Do conforto de casa à folia da esquina: moradores se divertem em Carnaval de bairro

De Àttooxxá a Adão Negro, de Cajazeiras à Liberdade, bairros receberam mais de 120 atrações

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  • Tailane Muniz

Publicado em 5 de março de 2019 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Salvador opera em outra frequência no Carnaval. Quem curte a folia na capital de todos os santos [e todos os sons] se desdobra para chegar aos circuitos oficiais da folia. Seja de carro, ônibus ou moto - Bruna Marquezine que o diga -, o engarrafamento é diretamente proporcional à quantidade de gente que cola na pipoca do príncipe do Gueto, Igor Kannário.

É preciso ter fé. Não à toa, a quantidade de camisetas com a palavra manuscrita em forma de cruz ganhou as ruas da cidade. Preliminares textuais à parte, caro folião, há festa do Momo em todos os cantos. Se você mora em Cajazeiras, Itapuã, Liberdade, Plataforma, Boca do Rio ou Pau da Lima, não dê mole, tem Carnaval na sua esquina.

Desde sábado (2), a folia nos bairros tem animado uma galera que, além de não precisar se deslocar, também consegue economizar e se divertir bem pertinho do conforto do lar. Se o amigo ambulante vende duas piriguetes por R$ 5, a doméstica Soraia Fernandes, 41 anos, consegue comprar uma caixinha completa [com 12] por pouco mais de R$ 20, no mercadinho da rua. Àttooxxá fez galera sarrar (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Acompanhe todas as notícias do Carnaval Correio Folia 2019

Isso, comentou Soraia, sem falar que a pança pode ser abastecida em casa, antes de sair. E se a larica bater de novo, dá pra dar aquela corridinha na cozinha, entre uma atração e outra. "E vem a família toda, é muito mais tranquilo. Por ser mais perto, se torna o melhor Carnaval pra mim", garante ela, que mora na Boca do Rio há mais de 20 anos.

Você pode até pensar em justificar que, ainda assim, prefere o aperto do circuitos oficiais porque é lá, no Dodô e Osmar, onde estão concentradas as grandes atrações. Mas, olha, com o perdão da rima, não é bem por aí: hoje (5) tem Psirico em Periperi.

De boa Diferente de quem mora nos disputados prédios da Barra, Campo Grande e adjacências, a galera que vive na Boca do Rio não lida com a dificuldade de chegar e sair de casa, afinal, a pipoca de Saulo, Cláudia Leite e companhia ilimitada, passa bem longe dali.

Soraia  até gosta de uma muvuca, mas faz algum tempo que prefere mesmo é tomar uma cervejinha em qualquer lugar mais de boa. Encontrei com ela segurando uma latinha em uma mão e o filho, aniversariante do dia, em outra. Carla Cristina e Psirico se apresentam nesta terça-feira (5), na Boca do Rio e em Periperi, respectivamente (Foto:Reprodução) Tímido, Isaías completou 12 anos. Ele até que tentou passar batido, mas não se conteve ao ouvir o pagodão elétrico do Àttooxxa: "Eu vim para dar umas sarradas", disse, na iminência de iniciar um passinho. Mas a timidez venceu e o menino arrastou a mãe pra frente do palco pra ver de perto o grupo que abriu a noite de festa. Certo está ele.

Como toda cria de Salvador, a Àttooxxá sabe do que a galera gosta. Juntou calor, joguinho de sedução, uma pitada de molejo e, pronto, saiu do forno [literalmente!] a receita do pagodão mil grau [!] que fez a dona de casa Luana de Carvalho, 29, quebrar tudo: no sentido que nós falamos na Bahia, claro. 

Digamos que a festa aconteceu um pouquinho além da esquina de Luana, que mora em Patamares, vizinho à Boca do Rio. "Ah, mas ainda assim é muito perto. Pra mim, que vou atrás do Àttooxá em qualquer lugar, isso aqui é um paraíso. Tranquilo demais, só alegria".

Reluzindo purpurina, ela falava enquanto dançava e chamou atenção na frente do palco. Chegou a misturar o que respondia às minhas perguntas com versos da música preferida, 'Chora Cavaco'. Botou pocando, Luana, e como diz aquela belíssima canção do nosso conterrâneo, Caê Veloso, gente é pra brilhar. Em qualquer lugar.VEJA PROGRAMAÇÃO COMPLETA DO CARNAVAL DOS BAIRROS