Depois de madrugada de terror, PM instala base móvel em Sussuarana

Base vai funcionar 24 horas com 60 policiais; Nordeste de Amaralina e Engenho Velho da Federação também terão

Publicado em 1 de julho de 2020 às 08:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Alberto Maraux/SSP

O Parque Jocélia acordava quando cerca 60 policiais de seis unidades ocupavam o local, no bairro de Sussuarana. Todo o efetivo foi para a instalação de uma Base Móvel da Polícia Militar, por volta das 5h desta quarta-feira (01).  A ação foi uma resposta à demonstração de força de duas facções que travaram intenso tiroteio com armas de diversos calibres na madrugada de terça-feira (30), incluindo o uso de fuzis. A ocupação no bairro será por tempo indeterminado, de acordo com o comandante-geral da PM, coronel Anselmo Brandão.

"Foi uma ação ousada (dos bandidos) e vamos dar resposta com a presença da polícia. Além da sociedade, o govenador e o secretário (de Segurança Pública) não gostaram das imagens que viram e pediram uma ação imediata. E vamos mostrar que o Estado é quem tem o comando do território. Vamos com a base móvel atrás dos tentáculos que importunam a comunidade. Se tiver que recuar, que recue a outra parte", declarou o comandante-geral da PM.

A Base Móvel passa a funcionar 24 horas com a atuação de 60 policais da 48ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Sussuarana), Rondas Especiais (Rondesp) e reforço do Batalhão de Choque, Esquadrão Águia, Grupamento Aéreo (Graer) e a Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Polo Industrial. Ainda de acordo com o comandante-geral da PM, outras bases móveis serão instaladas nos bairros onde também houve casos recentes de demonstração de forças de organizações criminosas como Nordeste de Amaralina e Engenho Velho da Federação.

Segundo moradores, por volta das 5h, a Praça da Independência já estava ocupada pelos policiais. Algumas viaturas estavam posicionadas ao lados de carros que foram atingidos pelos disparos dos traficantes na madrugada da última terça-feira. Pelos menos 10 carros foram atingidos, além paredes, portas e janelas de casas e estabelecimentos comerciais. 

Logo em seguida, o comandante-geral falou com a tropa. "Essa sempre foi uma comunidade tranquila e vai continuar sendo. Vamos mostrar quem manda aqui", declarou o coronel. Posteriormente, os policiais seguiram em incursão pela área. 

A imprensa foi autorizada acompanhar o início de uma das ações com policiais da Rondesp, na Rua Amazonas, do Jocélia II. Descendo uma ladeira, os militares entravam e saíam de becos, cada um mais estreito que o outro, ao mesmo tempo em que pessoas saíam de suas casas, provavelmente para trabalhar. Enquanto um grupo avançava, o outro cuidava de cuidar da retaguarda e das laterais. 

Num determinado momento, onde o fundo de algumas casas davam para um matagal, o acesso da imprensa foi interrompido por medida de segurança. "A gente vai parar com vocês por aqui, porque já não consideramos seguro", disse um dos policiais, que seguiu com a tropa para o matagal.

Por volta das 9h20, a equipe do CORREIO acompanhou início de uma outra incursão da Polícia Militar. Desta vez foi a vez da Cipe Polo Industrial que entrou nos becos e vielas atrás dos bandidos. “A equipe tem que ter a preocupação de que a predominância aqui é de moradores para não confundir no calor de um possível confronto. Nossa missão aqui é garantir a sensação de segurança”, disse o tenente Rafael Oliveira, à frente da operação. Num determinado momento, a equipe foi aconselhada a retornar. 

Arsenal O coronel Humberto Sturaro, comandante de Operações da PM, disse que a troca de tiros entre as duas facções foi uma surpresa. “Isso o que aconteceu nesse local tranquilo. Foi uma surpresa para todos. Esse confronto entre esses homens covardes trouxe para a comunidade não só os danos materiais como psicológicos, e cabe a nós, da Polícia Militar, reestabelecermos a paz e a ordem. Nosso trabalho é aplicar a lei e salvar vidas”.  Logo após os tiros, moradores recolheram as cápsulas das armas – algumas eram de fuzil. Questionando sobre o arsenal das facções, o coronel respondeu: “ Nós não temos como evitar que essas armas cheguem às mãos desses marginais. Nós também somos vítimas dessas armas. O que estamos fazendo sempre? Ocupando as áreas de risco para evitar os confrontos”.  Sturaro falou ainda sobre o motivo da briga das organizações criminosas.  “Por fim não vamos permitir que os nomes desses grupos cresçam em nosso estado pela briga territorial pelo comércio do tráfico. O comércio é forte, não podemos negar isso. Prova disso foi há 15 dias com a apreensão feita no Nordeste pela Rondesp Atlântico mais R$ 70 mil em pouco tempo no comércio de drogas”. 

