Da praia para a Colina: chapéu modinha do Verão bombou na Lavagem do Bonfim

CORREIO foi atrás de pessoas que entraram na moda do chapéu que virou febre em Salvador

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 18 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Vinícius Nascimento/CORREIO

Chapéus e bonés são ótimos aliados na hora de enfrentar um sol como o que fez em Salvador durante a Lavagem do Senhor do Bonfim, que aconteceu na última quinta-feira (17). Mais ainda para quem enfrenta a a caminhada de 8 km da Conceição da Praia até a Colina Sagrada. E, quem passou pela festa ontem, com certeza percebeu um protagonista em comum na festa: o tal chapéu da moda que está bombando nas praias do Verão e agora subiu a Colina Sagrada. 

Trata-se apenas de um chapéu de palha, tipo aqueles de pescador, só que decorado com uma fitinha preta contornando bordas, um cordão para segurar o chapéu nas costas quando não estiver em uso e, por fim, uma bolinha colada na parte de cima trazendo alguma frase. Normalmente, algo bem típico da Bahia. “Não aperte minha mente”, “E aí, pivete”, “Qual foi, man?!”  e 'Não aperte a minha mente' foram algumas das expressões vistas nas ruas da Cidade Baixa. Frases com 'recadinhos' bombaram nas decorações dos chapéus Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO Morador do Uruguai desde que nasceu, tudo que o técnico de manutenção Adriano Reis não queria no dia de sua festa preferida era aperto de mente. Ele foi mais um entre vários fiéis a aderir à moda do chapéus da moda.

Mãe de Adriano, a dona de casa Tânia Regina denunciou "esse aí ele ganhou de uma nêga ali na frente!". De imediato, ele respondeu que a moça apertou demais sua mente e, por conta disso, o amor de Bonfim se limitou a um beijo e um chapéu.

Também tem aqueles que não entram na moda. Foi o caso do artista Victor Kabod, o diferentão da galera que o acompanhava rumo à Colina. E o título de diferentão nem era apenas pelo fato dele ser o único da turma a abrir mão do chapéu durante a lavagem.

Aos 25 anos, ele era o único artista no bonde formado por três militares da Marinha: Erivelton Oliveira, Leonardo Jesus e Alisson Kesnei. Apesar das diferenças, a turma se dá bem: há cinco anos estão juntos em todo o dia de lavagem para tomar uma, paquerar e exercitar um pouco a fé. Victor (à esquerda) foi o único no grupo de amigos a não usar chapéu durante a lavagem. Foto: CORREIO Ao que tudo indica, a moda já ganhou a Bahia. A prova viva dessa afirmação é do vendedor Rômulo Pereira, 22, que saiu de Jacuípe para vender algodão doce na lavagem. Às 16h ele chegou ao Largo de Roma e partiu em direção à Colina Sagrada para fazer seu ganha-pão. O chapéu? Ah, ele comprou para proteger do sol, mas como ele mesmo disse... não custa nada trabalhar na moda.“Vim de longe, mas vim na moda. Tem que trabalhar bonitinho, pai”, contou aos risos.Bom para quem usava e melhor ainda para quem estava vendendo os chapéus. Com a fé do Senhor do Bonfim os amigos de longa data Antônio Carlos e Cléris Cerqueira saíram da Liberdade às 4h da manhã e tinham a Igreja da Conceição da Praia como primeira parada. No carrinho improvisado eles tinham mais de 500 chapéus, colares do Gandhi e fitinhas do Senhor do Bonfim.  Rômulo saiu de Jacuípe para vender algodão doce na Lavagem. Foto: CORREIO O dia foi longo, as andanças foram parar na Colina Sagrada, mas após mais de 12h de labuta a avaliação do dia foi com sorriso aberto. Venderam mais de 400 chapéus. O da moda não sobrou nenhum e, às 17h, quando já estavam no Dendezeiros o carrinho só tinha alguns chapéus panamá. 

Antônio Carlos, 56, trabalha na Lavagem há 40 anos. Seu amigo Cléris, 38, está na festa há pelo menos 20. Os chapéus da moda eram vendidos a R$ 20, os outros variavam entre R$10 e R$15.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier