De Paralamas a Anitta: gerações se encontram em 2ª noite de Festival Virada

Programação inclui mistura de ritmos e possibilita público de todas as idades na Arena Daniela Mercury

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 30 de dezembro de 2019 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO

Paralamas do Sucesso voltaram ao festival depois de seis anos (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Quando deu 22h, o Festival da Virada Salvador, de fato, virou. Primeiro foi a vez de grandes ídolos que tiveram seu auge nos anos 1980 e 1990. Depois, chegaram os nomes que estão no topo das playlists atuais. De bermuda branca e boné, Durval Lelys estava quase um garoto, neste domingo (29), na abertura do segundo dia de evento. E, depois dele, ainda viriam Paralamas, Anitta, Luan Santana e a dupla Simone e Simaria. Mistura de sons e, claro, de público.

Fãs de Durval, o casal de comerciantes Adeilson Bittencourt, 40 anos, e Tatiane Costa foram à festa exclusivamente para o show do ex-líder do Asa de Águia. Adepto do boné, Adeilson também levou o filho Antônio Gabriel, 11, e ambos imitaram o look tropical de Durval.“Eu conheci o Asa de Águia em 1994, com 15 anos. Sou do interior, de São Miguel das Matas, e lá eu escutava no rádio. Quando eu vim para Salvador foi que passei a ir para os shows e me apaixonei ainda mais”, contou Adeilson.A esposa, Tatiane, conta que eles passaram a acompanhar o trio do Asa nos carnavais do início ao fim do circuito. “Na pipoca, mas ia”, brincou. Fiéis à Durval, eles não quiseram ficar nem para ver outros artistas. Adeilson, Antônio Gabriel e Tatiane foram curtir o show de Durval Lelys (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Gerações Já as amigas Clara de Almeida, 56, e Margareth Prado, 52, chegaram sem hora para voltar, mas ficaram felizes de ter os shows de Durval e Paralamas do Sucesso como os primeiros. “É da nossa geração, né?”, emendou Clara, que frequentava os shows de Durval quando ele ainda abria apresentações de outros artistas.

“Eu levava minhas filhas, hoje uma com 39 e outra com 35, para ver Trem da Alegria e Durval que abria. Eu sempre gostei de todas as fases dele até aqui, até quando ele quis ser roqueiro”, riu a pedagoga.

A pedagoga diz que os Paralamas marcaram a adolescência dela, mas a amiga, Margareth, foi “mais privilegiada” porque teve a oportunidade de ir para grandes shows quando morava no Rio de Janeiro nos anos 1980 e 1990.

“Eu ia para todas essas bandas consagradas da época. Paralamas, Titãs, Capital Inicial, Cazuza, acompanhei essa galera toda”, lembrou.

Enquanto uma geração curtia a ‘primeira parte’ das atrações, outra se preparava para o restante da noite. Cheios de energia, fãs de Anitta e Luan Santana chegaram antes mesmo da abertura dos portões. Na frente da grade era fácil encontrar quem tivesse vindo de outras cidades, como as amigas Silaí Jesus, 20, e Cleide Santos, 25, que saíram de Rafael Jambeiro e Araçás. Silaí e Claide saíram do interior do Bahia para o show de Luan Santana (Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO) Estudantes, elas são fãs de Luan Santana e afirmam que têm uma pontinha de crédito pelo fato de o artista ter escolhido Salvador como local de gravação do seu DVD Viva, em maio deste ano. “Eu e ela nos conhecemos através de uma campanha DVD LS NA BAHIA, que foi em 2017. A gente fez uma faixa de três metros pedindo que ele gravasse aqui. Ele levou a faixa. A gente ia para todos os shows dele aqui na Bahia pedindo isso”, contou Silaí.

Os fãs de Anitta exibiram tatuagens, chegaram cedo e até opinaram sobre as polêmicas do momento. Thiago Soas, 26, comentou um movimento de 'bandeira branca' que vem surgindo nesse fim de ano, no Twitter, entre os fãs de Anitta e Pabllo Vittar. Parece que a paz está prestes a reinar entre elas.

“Eu também quero que acabe essa rixa, sou fã  das duas. Acho que o buzz das brigas delas geram notícias ruins para as imagens delas”, avaliou Soas. 

Música Ao finalizar o show, Durval Lelys comentou os conflitos geracionais da produção musical, alavancados pela chegada das redes sociais e das plataformas de streaming. Em 2014, após 27 anos, o cantor escolheu parar as atividades da banda Asa de Águia para se reestruturar.“A música brasileira tava dando sinais de mudança. A gente é do tempo das gravadoras, do vinil. A gente veio para essa parada da internet e transformou a cabeça do jovem. A axé music deu uma estacionada benéfica para se reestudar”, apontou. Durval Lelys abriu a segunda noite do Festival Virada Salvador (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) "Eu tenho anos de carreira e 180 mil seguidores e tem cantores sertanejos que têm 1 milhão. A gente precisa se encaixar de novo no mercado preservando o que a gente tem de bom. Foram muito importantes esses cinco anos que a gente parou para reestudar nossas tecnologias", completou Durval.

Já o baterista João Barone, dos Paralamas, disse que a banda já está acostumada a tocar em festivais com diferentes estilos e que participar de eventos como o Festival Virada é uma reafirmação do compromisso com a música.“A gente gosta muito do que a gente faz e, enquanto tiver forças, a gente vai continuar fazendo show porque é isso que a gente gosta de fazer”, disse.Atualmente, a banda faz cerca de seis a sete apresentações por mês e Barone diz que o grupo não tem intenção de fazer mais sucesso do que já fez até hoje e pretende “manter o modo de operar”, mas, claro, sem deixar de lançar canções inéditas.

Como um bom roqueiro não foge à luta, Barone comentou ainda sobre o cenário da banda em meio ao ano de 2019 no Brasil. “A gente não tem do que reclamar além das questões filosóficas sobre o nosso país. Espero que a gente não esmoreça, a gente precisa de alento, que o Brasil busque uma sociedade mais justa, que ofereça mais cidadania para todo mundo”, afirmou, sem entrar em detalhes sobre posicionamento político.