Do balão ao pau-de-sebo: saiba o que mudou nas festas juninas ao longo dos anos

CORREIO conversou com o pesquisador Nelson Cadena

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  • Gil Santos

Publicado em 2 de maio de 2019 às 05:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

O especialista em cultura popular, jornalista e publicitário Nelson Cadena conversou com o CORREIO e contou sobre a tradição e as transformações pelas quais passaram as festas juninas na Bahia. O pau-de-sebo não existia na versão original da festa, os italianos influenciaram nesta celebração tipicamente portuguesa, e até as fogueiras estão sendo alteradas nos últimos anos. Confira:

De onde vem a festa de São João? É uma festa de influência portuguesa, por conta da religião e da tradição de venerar esses santos em Portugal, mas também italiana. As quadrilhas surgiram na Itália e depois migraram também para Espanha e Portugal, chegando assim no Brasil.

Qual a relação dos baianos com as celebrações juninas? Essa sempre foi uma festa rural, depois que começou a se tornar urbana, com a realização dos grandes eventos, mas sempre dependeu da devoção com o santo da cidade. Em alguns lugares São João e em outros São Pedro. Eles são os mais fortes no interior da Bahia.

Tem registros de quando as festas juninas começaram no Brasil? Pesquisei esse tema por muitos anos e não encontrei muitos arquivos. O mais antigo é de 1930, mas elas começaram no século 19.

Mudou alguma coisa de lá pra cá? A festa perdeu ou ganhou algum elemento novo? Os balões. Essa tradição se perdeu. Na década de 1930 tinha músicas dedicadas a eles, eram elementos comuns nessas festas, mas desapareceu por conta da segurança, do risco de encostar em fios elétricos ou caírem em habitações. A sorte junina também está desaparecendo, aquela tradição de pular fogueira ou andar sobre brasas, por exemplo. No final dos anos 1970, quando surge o eletrônico, a festa começa a mudar ainda mais.

O senhor percebe alguma mudança recente no São João? O pau-de-sebo, por exemplo, não fazia parte da festa original. Ele foi incluído, acredito, na década de 1960 porque era comum em todos os tipos de festa de largo. Com o tempo ele foi desaparecendo desses eventos, por conta da sujeira provocada pela graxa, mas reapareceu nas festas juninas. Sobrevive também, por enquanto, as fogueiras, mas em alguns lugares já não se usa mais o modo tradicional, usam fogueiras simuladas para não ter que queimar lenha. O casamento da roça também resiste em algumas localidades.

Por que Salvador não tem essa tradição junina tão forte? Salvador é a cidade principal, então, muita gente migrou para a capital e nessa época volta para rever as famílias no interior. Mas Salvador festeja muito outro santo junino, Santo Antônio. A cidade tem o Forte de Santo Antônio, conhecido como o Forte da Barra, tem várias igrejas de Santo Antônio, o bairro de Santo Antônio, e realizas as rezas nas casas para Santo Antônio. Apesar disso, a presença de São João ainda é muito forte nos subúrbios, com ruas enfeitadas e festa. É uma questão cultural. Casamento na roça em Senhor do Bonfim, em 1982 (Foto: Arquivo CORREIO)