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Caetano Veloso, Maria Bethânia e Chico Buarque estão no filme dirigido por Beto Brant e Camila Pitanga, filha do ator
Roberto Midlej
Publicado em 4 de abril de 2017 às 11:38
- Atualizado há um ano
Antonio Pitanga encontra Caetano Veloso em trecho do documentário sobre o ator (Foto: Matheus Brant/Divulgação)Foi durante as filmagens de seu sétimo longa-metragem, Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2011), que o diretor paulista Beto Brant, 52 anos, recebeu um DVD de Barravento, de 1962, o clássico de Glauber Rocha. (1939 -1981).O presente havia sido oferecido por Camila Pitanga, protagonista do filme de Brant. A atriz é filha do ator baiano Antonio Pitanga, que estava no longa de Glauber.
Depois de assitir ao DVD, Brant encantou-se ainda mais com Pitanga, que fazia um papel secundário em Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios.
O cineasta paulista deu-se conta, então, da importância de Pitanga para o cinema brasileiro. Ele havia trabalhado com cineastas fundamentais como Cacá Diegues e Walter Lima Jr., além de Glauber.
Brant convenceu-se que a vida de Pitanga, hoje aos 77 anos, conhecido também por sua militância a favor dos negros, merecia um registro.
Juntou-se então a Camila para realizar Pitanga, documentário que estreia nesta quinta-feira. É a estreia de Camila na direção e primeiro documentário de Brant, que dirigiu O Invasor (2001) e Os Matadores (1997).
Com a participação de artistas como Maria Bethânia, Chico Buarque, Caetano Veloso e Lázaro Ramos, o filme está longe de ser uma simples colagem de entrevistas sobre o ator, como observa Brant: “Nem Pitanga nem os convidados falam para a câmera. Nós mostramos ele conversando com os amigos, batendo papo com pessoas que ele não via havia 10, 20, 30 anos. E foi mesmo ele que escolheu quem participaria porque cada uma dessas pessoas joga luz sobre um momento da vida dele”.Camila Pitanga, filha do ator, dirige o filme com Beto Brant (Foto: Divulgação)CarismaE os papos com os amigos são ótimos, graças, especialmente, ao carisma de Pitanga, conhecido pelo seu espírito sedutor e sua alegria que, literalmente, contagia. Difícil segurar o riso diante das gargalhas dele lembrando histórias do passado com os amigos.
Com Bethânia, ele fala do namoro que tiveram na adolescência; com Clarindo Silva, sobre Mandela; com Caetano, lembra-se de um de seus primeiros trabalhos no teatro, A Morte de Bessie Smith.
Nascido em uma família pobre, filho de uma empregada doméstica, Pitanga arrumou um emprego como entregador de telegrama da Western Telegraph Company. Mas a arte acabou seduzindo-o, também, por necessidade de afirmação, como observa: “A cultura não era bem vista pela sociedade e um negro ali seria ainda menos bem visto. Mas a arte, por outro lado, me dava conscientização política e cultural. Eu poderia trabalhar na casa dos patrões da minha mãe, encerar a casa deles... mas a arte me permitia exercer a cidadania”.
Elementos fortemente ligados à cultura negra, como o samba, o candomblé e a capoeira aparecem frequentemente no filme. “Não há como dissociar Pitanga da luta negra. Ele expressa essa combatitividade dele sem rancor, sem mágoa. Mas sempre com disposição para a luta”, observa Beto Brant.
A paternidade também é um tema que ronda belos momentos do filme. Pai de Rocco e Camila, Pitanga os criou sozinho desde que se separou da mãe das crianças, a atriz Vera Manhães, em 1986. Ela mesma achava que o ator tinha melhores condições de criar os meninos. Camila tinha nove anos e Rocco, seis.
“Costumo dizer que criar, qualquer um cria. Difícil é educar. Minha mãe me deu um belo exemplo de como criar os filhos”, diz Pitanga que, após a separação, teve algumas namoradas, mas só voltou a se casar quando Camila tinha 16 anos. Em 1985, ele passou a viver com Benedita Silva, com quem ainda está casado.
FamíliaAo lado de Rocco e Camila, ele se lembra, no filme, como educava os filhos: “Quando eles faziam algo errado, eu não batia. Chamava para sentar e conversar. Às vezes, até pediam pra que eu desse um tapa, para acabar logo a conversa e eles pudessem brincar”.
A conclusão do documentário trouxe convites para Pitanga voltar ao cinema. No último fim de semana, ele encerrou as filmagens de Bandeiras e Retalhos, do músico e cineasta Sérgio Ricardo.
Em breve, começa a filmar na Chapada Diamantina a nova produção de Orlando Senna, do clássico Iracema (1975), que não filma uma ficção desde Diamante Bruto, de 1977.