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Em junho, grupo acusou outra montagem de racismo
Gil Santos
Publicado em 11 de setembro de 2019 às 05:30
- Atualizado há um ano
Foi no pequeno espaço entre o muro da Escola de Teatro da Ufba e a Avenida Araújo Pinho, no Canela, que o grupo Dandara Gusmão fez o último ensaio do espetáculo Pretato, antes da estreia no Teatro Martim Gonçalves, da própria faculdade, nesta quinta-feira (12). Desde 2017, a peça é encenada na calçada, por conta de uma polêmica envolvendo os atores do grupo e a direção da escola.
Racismo, feminismo e assédio serão alguns dos temas trabalhados e que serão discutidos na apresentação desta quinta, que é gratuita e começa às 19h. A montagem é composta por cenas independentes, diálogos curtos e poemas.
Segundo os organizadores, a peça foi proibida de ser encenada dentro do teatro porque estava atraindo “público demais”. O grupo foi acusado de provocar desordem. Desde então, todas as terças-feiras, a montagem acontece na calçada da instituição .
Os atores começaram os ensaio com lonas pretas no fundo, algumas cordas e a iluminação era a dos postes do entorno. Agora, têm um piso mais adequado, iluminação própria e bancos para o público. Tudo parece bastante improvisado, e realmente é, porque eles insistem em resistir.
“A ideia do espetáculo é destacar o protagonismo negro. Podemos ter atores brancos em cena, isso não é problema, mas tem que ficar claro que esse espaço é para os talentos negros. Por isso, o nome Pretato”, explicou um dos organizadores, que pediu para não ter a identidade divulgada. “Queremos que o Dandara Gusmão seja o destaque, para evitar que as nossas imagens sejam personalizadas”, explicou.
A possibilidade de encenar Pretato no palco principal é vista pelos integrantes como uma conquista, mas não representa o fim da polêmica. “Muitas pessoas acham que nós voltamos para dentro do teatro, mas não. Essa quinta-feira será uma ação específica”.
A apresentação desta quinta-feira acontece um dia antes do início da Virada Cultura, evento da Escola de Teatro da Ufba com 24 horas de apresentações. Ele começará às 23h59 da próxima sexta e terminará às 23h59 do sábado. A entrada é gratuita.
Os integrantes do Dandara Gusmão contaram que conversaram com os organizadores do evento e que eles cederam o espaço para a apresentação. A volta do grupo ao Martim Gonçalves acontece três meses depois da polêmica envolvendo a apresentação de outra peça no mesmo espaço.
Em junho, os atores do coletivo, interromperam o espetáculo Sob as Tetas da Loba, que estava acontecendo no teatro, acusando a montagem de racismo. O caso dividiu a opinião de estudantes e professores, e provocou um debate acirrando na universidade.
Uma das consequências foi a formação de um grupo de estudos formado por professores, representantes dos alunos, dos técnicos e da sociedade civil para discutir as questões raciais que envolvem a universidade, em especial a Escola de Teatro.
O grupo está operando desde agosto, e realiza reuniões a cada 15 dias. As principais ideias e sugestões serão compiladas em uma carta que será entregue à reitoria da universidade em 20 de novembro, como uma celebração pelo Dia Nacional da Consciência Negra.
Na próxima semana, o Pretato volta à calçada, nas terças, às 19h.