'Design nem sempre se refere a projetar algo brilhante', diz Frank Tyneski

Americano apresentou mapa conceitual no Fórum Agenda Bahia 2018

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  • Thais Borges

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Não basta ser bonito. Tem que ter outros benefícios para a sociedade – mas, de preferência, aliado à beleza ou a um design inovador. Essa é a lógica dos produtos pensados a partir do conceito da Psico-Estética (Psycho-Aesthetic, ou P/A, no original em inglês), uma tendência mundial de design que busca se conectar com as emoções dos clientes.  

“Você pode desenhar as coisas pela beleza. Porém, a gente tenta ir além da beleza. A gente tenta trazer mais para essa equação, porque precisamos repercutir em múltiplos níveis”, explicou o designer Frank Tyneski, durante a oficina que ministrou no seminário Humanize-se, do Fórum Agenda Bahia 2018, que aconteceu no Quality Hotel & Suítes, na última quarta-feira (7).

De acordo com ele, que é presidente da RKS Design, uma empresa de design e inovação que atende desde startups a corporações multinacionais, o processo de P/A ajuda a promover a inovação em uma empresa. Nesse contexto, o design deve ser pensado de uma forma que responda aos desejos do cliente, mas também deve ser relevante para o mercado. 

Para conseguir implantar a P/A em uma produção, é possível usar os chamados Mapas P/A. Quando eles são adotados, os designers podem compreender melhor como as pessoas veem o mundo, criando empatia com os clientes e com as percepções. 

De um lado, a ideia, segundo Tyneski, tem como objetivo mapear pessoas, marcas e ofertas a partir das necessidades e desejos do cliente. Do outro, são mapeados os níveis de interatividade que os produtos promovem. Diante desses eixos, uma equipe de designers pode encontrar as chamadas ‘zonas de oportunidade’, que devem direcionar o design do produto. 

Para entender como funcionam os mapas, o designer mostrou utensílios como um clipe de papel. Segundo ele, o clipe é um “objeto passivo”, que não faz muito pelo usuário.“Você não pensa em nada. Você só vai lá e coloca o clipe. Ele tem uma interatividade muito baixa e uma autoconsciência muito baixa”, disse Tyneski.O quanto um objeto faz o usuário se sentir bem está ligado à interatividade do produto. Ao contrário do clipe de papel, por outro lado, um trator é algo extremamente interativo. É preciso passar marcha, guiar o volante. Para quem dirige um trator pela primeira vez, pode ser animador. No entanto, quem faz isso todos os dias não costuma ir para casa comemorando.  O Mapa P/A tem dois eixos: o vertical, da autorrealização, e o horizontal, da interatividade. A parte mais baixa de cada eixo indica que um produto é mais passivo (horizontal) ou de funcionalidade básica (vertical). A ponta mais alta dos eixos indica maior imersão (horizontal) e mais capacitação dinâmica (vertical) (Imagem: Reprodução/RKS Design) A Mona Lisa, pintura de Leonardo Da Vinci, é o outro extremo do eixo. Praticamente não há interação. “Vi a Mona Lisa alguns anos atrás. Primeiro, tive que ir até Paris, esperar na fila e, quando cheguei, estava lá. Pareceu bem menor do que achei que seria e talvez eu tenha estado lá por só 30 segundos, mas eu vou lembrar para sempre. Foi uma autorrealização, mas pouco interativo”, contou. 

Dirigir um carro esportivo está na outra ponta do mapa – seria uma atividade que uniria tanto uma grande interatividade como também muita autorrealização.“Nós sempre fazemos esse processo de P/A., porque ele mostra onde estão as oportunidades para a empresa”. Aumento de valor Uma das empresas que, através da consultoria da RKS Design, usou o mapa P/A foi a Applied by System, uma companhia que produzia um equipamento de sequenciador de genoma, mas não era líder do mercado. Antes de tudo, foi necessário entender em que local do mapa estavam todos os públicos que interagiam com a empresa – ou seja, cientistas, técnicos, pesquisadores. “Nós observamos onde a concorrência estava (no mapa) e decidimos que o local para o nosso cliente seria aqui também. Precisávamos ter um produto nessa zona de oportunidade”, explicou Tyneski.  De acordo com Frank Tyneski, qualquer segmento de negócio pode usar o conceito de Psico-Estética (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Uma das primeiras medidas foi mudar o nome da empresa – ela passou a se chamar Life Technologies, com um novo logotipo que poderia ser aplicado a qualquer superfície. “O produto que eles (a Life) tinham antes não encaixava na zona de oportunidades. Parecia uma copiadora. Projetamos para eles um muito mais bonito e muito mais apropriado para o mercado”.

Na época das mudanças, a empresa valia US$ 5 bilhões. Quatro meses após o novo sequenciador ter sido lançado, ela foi vendida por US$ 15,6 bilhões.“Se conseguimos fazer isso por nossos clientes, é muito melhor do que ganhar prêmios. O design nem sempre se refere a projetar algo brilhante, mas a projetar um objeto que responda às necessidades humanas. Quando você entende o que o mercado precisa, isso faz toda a diferença”. Da oficina para a vida Entre os participantes da oficina, o conceito de P/A trouxe novas ideias e atitudes para mudar suas próprias realidades. A produtora cultural Ivana Souto, 50 anos, já saiu do auditório pensando em estratégias para desenvolver mais o projeto em que é curadora, o Amora Bonecas.“Quero refletir mais, ler o que ele indicou e ver onde é a zona de oportunidade do projeto, que produz bonecas negras para crianças negras”, explicou ela, que esteve no Fórum Agenda Bahia pela segunda vez. O administrador Vagner Lucas, 31, que participou do fórum pela primeira vez, elogiou o palestrante. Ao fim da oficina, já traçava maneiras de usar mais a criatividade para o design de skates, com o que ele trabalha. “Esse é um cara revolucionário, porque ele usa a psicologia para produzir, num conceito sustentável”. 

Já a autônoma Verônica Marques, 45, ficou pensando em maneiras de aplicar os conceitos à empresa de nutrição que representa, que tem atuação na internet. “O design realmente é importante para tudo em nossa vida. Gostei muito do formato do evento, apesar de não conseguir ouvi-lo diretamente e ter que usar a tradução simultânea”, completou. 

O Fórum Agenda Bahia 2018 é uma realização do jornal CORREIO, com patrocínio da Braskem, Sotero Ambiental e Oi, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Consulado-Geral dos EUA no Rio de Janeiro, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; e apoio do Sebrae e da VINCI Airports.