Diálogo mostra que Moro era contra delação de Eduardo Cunha, diz revista

Em trecho divulgado pela revista Veja e pelo Intercept Brasil, juiz demonstra insatisfação com possibilidade

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  • Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2019 às 08:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evaristo Sá

Mais diálogos vazados pela revista Veja e pelo site Intercept Brasil mostram que o juiz Sergio Moro era contra a delação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, sobre as acusações de corrupção. Em um chat privado com o procurador do MPF Deltan Dalla­gnol, ele demonstra sua insatisfação.

"Rumores de delação do Cunha... espero que não procedam", escreve o juiz. Prontamente Dallagnol nega a delação. "Só. rumores. Não procedem. Cá entre nós, a primeira reunião com o advogado para receber anexos (nem sabemos o que vira) acontecerá na próxima terça. estaremos presentes e acompanheremos tudo. Sempre que quiser, vou te colocando a par", responde.

"Agradeço se me manter (sic) informado. Sou contra, como sabe", ratifica Moro. 

O procurador da força-tarefa da Lava-Jato na PGR, Ronaldo Queiroz, criou um grupo do Telegram com Dalla­gnol para avisar que foi procurado pelo advogado de Cunha para iniciar uma negociação de delação premiada. Após a entrada de membros do Rio no grupo, ele comenta que, em uma delação de Cunha, espera que ele entregue no Rio de Janeiro, pelo menos, um terço do Ministério Público estadual, 95% dos juízes do Tribunal da Justiça, 99% do Tribunal de Contas e 100% da Assem­bleia Legislativa.

Em outro trecho da reportagem, fica explícita a proximidade entre o procurador e o juiz, quando Dallagnol envia uma peça ainda incompleta para Moro avaliar. 

O documento se refere a uma manifestação do MPF sobre uma petição protocolocada pela Odebrecht.  “Quando sera a manifestação do mpf?”, pergunta. “Estou redigindo, mas quero fazer bem feita, para já subsidiar os HCs que virão. Imagino que amanhã, no fim da tarde”, responde o procurador. No dia seguinte, Dalla­gnol informa a Moro que a peça estava quase pronta, mas dependia ainda da revisão de colegas. “Protocolamos amanha, salvo se for importante que seja hoje. Posso mandar, se preferir, versão atual por aqui, para facilitar preparo de decisão”, escreve. Moro tranquiliza Dalla­gnol: “Pode ser amanha”. No dia 5, prazo final, por volta das 15 horas, Dalla­gnol manda pelo Telegram ao juiz a peça “quase pronta”. 

Orientações Uma troca de mensagens pelo aplicativo Telegram de 28 de abril de 2016, a qual a revista teve acesso em parceria com o site The Intercept Brasil, mostra Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa em Curitiba, avisando à procuradora Laura Tessler que Moro o teria avisado sobre a falta de uma informação na acusação contra um réu acusado de ser um dos principais operadores de propina no esquema de corrupção da Petrobras. O réu era Zwi Skornicki, representante da Keppel Fels, estaleiro que tinha contratos com a estatal. 

"No caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do (Eduardo) Musa (ex-funcionário da Petrobras) e, se for por lapso que não foi incluído, ele disse que vai receber amanhã e dá tempo. Só é bom avisar ele", teria escrito Deltan. "Ih, vou ver", teria escrito a procuradora em resposta. No dia seguinte, de acordo com a revista, o MPF incluiu um comprovante de depósito de US$ 80 mil feito por Skornicki a Musa e Moro, logo depois, aceita a denúncia e cita o documento que havia pedido na decisão.

'Fachin é nosso' A reportagem da revista também revela um trecho no qual Dallagnol, em 13 de julho de 2015, comenta com os colegas do MPF que se encontrou com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. "Caros, conversei 45 minutos com o Fachin. Aha, uhu, o Fachin é nosso", teria celebrado o procurador. 

Fausto Silva  Em outro trecho das supostas conversas, em 7 de maio de 2016, Moro comenta com Dallagnol que havia sido procurado pelo apresentador de televisão Fausto Silva. De acordo com o então juiz, o apresentador teria cumprimentado Moro pelo trabalho na Lava Jato, mas deu um conselho: "ele disse que vocês nas entrevistas precisam usar uma linguagem mais simples. Para todo mundo entender. Para o povão. Conselho de quem está há 28 anos na TV".

Procurado pela reportagem de Veja, Fausto Silva confirmou o encontro com Moro e o teor da conversa.