Delegado é acusado de racismo no Carnaval: 'não vou almoçar com essa negaiada'

Vinícius Leão foi denunciado por policiais com quem trabalhava no Circuito Osmar

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  • Bruno Wendel

Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 14:23

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Antonio Saturnino/Arquivo CORREIO

O delegado Vinícius Leão está sendo investigado por suspeita de crime de racismo contra outros policiais civis enquanto trabalhava no Circuito Osmar (Campo Grande), na terça-feira de Carnaval (25). Um procedimento foi instaurado na Corregedoria da Polícia Civil (Correpol) para apurar o caso.

O caso veio à tona após a Comissão de Promoção de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil - seção Bahia (OAB-BA) tomar conhecimento da suposta atitude do delegado em um dos postos de trabalho do Campo Grande. Segundo a denúncia, o delegado se recusou a almoçar junto com agentes negros em um refeitório e disse: "Não vou almoçar com nessa negaiada toda".  

De acordo com a presidente da comissão da OAB-BA, a advogada Dandara Lucas Pinho, nesta quinta-feira (27) o órgão vai acionar o Ministério Público para saber o que a Corregedoria fez em relação ao fato.

Procurado, o Ministério Público do Estado (MP-BA) informou que foi feita uma reclamação junto ao órgão e que o Centro de Apoio aos Direitos Humanos vai instaurar um procedimento para investigar se houve caso de racismo.

O caso foi registrado como injúria racial no Posto de Atendimento a Vítimas de Crimes de Racismo e Outros Delitos de Intolerância (PAVRI), no Largo Dois de Julho.

“A comissão repudia veementemente qualquer declaração racista, especialmente oriunda de preposto do Estado, repudiando também o racismo institucional e estrutural, haja vista a existência de núcleos especializados para registro de casos de racismo no Carnaval, bem como o dever de o Estado implementar a delegacia especializada permanente conforme consta no artigo 79 do Estatuto de Promoção da Igualdade Racial e Combate à Intolerância Religiosa do Estado da Bahia e que atitudes como estas não devem ser tratadas como mera especulação, tampouco como ‘mimimi’ ou vitimismo destas que foram vítimas das marcas do período escravocrata que o Brasil ainda convivera”, declarou Dandara.  

Procurado pelo CORREIO, o advogado Oberdan Valdez, que defende o delegado, disse que o cliente não cometeu o crime. “Foi constatado que ele não cometeu o ato de racismo, tanto que não ficou preso”, disse Valdez, que atua pelo Sindicato dos Policiais Civis do Estado da Bahia (Sindpoc).

Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Civil, o suspeito e testemunhas foram ouvidos no mesmo dia, na Correpol, situada na Chapada do Rio Vermelho. Apesar de Leão ter sido conduzido à unidade, não houve flagrante por falta de provas. Ele deixou a corregedoria no mesmo dia.

Valdez disse ainda que, apesar do relato de testemunhas, ninguém presenciou o suposto ato racista. “As testemunhas disseram que nada viram, que apenas ouviram falar. Ou seja, se não tem nada escrito, não tem prova”, comentou ele, referindo-se aos depoimentos colhidos na corregedoria. 

O Sindicato dos Delegados da Polícia Civil do Estado da Bahia (ADPEB) informou que também o corpo jurídico da entidade acompanha o caso.