheres tenham que assumir a gestão dos filhos”, explica o advogado e professor universitário Samuel Vida, em reportagem do CORREIO.

Mas nem tudo são más notícias. A mesma pesquisa do IBGE revelou que é maior a presença de estudantes nas universidades públicas que se declaram pretos e pardos. Hoje, são 50,3% de pretos e pardos nas instituições de ensino contra 48.2% de brancos e 1,5% de indígenas e amarelos.

Frase: A atriz Camila Pitanga assumiu namoro de um ano com artesã (Foto: Divulgação) Estamos em 2019, acho que com tantos avanços e conversas e informação, é impossível que alguém não entenda ou não respeite o fato que todo ser humano é livre para amar quem quiser' (Camila Pitanga).Atriz comentou pela primeira vez seu namoro com a artista Beatriz Coelho. Com naturalidade, ela explicou que o namoro surgiu 'como qualquer outro, depois de um interesse mútuo e tempo de conversa e conhecimento'.

Baiana na fila para ser santa

1- Aberto o caminho da beatificação O Vaticano autorizou a abertura do processo de beatificação de mais uma baiana: Madre Vitória da Encarnação, que viveu no Convento de Santa Clara do Desterro, em Nazaré no final do Século XVII e início do Século XVIII

2 - Processo será mais lento O reconhecimento da freira como santa, no entanto, não vai seguir o ritmo da canonização de Santa Dulce dos Pobres, terceira mais rápida da Igreja Católica. Isso pela óbvia impossibilidade de obter  testemunhos dos  que conviveram com ela no Brasil

3 - Relato de milagres Os supostos milagres de Madre Vitória foram   narrados na biografia feita pelo então arcebispo da capital baiana, Dom Sebastião Monteiro da Vide Forças de segurança da Bolívia reprimiram ato pró-Evo Morales a tiros, afirmam manifestantes (Foto: Ronaldo Schemidt/AFP) Desproporcional

Se tem um traço que une os movimentos que põem fogo nos países da América Latina, nas últimas semanas, ele é a violenta repressão aos manifestantes. O Chile já registrou 23 mortos desde que as ruas do país foram tomadas pelos protestos. Denúncias sobre a violência policial se multiplicam. Na Bolívia, o confronto entre as forças de segurança  e apoiadores do ex-presidente exilado Evo Morales já deixou nove mortos. A Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, denunciou o uso “desnecessário e desproporcional” da força nos dois países.