Declarações de amor a Caetano

Três jovens cantores regravam músicas de Caetano Veloso em novos trabalhos

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  • Roberto Midlej

Publicado em 10 de setembro de 2021 às 07:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos divulgação

Chega a ser clichê dizer que um determinado artista "influenciou gerações". Mas o que dizer de alguém como Caetano Veloso, que completou 79 anos, começou a carreira há mais de cinco décadas e ainda continua interessando a artistas jovens, na casa dos 20 ou 30 anos? Como escapar do tal clichê?

E três cantores brasileiros estão aí para comprovar que não à toa dizemos que Caetano influencia gerações: o paraense Arthur Nogueira, 33 anos; o baiano Rico Ayade, 37 e o pernambucano Ayrton Montarroyos, 26, estão lançando, separadamente e por coincidência, quase ao mesmo tempo, trabalhos dedicados ao cantor e compositor símbolo do tropicalismo. Infância

Rico e Arthur conheceram a música de Caetano ainda crianças e têm lembranças disso. "Meus pais tinham um barzinho e lá eu cresci ouvindo música, especialmente Caetano. Tínhamos muitos LPs de música brasileira, cresci ouvindo música, mas Caetano sempre foi o meu predileto. Me identificava com as letras dele e tinha alguma identificação com o tipo físico dele, por ser magro", diz Rico, que lança o EP Tropicaê - Rico Canta Caetano.

Nascido em Belém, Arthur Nogueira vivia na capital paraense e costumava viajar de carro para uma ilha ali perto junto com os pais , apaixonados por música brasileira. "Uma das lembranças mais antigas que tenho, de quando eu tinha uns cinco ou seis anos de idade, é de quando tocava Felicidade, de Lupicínio Rodrigues, na voz de Caetano no carro. Lembro bem desse momento". Lado B?

Arthur está lançando Sucesso Bendito, que, para alguns, tem muita coisa do "lado B" de Caetano. Mas para o cantor não é bem assim. "Realmente, tem algumas músicas que ficaram 'escondidas' na discografia de Caetano, mas tem, por exemplo, José, que é uma das minhas preferidas dele. Não pensei em escolher canções pouco conhecidas. Tanto que Menino Deus e Força Estranha estão lá", diz Arthur. 

Rico, que tem residência fixa em São Paulo, está vivendo por um tempo em Cumuruxatiba, uma praia no Sul da Bahia. Diz que o cenário tropical e o desejo de se reconectar com as raízes baianas interferiram no repertório. "Estou vivendo essa tropicalidade aqui, essa coisa de morar no mato... então queria algo que trouxesse o tropical e o moderno". A região tem forte presença indígena. Nada mais natural, portanto, que cantar Um Índio. Além dessa, Cajuína, segundo Rico, também reflete um pouco do atual momento político do país. Leãozinho e Coração Vagabundo completam o EP.

Tanto Rico como Arthur preferiram não modificar muito as versões originais de Caetano. "Mudamos alguma coisa, mas, no geral, a melodia é a mesma. Mexemos um pouco na 'roupagem'. Coração Vagabundo tem uma roupagem moderninha, um beat mais moderno. E dei uma 'batidinha' diferente em Cajuína", diz Rico.

Arthur diz que queria ser autoral, mas, por respeito ao compositor, teve muito cuidado. "Mantive a harmonia das músicas e estudei o Songbook de Caetano [organizado por Almir Chediak]. Passei as versões para alguns músicos, para que aprovassem a harmonia. Não podia descaracterizar a obra. No máximo, mudei uma levada ou outra". Ayrton Montarroyos optou por músicas menos conhecidas e as apresentou numa live durante o isolamento social. A live resultou no álbum Caetano Veloso Além do Transa. “Essa live que fiz sobre as músicas menos conhecidas de Caetano Veloso serviu para despertar em mim a vontade de trabalhar mais com o repertório do compositor. Alguns meses depois, fiz uma segunda live, acompanhado por Rodrigo Campos e Arquétipo Rafa, com mais músicas dele".

Entre as canções, estão Onde Andarás, Nu com a Minha Música eu Nasci Passa um Rio. Montarroyos canta acompanhado de João Camarero ao violão. Ayrton ficou conhecido inicialmente por sua participação em 2015 na quarta edição do The Voice Brasil, em que chegou à final. Antes do programa, possuía uma indicação ao Grammy Latino pela participação no disco Herivelto Martins - 100 Anos.