Doença de mormo em jumentos já está controlada na Bahia, afirma Adab

A zoonose é infectocontagiosa e não tem cura

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 15 de setembro de 2019 às 08:15

- Atualizado há um ano

(Divulgação) A doença de mormo, que em maio deste ano levou à morte nove jumentos que iam para o abate em frigoríficos de Amargosa e Itapetinga, na Bahia, com vistas à exportação de carne e couro para a China, já está controlada no estado, informou nesse sábado (14) a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab). A zoonose infectocontagiosa (transmite dos animais para o homem) não tem cura.

Depois de gerar polêmica e apreensão de criadores de equídeos e muares do estado, o tema voltou ao assunto esta semana por conta de uma decisão judicial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, na quinta-feira (12), que cassou a liminar que proibia o abate de jumentos na Bahia desde 18 de novembro de 2018.

A liberação para os abates ocorreu na mesma semana em que a China anunciou a habilitação de 25 frigoríficos do Brasil para exportar para o país asiático. Entre eles está o Frinordeste, de Amargosa, único da Bahia a receber a liberação. O frigorífico, contudo, já abatia animais com este fim desde junho de 2017.

Defensores dos animais criticaram a liberação.

Registros do Ministério da Agricultura apontam que o couro e a carne dos jumentos passavam por Vietnã e Hong Kong (território autônomo do sudeste da China) antes de ir para a China, onde se extrai da pele e couro do animal substância usada para fazer o ejiao, remédio tradicional chinês que promete combater o envelhecimento, aumentar a libido nas mulheres e reduzir doenças do órgão reprodutor feminino.

Sem zona livre Apesar do controle anunciado, somente um estudo que será feito até 2021 pela Adab, sobre a saúde dos equídeos do estado, deve atestar que a Bahia não enfrenta mais problemas com a doença de mormo.

Para ser zona livre da doença, causada pela bactéria Burkholderia mallei e que pode infectar ainda outros animais, como felinos, a Bahia precisa ficar três anos sem registrar nenhum caso. No Brasil, segundo o Ministério da Agricultura, não há estado que seja livre da doença de mormo.“Hoje não há nenhum caso em aberto de mormo na Bahia. Nos próximos meses, vamos iniciar o levantamento completo sobre a doença no estado e submetê-lo ao Ministério da Agricultura para avaliação da situação sanitária no estado”, disse o diretor de Defesa Animal da Adab, Rui Leal.Em maio, quando os jumentos foram identificados com mormo, eles estavam juntos com outros 694 animais num confinamento em Canudos, no centro-norte da Bahia –os que tiveram exame confirmado para a doença foram sacrificados e enterrados. Hoje, contudo, são pouco mais de 240 animais, de acordo com Leal.

Os demais morreram devido a uma doença metabólica conhecida como hiperlipemia, desenvolvida em razão das condições de maus-tratos a que os jumentos eram submetidos quando foram encontrados em fevereiro desde ano em Canudos – eles passavam sede e fome e quando foram localizados já havia mais de 200 mortos.

Tutela Questionado sobre a decisão da 1ª Vara Federal Cível da Bahia, dada em 19 de março e que obrigava a União e o Estado da Bahia a darem assistência veterinária e garantir abrigo, alimentação e água aos animais, Rui Leal disse que “os jumentos estão sendo cuidados pela Frente”.

Ele se refere à Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, baseada em Salvador e que faz parte do Fórum Nacional de Proteção Animal, entidade com sede em São Paulo. Mas a tutela dos animais, formalmente, foi dada ao Fórum, que assinou um acordo como fiel depositário dos animais.

Mas como houve a decisão judicial que obriga o Estado da Bahia e a União a darem a assistência aos jumentos, o Fórum Nacional de Proteção Animal deixou de realizar ações mais efetivas.

Os animais, nesse tempo, vêm sendo alimentados com ração doada pela prefeitura de Euclides da Cunha, quem primeiro localizou os jumentos em situação de maus-tratos. Uma campanha chegou a ser feita pelas ONGs de defesa dos animais para arrecadação de dinheiro com vistas à compra de ração e remédios, mas ela não foi à frente.

Para a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, a liberação dos abates mostra “o descaso tanto do Ministério da Agricultura como do Governo do Estado e coloca em risco ainda mais nossa população e animais, descumprindo protocolos sanitários nacionais e mundiais e destruindo um patrimônio animal, que é o jumento”.

De acordo com o Ministério da Agricultura, a exportação de carne, pele e derivados de equídeos, bem como de animais vivos, depende das exigências sanitárias do país comprador.