Dark Kitchen: restaurantes virtuais viram tendência no vasto mundo da gastronomia

Baixo investimento, equipe enxuta e aposta nas redes sociais têm feito crescer o número de restaurantes sem endereço físico

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  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 12 de julho de 2020 às 11:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Nem adianta procurar pelo CEP, no Google Maps, muito menos nas ruas da cidade. Eles não têm salão, garçom, maître, muito menos letreiros nas fachadas. Só existem no mundo.com, ou seja, na  internet. Estamos falando dos restaurantes virtuais, também apelidados de fantasmas, que estão construindo histórias de sucesso nas redes sociais. Neste território, reinam absolutos, concentram milhares de seguidores e, claro, uma considerável carteira de clientes. 

Este novo mercado, chamado de Dark Kitchens, até já existia timidamente no passado, mas ganhou força e se popularizou  com os aplicativos de entrega de comida. Se, quando a cidade oferecia centenas de opções de restaurantes, eles já tinham sua receita garantida, com a pandemia, ganharam corpo e ampliaram a clientela. 

Que o diga as amigas Maria Carvalho e Isabel Campos que, lá em 2015,  enxergaram no ambiente virtual  a oportunidade  de empreender.  Depois de muita pesquisa, decidiram apostar na culinária japonesa, já em voga naquele tempo. Nascia ali, em julho daquele ano, o restaurante Nozu (@nozudelivery), no formato exclusivo de delivery. “Nossa ideia era revolucionar o sistema de delivery de culinária japonesa em Salvador. (Divulgação) Kit vegetariano do japonês Nozu Criamos um serviço com foco na agilidade e na qualidade, desde o atendimento até a entrega, trabalhando com produtos frescos e de excelência. Meses depois já percebíamos um crescimento na demanda em torno de 300%”, diz Maria Carvalho.

O Nozu tem um cardápio sofisticado, elaborado pelo chef Adelson Sátiro, também sócio do negócio. “Trabalhamos com opções tradicionais da culinária japonesa, como sushis, sashimis, além de pratos quentes e inovações criadas pelo nosso chef”, conta Isabel Campos. A marca, que hoje conta com quase 30 mil seguidores no Instagram, caiu no gosto do público. Desde que começou a pandemia, segundo Isabel, houve um aumento de 25% na procura. 

(Divulgação) Tempurá de couve com lagosta no cardápio do Nozu  O chamado território de ninguém, a internet, é também o endereço do Rangaço (@rangaco.co), restaurante especializado em comidinhas e sanduíches. Comandado pelo chef Gabriel Pontes, pupilo dos estrelados Alex Atala e Henrique Fogaça, o restaurante se materializou neste formato, segundo o chef-proprietário por razões de custo.

“Passei três anos viajando pelo mundo e estava na hora de me assentar, então investi neste projeto que vem dando certo e ainda por cima tenho autonomia de criar lanches autorais, nos quais posso dar uma pitada do que aprendi nas minhas andanças e vivências”, diz o chef pós-graduado na Le Cordon Bleu do Peru.  (Foto:Isabel Abreu/Divulgação) Sanduba Completaço: sucesso no cardápio do Rangaço No cardápio do Rangaço o cliente encontra desde entradas como os Patacones do Sertão (bolinhos de mandioca e queijo coalho com molho apimentado), até rangos mais substanciosos como o Do Sol, que consiste num corte de fraldinha grelhada na manteiga de garrafa e seus acompanhamentos, no formato sanduba. (Foto:Isabel Abreu/Divulgação) Patacones do Sertão está no menu autoral do Rangaço  Folha de pagamento enxuta, investimento baixo e amor pela gastronomia. São estes os pontos em comum entre estes empreendedores e onde suas histórias se cruzam. O farmacêutico Mauro Andrade Santos, atua na sua área desde que se formou, mas sempre teve uma forte ligação afetiva com a cozinha: “Gostava de cozinhar para os amigos e estes, sempre pediam a feijoada que eu fazia.  Foi então que, com a ajuda de meu irmão, que hoje mora fora, criamos a Feijoart (@feijoart) e passamos a atender só nos finais de semana”.   (Divulgação) Kit de feijoada da Feijoart para duas pessoas  O negócio prosperou, a demanda cresceu e Mauro teve que criar uma cozinha industrial no andar térreo de sua casa, na Avenida Jorge Amado, para atender a clientela. A logística, além do infalível boca a boca, foi toda ancorada nas redes sociais. Deu certo. Com a pandemia, a demanda pelo kit de feijoada para duas pessoas, cresceu quase 100%, mas ele não pensa em ampliar o que hoje funciona com a ajuda de apenas quatro diaristas. (Divulgação) O cliente recebe o kit da Feijoart em caixa de papelão com itens em separado Para agilizar as entregas dos kits, que chegam à casa do cliente numa caixa padronizada, com os itens embalados separadamente, Mauro convocou seis motoboys para garantir a entrega, que já chegou até 100 pedidos no domingo. O kit é composto de feijão, carnes, linguiça, torresmo, couve com bacon, farofa, pimenta e até laranja fatiada, como manda a tradição. “Estou satisfeito, por enquanto, prefiro deixar como está”, afirma.  (Divulgação) O Pernil da Joe chega na casa do cliente em embalagem especial Trabalhar com um prato único, segundo alguns destes pequenos empresários, facilita a operação. Foi por isso, e para não atrapalhar um outro negócio já consolidado, o Bolo da Luz, que Joelia Simples apostou numa outra das suas especialidades: o pernil de cordeiro. O negócio, que nasceu durante a pandemia por demanda dos amigos, ganhou logomarca própria, embalagens padronizadas, conta no Instagram e clientes. Muitos clientes: “Uma semana antes do último Dias das Mães, preparei 20 kits e enviei para amigos, formadores de opinião e influenciadores digitais. As pessoas foram postando no Instagram e no final de semana seguinte já tinha 70 pedidos”. 

