Diga-me para quem torce e te direi quem és

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  • Horacio Hastenreiter Filho

Publicado em 3 de agosto de 2019 às 14:30

- Atualizado há um ano

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Não são poucas as desavenças entre pessoas que torcem por times de futebol distintos. Entre os torcedores dos grandes times adversários no país, o desacordo é tal que levaria um desentendido no esporte, ao ouvir um torcedor descrevendo os torcedores do time adversário, a associar a preferência desses últimos a uma espécie de desvio ético irrecuperável. Via de regra, no entanto, as justificativas pela preferência clubística são as mais singelas: o clube do pai, dos amigos de infância, de um tio apaixonado por um time, os títulos recentes, entre outras.

Sou torcedor do Santos Futebol Clube e poderia enganar o leitor, apresentando uma justificativa altiva, como a de que o alvinegro praiano foi o único clube de futebol na história a interromper uma guerra entre dois países. Poderia evocar sentimentos nacionalistas, citando os jogadores santistas que ajudaram a ganhar as copas de 58, 62 e 70. Não mentiria se falasse da contribuição do clube para todas as modalidades do esporte, já que com Pelé, Marta e Falcão, o Santos reuniu as referências máximas nas versões masculina e feminina do futebol de campo e também do futebol de salão. Nenhuma delas seria verdadeira. Tendo nascido casualmente no município portuário, durante um período em que meu pai trabalhou na COSIPA, mudei-me para Salvador com quatro anos de idade. Aos seis, de tanto ouvir falar que nascera na cidade onde jogava Pelé, tive juízo suficiente para compreender que não poderia desperdiçar a oportunidade gerada pelo acaso. Certamente, apesar de não comuns, há histórias mais interessantes para explicar a paixão por um time de futebol.

Deixo as razões simples e naturais expostas até aqui e mudo o rumo da prosa para falar de um outro time de futebol: o Esporte Clube Bahia. Aquele mesmo que derrotou o Santos de Pelé na Vila no primeiro dos jogos da decisão do campeonato brasileiro de 1959. Sempre colocando o alvinegro praiano em primeiro lugar, abracei o Vitória como meu clube em Salvador. Dessa vez, influenciado por um amigo de infância e, talvez, pela minha eterna preferência por aqueles menos providos de sorte. Após a euforia inicial do título de 1972, ano de adoção do rubro-negro como meu time, vi o Bahia ganhar sete títulos estaduais seguidos. Desse modo, na lista dos meus clubes desafetos o Bahia liderava com folga.

O tempo passa e as coisas mudam. A amizade com um compadre tricolor e as constantes idas ao templo baiano do futebol começaram a arrefecer minha histórica antipatia. Primeiramente, me levando a uma certa neutralidade. Depois, a discretas comemorações que viriam a se tornar mais eufóricas, sobretudo depois que ele teve o desplante de desvirtuar o meu filho do bom caminho alvinegro, transformando-o em criatura tricolor, mais engajada que o seu criador. Arrebatadoras, no entanto, vêm sendo as recentes ações afirmativas da atual gestão. Primeiramente, combatendo a intolerância religiosa. Em seguida, com campanhas pelas mulheres no estádio e o combate à LGBTfobia. Mais recentemente, encampou um conjunto de ações em favor da demarcação das terras indígenas, questionando a concentração fundiária e chamando a atenção para a violência no campo.

Hoje em dia, o meu amigo é meu compadre duplo. Ganhou o título de padrinho do meu filho por saber bem encaminhá-lo futebolisticamente. BBMP!

Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor e atual diretor da Escola de Administração da UFBA.

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