Depois de arrastão, banhistas vão à Prainha do MAM com cautela

Moradores, que recuperaram pertences roubados, fazem questão de reafirmar que o lugar é pacífico

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  • Fernanda Santana

Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 16:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fernanda Santana/CORREIO

Pouco depois das 14h, na chegada da comunidade Solar do Unhão, um morador dá boa-tarde a quatro amigas em busca de um barqueiro que as levem até a Prainha do MAM. "Boa tarde, meninas, tudo na paz por aqui", avisa o rapaz, sem ter sido perguntado. Depois de um arrastão na praia, na última quarta-feira (15), moradores procuram sinalizar que ali é um lugar de paz. O CORREIO esteve na enseada neste sábado (18), onde havia pelo menos 35 pessoas. Por receio, no entanto, o horário de partida seria mais cedo para alguns. 

O arrastão aconteceu durante o pôr-do sol e, segundo relatos colhidos na própria praia, os criminosos teriam chegado ao local depois de pular um dos pontos próximos ao portão principal do museu. Desde o verão 2018-2019, o acesso por terra está oficialmente proibido pela direção do espaço. Moradores da comunidade seguraram os três ladrões e recuperaram todos os pertences roubados, entre celulares e bolsas com dinheiro."A gente é unido, é um lugar tranquilo. A última vítima veio buscar as coisas dela ontem [sexta-feira]", contou Marcio Silva, 38, enquanto vendia água e salgadinhos a um grupo que logo mais iria para a Prainha. O acesso à praia é feito somente por barcos que saem da Praia do Solar do Unhão entre as 9h e 18h. São em média sete embarcações que fazem, em media, de 30 a 40 passeios por dia. O trajeto custa R$ 10 a ida e a volta. "Estou achando tudo normal", disse Emerson França, 16, enquanto levava a reportagem até a prainha.

Lá, a analista comercial Luana Aguiar, 32, já se preparava para ir embora. Alguns banhistas preferiram deixar a enseada mais cedo, já que o assalto aconteceu num pôr do sol. "Tava com receio de vir, mas arriscamos. Mas estou indo embora mais cedo para evitar qualquer problema", explicou ela, que gosta da praia pela "privacidade e aconchego". Nas quatros horas que permaneceu na praia, no entanto, não houve nenhuma presença que a assustasse. No Parque das Esculturas, um segurança acompanhavam a movimentação sentado em frente a um painel de relevo em concreto de Carybé. Antes do assalto, o segurança, que não deu entrevista, costumava acompanhar a movimentação somente do alto da entrada principal, acompanhado de um colega, como apurou a reportagem.  Advogado explica escolha pela Prainha do MAM: 'Aqui é de uma beleza e energia foras do comum'. (Foto: Fernanda Santana/CORREIO) O Instituto do Patrimônio Artístico Artístico e Cultural do Estado (Ipac) foi questionado se houve mudança no esquema de segurança depois do crime, mas não respondeu até o fechamento da publicação."Estou achando o clima normal, mas hoje tô achando mais vazio hoje", contou a ambulante Gloria Santos, 35, que há dois verões vende bebidas na praia e aluga sombreiros e cadeiras por R$ 5. Ninguém sabia dizer se estava mais cheio ou vazio. Restou a observação. Na areia, 20 sombreiros estavam montados e, de minuto a minuto, chegavam embarcações - duas lanchas estavam paradas próximas à areia. "Vazio eu não achei não. Eu até imaginei que por conta do assalto estaria mais tranquilo. Até brinquei lá em cima com um guardador de carros", opinou o funcionário público Ebenezer Vieira, 47, que foi à praia pela primeira vez com a família. 

'Quando eu vi a reação dos moradores, decidi vir'

Primeiro, a bancária Marizângela Coelho, 40, pensou que seria melhor escolher outra praia. Depois, ao ver a reação dos moradores, decidiu ir para a prainha. As duas são de Petrolina, em Pernambuco, mas a bancária passa uma teporada de seis meses em Salvador. "Quando eu vi a reação dos moradores, decidi vir", contou ela, que prefere à prainha pela areia - na vizinha praia do Solar do Unhão, a faixa de areia é, na verdade, uma faixa de pedras."Já eu prefiro aqui, acho lá mais reservado e perigoso", opinou o técnico em mecânica Everton Fernandes, 30. Quem chega à prainha, elege a beleza e a privacidade como atrativos."Estou achando super tranquilo, pessoa super receptivo. Aqui é de uma beleza e energia foras do comum", definiu o advogado Ivanildo Júnior, 31.Como outros banhistas, ele levou à praia comidas e bebida - gim tônica - para abastecer a tarde.  De barco, acarajé é levado até prainha (Foto: Fernanda Santana/CORREIO) Neste sábado, três ambulantes vendiam entre bebidas e queijos coalho, enquanto comerciantes da praia vizinha chegavam de barco. Acarajé cortado no prato com caruru, vatapá e salada, por exemplo, eram levados por Daniel Santos, 23, que acertava a venda entre os banhistas."O assalto foi um caso atípico", faz questão de frisar um morador do Solar, Janilson, 36, no retorno de barco para casa.Quando ouve do assalto, um turista do Rio de Janeiro cutuca o amigo e diz que, se soubesse, não teriam ido à prainha. Mas os moradores acreditam que será só questão de tempo até que consigam mostrar que a praia é segura e para todos.