Desnecessário atraso

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  • Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2022 às 05:30

- Atualizado há um ano

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A vacinação em massa ocupa, sem margem para dúvidas, lugar de destaque na cesta de serviços oferecidos pela saúde pública brasileira. No mundo inteiro, o país é reconhecido e elogiado pela eficiência em proteger todos os dias milhares de pessoas das mais variadas doenças, da poliomielite ao sarampo, da difteria à varíola, da gripe à febre amarela. Qualquer cidade no território nacional está estruturada para imunizar seus habitantes, sejam eles pobres, ricos, recém-nascidos, jovens ou idosos. Atrasos que porventura ocorram são, invariavelmente, pontuais e sanados de forma rápida. A pandemia, por outro lado, transformou-se em ponto fora da curva nessa trajetória de sucesso.

Nenhum argumento baseado na racionalidade é capaz de explicar a resistência do governo federal em iniciar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid. Em 16 de dezembro, a Anvisa já havia autorizado o uso do imunizante da Pfizer para tal faixa etária, após análises fundamentadas apenas em critérios técnicos. À época, pelo menos 20 países estavam com campanha em curso para esse público. No entanto, o Ministério da Saúde, a quem cabe a palavra final, manteve olhos e ouvidos fechados aos apelos da comunidade científica, incluindo o corpo de especialistas da agência responsável por regulamentar o uso de medicamentos e insumos farmacológicos no Brasil, cuja expertise também é motivo de orgulho. 

De maneira inédita e em evidente rota de colisão com a Anvisa, o ministério abriu consulta pública para balizar decisão sobre vacina, assunto que não compete a leigos e nem gravita órbitas ideológicas. Como ensina um conhecido aforisma do latim: "Ne sutor supra crepidam!". Em tradução popularizada, não vá o sapateiro além da sandália. Uma coisa é disponibilizar o imunizante lastreado por quem tem know-how na área. Outra é convencer os responsáveis a levar aqueles que estão sob seus cuidados ao posto de saúde. Garantir que as doses fiquem acessíveis faz parte das obrigações do poder público. A partir daí, cada cidadão que assuma os riscos e eventuais ônus pela recusa. 

Em decorrência do atraso, milhões de crianças começarão o ano letivo sem a necessária proteção contra o coronavírus. Embora seja um público menos vulnerável, nada impede que indivíduos desse grupo morram, desenvolvam quadros graves ou transmitam a doença. A covid, como inúmeros pesquisadores alertam repetidas vezes, não é equação fechada. Por mais que se conheça sua dinâmica, há lacunas que não serão preenchidas em curto prazo. Em contrapartida, a vacina tem se mostrado bastante eficaz para frear o contágio, internações hospitalares e óbitos. Não precisa esforço cognitivo para constatar a importância dela. As estatísticas dispensam as palavras. É só olhar o antes e o depois. 

Ainda assim, somente na última quarta-feira o Ministério da Saúde confirmou a entrada das crianças no programa de imunização, descartando de vez a controvertida exigência de receita médica. Em relação de causa e consequência, o governo federal sequer tem certeza sobre o cronograma. Qualquer semelhança com o começo da vacinação no Brasil não é mera coincidência. No fim de 2020, o país viu o mesmo filme. Esperava-se que a experiência negativa de antes evitasse erros desnecessários no futuro. Mas não evitou.