Discussão de gênero no agronegócio

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 11 de outubro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Nos últimos dias oito e nove, aconteceu a quarta edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, em São Paulo. Entre tratores, chapéus e saltos, 1,9 mil mulheres produtoras de diversos naipes se reuniram para fechar negócios, conhecer novidades, fortalecer suas redes e discutir equidade entre homens e mulheres, nessa área.

Não está tudo bem...

No Brasil, 78% das mulheres afirmam que há discriminação de gênero no campo. Essa é uma das informações que o estudo realizado em 17 países a pedido da Corteva AgriscienceTM, nos traz. Na pesquisa - divulgada no final do ano passado e detalhada durante o evento - foram entrevistadas 4.157 produtoras rurais que vivem realidades distintas em cinco continentes, incluindo o nosso. Chama a atenção que 50% das mulheres brasileiras que trabalham no campo ainda relatem ganhar menos do que homens, desenvolvendo atividades semelhantes.

...mas pode ficar.

Já somos quase a metade dos agricultores do mundo e, além de apenas apontar problemas, trazemos as soluções. Da pesquisa, surgiram cinco propostas de ações que, de acordo com as produtoras rurais, ajudariam a superar os obstáculos à equidade no campo: mais treinamento em tecnologia (citado por 80%), mais educação acadêmica (citado por 79%), mais apoio jurídico e de outras formas, para ajudar as que sofrem discriminação de gênero (citado por 76%), sensibilizar o público para o sucesso das mulheres na agricultura (citado por 75%) e sensibilizar o público para a discriminação de gênero (citado por 74%).

Ficam as dicas para todos(as) e o exemplo da Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio, uma parceria da Corteva com a Fundação Dom Cabral e a ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio). O programa, norteado pelos cinco pontos levantados na pesquisa, apresentou suas primeiras 20 formandas, na última quarta-feira. A próxima turma terá 300 vagas e esse é só um dos sinais do crescimento da atuação feminina na área. Na primeira edição, foram 600 presentes no congresso. Quatro anos depois e com 1300 congressistas a mais, o evento é um exemplo contundente de que haverá cada vez mais produtoras como Rose, Bruna, Isabel e Hilda. Elas sabem que os desafios ainda são muitos, num campo de trabalho profundamente patriarcal. Mas que não somos mais invisíveis e é cada vez mais possível vencer. Bruna Beteli, Engenheira Agrônoma, produtora de soja e milho na região de Itaúba-MT. "Há um tempo, que papel a mulher teria no agro se não fosse o de “esposa de produtor” ou mesmo “filha do fazendeiro”? Hoje, o nosso papel no agro é imenso! Temos o poder e a responsabilidade de realizar a profissão mais linda: alimentar o mundo e mostrar o quanto somos capazes disso. Também vejo a importância de cada vez mais nos capacitarmos para isso e de apoiarmos outras mulheres a ingressar nesse meio". Isabel da Cunha produz soja e algodão no Oeste da Bahia. Foi a única presidente mulher da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). Hoje, é presidente da Associação de Produtores de Algodão do Tocantins (Apratins). "Se eu chego num banco, por exemplo, para buscar recursos necessários para a safra, os gerentes me conhecem e cumprimentam primeiro a mim. Se não me conhecem, talvez prestem atenção primeiro ao meu marido ou ao meu irmão, mas isso muda logo no início da conversa. (...) As mulheres estão tendo mais oportunidades de participar e você vê que esse crescimento da atuação das mulheres é constante. Mas é preciso buscar os espaços. Ir atrás mesmo e fazer acontecer." Rose Cerrato, bacharel em Direito, com especialização em Direito Ambiental, pela UFPR. Mora na Bahia, produz soja, milho e algodão no Piauí.

"Aos poucos, vamos desfazendo a ideia de ambientes laborais segmentados por gênero. Homens e mulheres podem e devem trabalhar juntos em qualquer área, para somar, trocar e até contrastar experiências. (...) As pesquisas mostram que em muitas empresas ligadas ao agro o número de mulheres aumentou consideravelmente, e o mais relevante: em cargos e posições de liderança." Hilda Loschi, agrônoma, agricultora e pecuarista no Norte de Minas "Apesar de todas as dificuldades, eu tenho a possibilidade de mostrar que, de dentro desse corpo feminino, a gente dá conta de tudo. Eu acho importante falar que o feminino não pode vir para ser o que divide. Tem que vir para agregar. Eu posso contribuir, ser agente de mudanças e, dentro do que eu faço hoje, trazer mais mulheres para essa atuação, para uma construção mais positiva. A gente precisa construir juntos. Para as mulheres, eu falo: estude, se capacite, se prepare".

* A colunista viajou a convite da Corteva