Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2019 às 12:01
- Atualizado há um ano
Salvador é uma cidade de encantos, ladeiras, becos e vielas, cercada de casarões antigos. Além de sons de berimbaus, batuques dos tambores e o sorriso largo e acolhedor que só o baiano tem, há um dado interessante sobre a primeira capital do país: sua população e majoritariamente composta por mulheres.
A “cidade das mulheres”, contudo, tem outro dado que merece muita atenção: ocupamos o terceiro lugar em habitantes com algum tipo de deficiência, em especial a auditiva. Trazer à tona este tema requer certos cuidados, visto que a sociedade ainda não percebeu o tamanho do significado dos sons no silêncio, mesmo com os diversos avanços que foram alcançados após a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão, em 2015.
Ainda estamos longe de perceber que a comunidade surda tem a necessidade de preparação e capacitação das profissionais de atendimento de serviços públicos como forma de interagir essas pessoas com a sociedade. Por outro lado, a Prefeitura de Salvador, desde o ano passado, vem se dedicando em aperfeiçoar o atendimento público e aproximar-se da comunidade surda, através do curso de Libras para servidores oferecido pela Unidade de Políticas para Pessoas com Deficiência, uma diretoria da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza. Já formamos 34 servidores e outros 51 estão em treinamento atualmente.
A voz do surdo se dá com as mãos através da LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, reconhecida como a segunda língua oficial do Brasil conforme lei Nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Nesta ordem, para representar a luta da comunidade surda brasileira, o dia 26 de setembro foi escolhido por ser a data da criação da primeira escola de surdos no Brasil.
Para conhecer as especificidades de cada pessoa surda é preciso destacar que existem oito tipos de surdez: perda auditiva relacionada à idade; perda auditiva induzida por ruídos; perda auditiva causada por infecções; perda auditiva causada por alterações na tireoide; perda auditiva relacionada a medicamentos; perda auditiva causada por perfuração de tímpano; surdez congênita e perda auditiva transitória.
As mulheres com deficiência auditiva representam parte de um grupo social muito extenso e complexo, para além de nossa imaginação. Se voltarmos nosso olhar para a mulher negra, pobre e surda, que já vive em um contexto de exclusão social e passa por diversos processos de segregação, os problemas são ainda maiores.
Mais da metade da população surda mundial é formada por mulheres, segundo dados da Federação Mundial de Surdos. Exatamente por isso é necessário reforçar a necessidade de políticas públicas inclusivas, buscando, caso seja possível, erradicar as descriminações e criar uma cultura baseada em quebra de barreiras atitudinais, que estereotipam as mulheres negras com deficiência como incapazes.
Propor uma discussão sobre Desafios, Direitos, Avanços e Protagonismo das Mulheres Surdas é abrir uma janela ao empoderamento na política afirmativa, aproximando a academia para produções dos estudos, com uma perspectiva de estruturação à acessibilidade em todas as áreas do conhecimento, para que mais mulheres surdas alcancem diversas profissões e possibilitem a ascensão, tirando do imaginário e do senso comum que elas não têm capacidade de trabalhar, de se relacionar emocionalmente e de viver uma vida cheia de realizações, como as pessoas comuns.
Monica Kalile é advogada e assessora especial da Prefeitura de Salvador
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores