De encher os olhos não; de queimar as vistas

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 22 de abril de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

Desde cedo, aprendemos a repetir que os números não mentem. Com o passar dos anos, vamos percebendo que os números podem até não mentir, mas, se forem torturados, dizem tudo que a gente quiser. Agora, com a versão 2017 do Vitória, notamos que os números, efetivamente, não mentem. Muito pelo contrário: eles não dizem absolutamente nada.Veja você, caro leitor ou bela leitora, que até outro dia o Leão tinha sei lá quantos triunfos consecutivos, recordes batidos, era dono do melhor aproveitamento do ano entre as equipes da primeira divisão, um milhão de gols marcados e por aí vai.Daí, em menos de uma semana, o time que só ganhava passou a ser o time que já está há três jogos sem vencer. Nestas três partidas, o time do ataque poderoso marcou apenas um gol, contra o Vitória da Conquista, na bacia das almas. O time que o treinador Argel Fucks diz “encher os olhos” tem exibido, a bem da verdade, um futebol de queimar as vistas.  Mesmo com seus inexplicáveis apegos a um esquema ou um jogador, Vagner Mancini, ex-treinador do Vitória, tinha um grande mérito: quando o time ia mal, ele era o primeiro a dizer. Tranquilamente, reconhecia desempenhos abaixo da média e chegava ele mesmo a citar os pontos que não haviam funcionado em determinada partida. Argel tem outro perfil.O time joga mal, o torcedor vê, a diretoria idem, o narrador dá a deixa, o comentarista expõe, alguém boceja na arquibancada, a galera resmunga no zap zap, os exaltados xingam meio mundo, o Vitória fica incontáveis minutos sem dar um chute no gol e, na entrevista após a partida, o treinador diz que respeita a opinião de todos, mas, lá de sua área técnica, o que ele viu foi “outro jogo”. Neste “outro jogo”, o Vitória teve volume, dominou e criou chances no atacado, além dos já conhecidos eticéteras.  Sugestão para o marketing rubro-negro: montar uma pequena arquibancada ali entre o banco de reservas e a área técnica. Ingressos limitados, preço diferenciado, satisfação garantida. Quem conseguir tal bilhete, provavelmente também vai ver “outro jogo” e voltar pra casa mais feliz que o resto da torcida. Ponto de vista é tudo.Em sua já interrompida escalada de triunfos, o Vitória encarou, na grande maioria das vezes, times fracos, sob todos os aspectos. No Campeonato Baiano e na Copa do Nordeste, quase todos os adversários são péssimos, pra ficarmos no português claro. Ainda assim, em poucos momentos se viu o rubro-negro atuar com boa movimentação e envolvendo o oponente com um jogo coletivo.Se, mais para o início do ano, as vaias enviadas pelas arquibancadas tivessem ecoado, talvez a situação agora fosse outra. Mas a opção do Vitória foi vendar os olhos e reverberar estatísticas que, está cada vez mais claro, não demonstravam absolutamente nada.Está tudo errado? É claro que não. O Vitória ainda pode faturar o Baianinho e o Nordestão? É claro que sim, especialmente porque é futebol e, com o perdão do calejado clichê, tudo pode acontecer. O que está em questão é o que vem de lá no Campeonato Brasileiro, onde as equipes são mais qualificadas e o osso é bem mais duro. Objetivamente, com esta bola que está jogando, o sofrimento vem em dobro.Como dificilmente o pessoal do marketing rubro-negro dará bola para minha singela sugestão de “Arquibancada inside”, deixo outra sugestão, agora para o treinador Argel. Bem que ele poderia subir pra arquibancada e ficar ao lado da galera, ao menos por um momento. Nesta posição, quem sabe ele visse o mesmo jogo que todo mundo vê e pudesse achar alguma solução para o time.Ponto de vista é tudo.Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.