Outros dois bairros terão base Ampliar o combate contra o tráfico de drogas é o objetivo do reforço das ações ostensivas, promovidas pela Polícia Militar, a partir desta quarta-feira (1), em três bairros da capital baiana. Sussuarana, Engenho Velho da Federação e Nordeste de Amaralina contarão com atuações de unidades especializadas.

A medida foi tomada após recorrentes confrontos entre forças de segurança e traficantes, além de pontuais disputas por pontos de venda de drogas, como ocorre na localidade do Parque Jocélia, em Sussuarana.

O comandante-geral da PM, coronel Anselmo Brandão, foi até a região e conversou com a tropa. "Estamos com os crimes contra a vida e roubos controlados, na região, mas percebemos, a partir do mês de abril, um aumento da rivalidade entre algumas quadrilhas", disse. 

O oficial acrescentou que as prisões domiciliares, concedidas a pouco mais de 3 mil detentos, devido a pandemia da covid-19, podem ter causado esse desequilíbrio. "Estamos aqui firmes e contando com a ajuda da população. Denuncie através dos telefones 3235-0000 ou 190. Seja um parceiro da polícia", completou.

Apreensões Antes da implantação da base móvel, coletes balísticos e pouco mais de 4 mil pinos que seriam usados para embalar cocaína foram apreendidos por equipes da 48ª CIPM e da Rondesp Central na tarde de terça-feira (30), após reforço das ações ostensivas na região. Segundo informações da polícia, as equipes faziam incursões nas localidades Novo Horizonte e Parque Jocélia quando criminosos correram e abandonaram sacolas em um matagal.

Dentro delas os PMs encontraram sete coletes balísticos, uma roupa camuflada e pouco mais de 4 mil pinos que seriam utilizados para embalar cocaína. No dia anterior, na mesma região, o Batalhão de Choque localizou um fuzil e uma espingarda.

O reforço policial no bairro ocorreu após uma madrugada de terror, onde os assobios das balas de fuzil perfuravam o silêncio no bairro de Sussuarana. Ao mesmo tempo, outros projéteis encontraram carros, janelas e portas por volta das 3h30 da última terça-feira (30). Temendo que as paredes não suportassem o arsenal de duas facções que disputam o controle do tráfico de drogas no Parque Jocélia, cada uma com cerca de pelo menos 20 homens, moradores permaneceram deitados no chão por quase uma hora. Foi uma madrugada de terror.

A certeza de que o perigo havia passado só veio com o raiar do dia. “As pessoas só saíram de suas casas meia hora depois que um dos grupos disse: ‘joga a granada pra poder se retirar que o dia está amanhecendo’. Estamos aterrorizados. Tem gente aqui que está abandonado sua casa e indo às pressas morar com parentes ou indo pagar aluguel. Suplicamos por ajuda”, disse um morador entrevistado pelo CORREIO.

O retrato da madrugada de terror vai além dos traumas psicológicos. Segundo os moradores, pelo menos 10 carros foram atingidos pelos disparos – em um deles, há marcas de 15 perfurações. Sobre as declarações dos moradores, o coronel Paulo Coutinho, comandante do Policiamento da Região Central da Polícia Militar, diz que o que ocorreu no Parque Jocélia foi uma “situação pontual” entre as fações Bonde do Maluco (BDM e a Tropa do A.

“Foram muitas ações da PM no local. Houve uma situação pontual na madrugada. O policiamento estava no bairro, mas eles (criminosos) aproveitaram um momento em que as viaturas precisaram sair do Parque Jocélia. Eles têm informantes. Houve um conflito do BDM com a Tropa A. Mas a PM está para fazer a mediação e o enfrentamento, se necessário, para dar a paz à sociedade”, declarou o coronel.