Da próxima vez, é só tocar Maria Bethânia

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  • Kátia Borges

Publicado em 8 de novembro de 2019 às 13:36

- Atualizado há um ano

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Para aprender a escrever poesia, Hilda Hilst recomendava ler livros de filosofia. Só assim – “o incompreensível se fazendo ordem” –, seríamos livres das palavras, e não seus escravos. Mas, na verdade, nem a teoria escapa. A cada estação, discutiremos novo conceito que logo será esquecido. Estamos perdidos.

“A terra é mais do que dígitos”, diz o filósofo sul coreano Byung-Chull Han, autor de Sociedade do Cansaço, em entrevista ao El País. Livro da vez, sua abordagem ao contemporâneo remete ao Discurso da Servidão Voluntária, de Étienne de La Boétie, editado pela primeira vez no Brasil em 1982, pela Brasiliense.

Resgatado pelo historiador Leandro Karnal em suas palestras, o texto de La Boétie chega ao nosso século reafirmando-se como parâmetro – à servidão virtual, por exemplo. “A que azar, pois, se deverá que o homem, livre por natureza, tenha perdido a memória da sua condição e o desejo de a ela regressar?”, questiona o filósofo.

Pensar, frequentemente, é um incômodo. Tente imaginar como seria a história do planeta na perspectiva dos animais sem morrer de vergonha, por exemplo. Outro dia, conversando sobre a passagem do tempo e o discurso, caí na besteira de citar um filósofo. Um dos interlocutores fez ar ostensivo de enfado.

Qualquer raciocínio, minimamente elaborado, orquestra bocejos coletivos. Da próxima vez, é só tocar Maria Bethânia, repetir o mantra de Aquarius: “mostra que tu é intenso”. Vivemos uma época de conformismo radical, alerta Byung-Chull Han. Nessa era, que ele chama de “dataísmo”, servimos aos meios.

Somos presas fáceis dos algoritmos, e sabemos disso. Enquanto nos orgulhamos de possuir algum domínio sobre os meios, são os meios que nos investigam. As redes sociais funcionam como aqueles resorts all inclusive caríssimos nos quais já estão embutidos os preços de tudo que parecemos consumir de graça.