A ideia, diz Joelia, era funcionar apenas nos finais de semana, mas com o sucesso do novo negócio, que é tocado por ela e mais dois auxiliares,  teve que ampliar o atendimento para a semana inteira. O segredo? “Trabalhamos com caprinos certificados com selo orgânico e uma receita de família, além de muito amor pela cozinha”. 

Para ela, que tem diploma de gastronomia e se firmou profissionalmente vendendo seus bolos na Igreja de Nossa Senhora da Luz, tudo é feito com muita dedicação. E a ajuda das redes sociais, onde começou a história do Pernil da Joe (@pernildajoe).  (Divulgação) Pernil da Joe, de Joelia Santos, vem com batatas rústicas  Para ela, que tem diploma de gastronomia e se firmou profissionalmente vendendo seus bolos na Igreja de Nossa Senhora da Luz, tudo é feito com muita dedicação. “E a ajuda das redes sociais, onde começou a história do Pernil da Joe, esta nova aposta que está só começando”.  (Divulgação) Aji peruano da Cozinha Amélia Falando em começo,  o caçula deste modelo de negócio ainda não completou nem um mês e já virou um sucesso. Estamos falando do Cozinha Amélia (@cozinhaamelia), que deu start no seu funcionamento no último dia 12 de junho. “A gastronomia sempre foi uma paixão na minha família, que tem origem russa e árabe. Cresci vendo minha bisavó, minha avó e minha mãe cozinhando e sempre me interessei em aprender”, conta a estudante de engenharia, Joana Santrovitsch. 

Ela diz que tudo começou como uma brincadeira dos amigos: “Como sempre gostei de cozinhar, os amigos ficavam me incentivando a investir na área. Foi então que no Dia dos Namorados, criei uma marca, em homenagem a minha bisavó, e lancei no meu Instagram um menu para a data e a rápida demanda me surpreendeu”. (Divulgação) Produtos da Cozinha Amélia chegam na casa do cliente com muito charme Já na estreia, foram 15 pedidos. De lá pra cá, o negócio só não deslanchou ainda mais porque Joana estabeleceu uma cota de pedidos e de dias da semana para prestar este serviço. “Estipulei um limite de 20 pedidos pro almoço e /ou 20 pro jantar, somente às sextas e sábados. Dessa forma eu posso dar conta, cuidar de todos os detalhes e deixar meu cliente feliz”. O cardápio, ressalta ela, é mudado toda semana e lançado nas redes. 

Pelo entusiasmo que a agora cozinheira fala do novo negócio, o diploma de engenharia pode acabar num quadro na parede da cozinha que pretende montar mais adiante para fazer o negócio girar. Mas não é para agora. Por ora, Joana segue trabalhando em sua casa, no Horto Florestal, onde conta com a ajuda de quatro auxiliares. “Não quero aumentar agora para não expor as pessoas que trabalham comigo. O momento que estamos vivendo requer cuidados redobrados, mas se a receita não desandar quando tudo isso passar, planejo fazer o negócio crescer”.