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Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
O estádio de futebol é lugar de todos. E todas. Qualquer pessoa precisa ter garantido o seu direito de berrar, de xingar e de ir e vir sem ser incomodada, desde que respeitado o espaço do outro. Assim deveria ser. Mas não é. Para mulheres que frequentam as arquibancadas no Brasil, além de torcer, é preciso conjugar o verbo lutar. A luta contra o machismo é diária.
Há cerca de três semanas, repercutiu nas redes sociais o relato de uma torcedora, Maria Ribeiro, sobre um episódio de assédio sofrido pelo grupo Tricoloucas no triunfo sobre o Avaí, pelo Campeonato Brasileiro, na Arena Fonte Nova. O Bahia só voltou a jogar em Salvador no último fim de semana e aproveitou a oportunidade para reforçar a importância do combate ao machismo.
Além de ações antes e durante a partida contra o Fluminense, como panfletagem e mensagem no telão do estádio, o clube lançou um site que contabiliza casos de assédio e oferece canais de denúncia. O portal leva o mesmo nome da campanha: #Medeixetorcer.
Mulheres que vão ao estádio sofrem com o assédio o tempo inteiro. Como na vida. O futebol é como se fosse uma pequena representação da sociedade. O que aconteceu no jogo contra o Avaí foi além da “piadinha” que, de tão frequente, parece comum. Foi tão surreal que um sujeito teve o destempero de intimar as meninas a “sair na mão”. Tudo porque queria assistir ao jogo no meio do grupo e ouviu um não. E não é não.
Alguns homens que presenciaram o episódio ficaram revoltados. Isso é bom. A indignação precisa ser coletiva, afinal essa não pode ser uma luta exclusiva das mulheres. Se todas e todos torcem igual, por que pedir que uma mulher escale o time de 88? Se todas e todos sofrem igual, por que pedir que uma mulher explique a regra do impedimento? Se todas e todos gritam igual, por que dizer que uma mulher tão bonita não pode xingar desse ou daquele jeito?
Em mais de duas décadas frequentando estádios, eu nunca fui questionado a respeito dos meus conhecimentos futebolísticos. Nunca precisei discorrer sobre a diferença entre um 4-4-2 e um 4-3-3. Você, que é homem e chegou até esse ponto do texto, já foi? Faça esse exercício de reflexão. E depois pergunte a uma mulher se ela já foi interpelada de tal forma. Além de ser uma atitude boba, porque não é necessário que qualquer pessoa, do sexo masculino ou feminino, seja expert no assunto para torcer por um time ou gostar de futebol, é um comportamento machista.
Existe na Arena Fonte Nova um grupo de policiais treinado para atender o público feminino. Não é difícil identificá-lo. O nome “Ronda Maria da Penha” está estampado na traseira e na manga da farda. É excelente iniciativa que, como tudo, pode ser melhorada. Basta que se aumente o efetivo e o número de policiais mulheres para atender a essa demanda. Não tem cabimento que uma vítima de assédio no setor Oeste precise se deslocar até o Leste para fazer a denúncia.
O Bahia tem se notabilizado por defender causas minoritárias porque entende que o clube é de todos e de todas. Se assim é, a obrigação é abraçar e proteger a todos. Outros clubes têm adotado postura semelhante. Acolher seu público feminino e oferecer condições que permitam que elas se sintam respeitadas e protegidas não deveria ser exceção, e sim a regra.
Rafael Santana é repórter do globoesporte.com.