Depois de perder barco em forte chuva, pescador recebe R$ 30 mil em doações

Novo barco já foi comprado e se chamará Amigo em homenagem aos doadores

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 22 de dezembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Gabriel Amorim/CORREIO

A água, que sempre esteve na vida de seu Gerson Bonfim Filho, 57 anos, lhe garantindo sustento, trouxe também tristeza para sua história. Conhecido pelo apelido de Durinho, ele é pescador há 40 anos e perdeu seu barco nas fortes chuvas do último inverno. Em 10 de julho, ele viu o barco naufragar e levar embora a sua forma de sustento. Nesse sábado (21), porém, a tristeza deu lugar à alegria quando Durinho recebeu uma doação que completa o valor necessário para compra e reforma de uma nova embarcação. 

“Isso é lindo, gente que eu nunca vi vindo me ajudar. Numa época dessa, gente vindo apoiar um desconhecido. É uma alegria”, agradeceu o pescador logo depois de receber o cheque simbólico no valor de R$ 12 mil.

A quantia, recolhida por iniciativa de um adolescente baiano, na Escola Columbus High School, em Miami, nos Estados Unidos, completa o total de R$ 30 mil necessários para que Durinho invista em um novo instrumento de trabalho: o barco ‘Amigo’.

Do dia em que seu barco naufragou, Durinho lembra com detalhes. Era por volta de 11h30, quando ele começou a ouvir os vizinhos chamando, mas o barco já estava afundando. Os pedaços de madeira trazidos pela chuva vindos de píeres da região da Gamboa atingiram o ‘Canção’ abrindo sua proa. Rapidamente, os 9,5 metros de comprimento e 3 de largura foram embora e Durinho perdeu seu companheiro durante os últimos 15 anos de pesca. “É triste, em menos de 10, 15 minutos, se perder um patrimônio assim, de anos”, lamenta.

Além do valor sentimental, a perda do barco afetou diretamente o sustento do profissional. Com a atividade de pesca, Gerson garantia uma renda mensal que girava em torno de R$ 2,5 a R$ 3 mil. Antes de garantir o novo barco, ele precisou contar com a ajuda de amigos e conhecidos da pesca para conseguir pagar as contas.“Tenho pescado de lancha. As pessoas me chamam também, amigos, pra ir pescar junto. Mas não é a mesma coisa né? Não é igual a ter o seu, sem precisar trabalhar pros outros”, conta ele.Solidariedade   Toda mobilização em torno da história do pescador começou dias depois das chuvas. Em um grupo de mensagens, frequentadores da comunidade do Solar do Unhão, onde mora Durinho, começaram a se organizar para ajudar o amigo. “No dia da chuva me contaram que ele tinha perdido o barco. Eu logo pensei que precisávamos fazer alguma coisa para ajudar, porque é a única forma de trabalho dele. E junto com minha esposa montei o grupo”, conta José Carlos da Silva, 47, amigo de Durinho e um dos que começaram a campanha.

No grupo Amigos de Durinho, a primeira parte da verba para compra do novo barco foi arrecadada. Aproximadamente R$ 13 mil reais foram usados para compra, que já foi realizada. A embarcação, agora, passa por reformas para poder voltar ao mar com Durinho a bordo. 

Além de servir como barco de pesca, o novo presente do pescador tem outro uso especial. É que Durinho é um dos criadores de uma oferenda ecológica para Iemanjá, que é levada ao mar um domingo antes da festa oficial, saindo da comunidade do Solar do Unhão. No sétimo ano da festa, em 26 de janeiro, o pescador poderá, como nos anos anteriores, ceder seu barco para a comemoração. Todos os anos, aproximadamente 100 quilos são pescados e transformados em uma grande moqueca para festejar Iemanjá.

A previsão é que entre os dias 10 e 12 de janeiro, o ‘Amigo’ já esteja entre os barcos da comunidade. “Vai se chamar Amigo em homenagem a eles, meus amigos que fizeram isso ser possível”, conta o pescador.  Além do valor em dinheiro, Durinho recebeu materiais de pesca (Foto: Gabriel Amorim/CORREIO) Além-mar  Para completar a verba e deixar o “Amigo’ perfeito, a ajuda veio de longe. Aos 16 anos, o baiano Pedro Portela estuda nos Estados Unidos e, mesmo de longe, quis ajudar. “A gente já conhecia a comunidade e conversando com meu pai, que sabia que eu sou apaixonado pela pesca, tivemos essa ideia de ajudar”, conta Pedro. 

Com a campanha em terras americanas, duas malas cheias de material de pesca foram arrecadadas e doadas ao pescador. Além disso, R$ 12 mil em dinheiro servirão para continuar a reforma do barco. “É inexplicável para mim voltar aqui, em Salvador, onde está a minha origem para poder ajudar”, declara o jovem.

Para completar o orçamento, Durinho recebeu ainda cerca de R$ 4 mil que foram arrecadados a partir de uma vaquinha feita por alunos da National Honor Society da Escola Pan Americana da Bahia.

* Com supervisão do editor João Gabriel Galdea