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Carolina Cerqueira
Publicado em 13 de dezembro de 2020 às 11:20
- Atualizado há 2 anos
Em um período de pandemia, talvez se esperasse que as celebrações no dia de Santa Luzia, protetora da visão, fossem mais tímidas, mas o coronavírus não foi suficiente para abalar a fé dos seus devotos. De máscara, os cristãos enfrentaram fila e se aglomeraram na porta da igreja para terem a oportunidade de reverenciar a santa, neste domingo (13). O dia 13 de dezembro é dedicado a ela, sendo uma das festas mais tradicionais da cidade.>
Este ano, foi permitida a entrada de somente 200 fieis a cada missa. Por isso, muita gente ficou aguardando a vez do lado de fora e, mesmo debaixo do sol, garantiram que o sacrifício valia a pena.>
Conhecida como a protetora da visão e a padroeira dos oftalmologistas, Santa Luzia está sendo homenageada ao longo de todo o dia de hoje (13) pelos devotos na Igreja Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, no bairro do Comércio. As próximas missas serão ás 15h, 17h e 19h, mas, antes, por volta das 12h, haverá uma carreata que vai levar a imagem da protetora para percorrer as principais ruas do Comércio e do Subúrbio.>
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Mais cedo, houve celebração às 6h e às 8h, e entre os dias 10 e 12, a Igreja realizou o tríduo, com cerimônias às 9h e às 18h. Durante todo o dia, a imagem de Santa Luzia fica exposta no adro da igreja, para veneração pública dos fiéis. Os festejos serão encerrados somente amanhã (14), quando às 9h será celebrada a missa por todos os devotos de Santa Luzia já falecidos.>
De acordo com o pároco, padre Renato Minho, ao olhar para a santa é possível ver uma jovem mártir da fé e da resistência.>
“Santa Luzia nos ajuda a combater o mal, a manter a fé em Jesus, e a fazer essa experiência do céu. Mesmo em tempos de pandemia, em tempos de crises, a nossa fé é uma fé que resiste, é uma fé libertadora em Cristo Jesus, e é por Ele que nós estamos fazendo tudo para a santificação das pessoas. Que a devoção à Santa Luzia possa estimular a nós todos a combater o mal e tudo aquilo que retira a vida”, afirmou.>
Mudança No século XIX, a capela de Santa Luzia ficava na Avenida Lafayete Coutinho (Contorno), no espaço que hoje é o Solar do Unhão, mas o prédio pegou fogo. Assim, a imagem de Santa Luzia foi transferida para a Igreja do Pilar onde permanece até hoje.>
Na Igreja, há uma gruta de onde a água mina desde o século XVII, quando o templo ainda era uma pequena capela. A água que corre dia e noite desta fonte que nunca secou é procurada pelos devotos da santa, que lavam os olhos e ainda levam para casa garrafas cheias para familiares e amigos. Os fiéis ficam na fila para lavar os olhos e, na frente da igreja, ambulantes vendem toalhas com o nome de Santa Luzia para que as pessoas possam secar os olhos depois.>
"Eu não era devota, não entendia por que as pessoas vinham aqui, enfrentavam filas. Mas agora Santa Luzia me fez entender. Há um mês eu adoeci, nenhum médico sabia dizer o que era. Eu fiquei de cama e pedi a ela que não me deixasse morrer, que eu viria aqui hoje para servir a ela. Na sexta-feira (11) eu acordei curada, Santa Luzia me curou para que eu pudesse estar aqui bem hoje. Então agora eu sei que vir aqui todo ano e enfrentar tanta fila é uma loucura de amor", conta, muito emocionada, Mariana de Assis, 44.>
Adilson Guedes, 54, este ano trouxe um pedido especial. Carregando uma placa que diz "Santa Luzia, acaba com a pandemia", ele conta: "Agora com a pandemia, temos que fortalecer ainda mais a nossa fé. Eu venho todos os anos e, neste, não poderia deixar de estar aqui. Hoje vim com esse pedido especial. Vou levar a minha água e a de minha mãe, que já é idosa e eu preferi que não viesse por conta do coronavírus. Então eu vim orar por mim e por ela".>
Santidade Santa Luzia, cujo nome quer dizer luz em latim, nasceu em uma família rica e cristã da Itália, no ano de 283 d.c. Aos 5 anos perdeu o pai e cresceu sob os cuidados da mãe, que sofria de graves hemorragias. Certo dia, ao peregrinar na cidade de Catânia, a menina e a mãe acompanharam o Evangelho pregado durante a missa e a jovem, então, pediu ao Senhor que a mãe ficasse curada e foi rezar junto à imagem de Santa Águeda. No mesmo instante, a cura aconteceu.>
Percebendo que ela e a mãe eram cristãs, um jovem denunciou-as ao Imperador Diocleciano. Como Luzia se mostrou firme diante da fé que carregava, acabou sofrendo inúmeras crueldades.>
Vendo que não seria possível convertê-la, Diocleciano mandou jogá-la numa casa de prostituição, mas ninguém conseguia tirar Luzia do local onde ela se encontrava porque os pés ficaram firmes no chão. Em seguida, tentaram queimá-la viva, mas as chamas nada fizeram contra ela. Por fim, os soldados arrancaram-lhe os olhos mas, no mesmo instante, na face de Luzia, brotaram outros olhos. >
Vendo que nada a fazia renegar a fé em Jesus Cristo, mandaram degolar a menina. Era 13 de dezembro de 304. A partir deste dia teve início a devoção à Santa Luzia, 12 dias antes do Natal para indicar ao cristão a necessidade de preparação espiritual.>
Luzia foi reverenciada também através da pintura e da literatura. Ela foi enaltecida pelo escritor Dante Alighieri, na obra A Divina Comédia, que atribuiu à Santa Luzia a função da graça iluminadora. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos, ganhando o mundo inteiro, permanecendo até hoje.>