Dois casos de reinfecção por coronavírus são confirmados no Nordeste

Ambos os pacientes são médicos que tiveram atuação na linha de frente de combate à covid-19 em Recife: uma mulher de 44 anos e um homem de 40 anos

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Publicado em 2 de outubro de 2020 às 14:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: RODRIGO BUENDIA/AFP

Um estudo coordenado pelo médico pernambucano Carlos Brito, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), traz evidências de reinfecção pelo novo coronavírus em dois médicos (uma mulher e um homem) que atuam na linha de frente de combate à doença em Recife.

Intitulado Segundo episódio de covid-19 em profissionais de saúde: relato de dois casos (em tradução livre), o trabalho foi publicado nesta quinta-feira (1º), na revista científica International Medical Case Reports Journal, e documenta casos, pela primeira vez no Recife, de segundo quadro do novo coronavírus com resultados positivos de RT-PCR (teste que faz a detecção direta do vírus em secreção respiratória e é o padrão-ouro para diagnóstico da infecção aguda).

O primeiro caso é um homem de 40 anos que apresentou febre e sintomas respiratórios no dia 10 de abril, com teste RT-PCR positivo e melhora completa dos sintomas em cinco dias. Após 44 dias, ele apresentou os mesmos sinais, além de anosmia (perda do olfato) e disgeusia (paladar alterado). Dois dias depois, ele foi submetido ao teste de RT-PCR, que novamente detectou o novo coronavírus.

O outro caso relatado no estudo é de uma mulher de 44 anos com atuação em uma unidade de referência para covid-19 no Recife. Ela teve início dos sintomas sugestivos da doença em 30 de abril, com teste de RT-PCR positivo. O quadro melhorou em seis dias. Mas em 24 de maio, ela apresentou febre, tosse e dor de garganta acompanhada de dor de cabeça, fadiga, dor muscular e diarreia. Além disso, nesse segundo episódio, a médica teve anosmia e disgeusia. Ela fez um novo teste RT-PCR, que detectou o novo coronavírus.

"O estudo permite confirmar que um segundo episódio de infecção pelo novo coronavírus não é usual, mas esse achado é importante do ponto de vista epidemiológico porque as pessoas que já tiveram covid-19 podem se achar protegidas e relaxar diante dos cuidados de prevenção, expondo-se sem medidas de proteção ao vírus", destaca Carlos Brito.

Para ele, se esses casos fossem frequentes, certamente saltariam bastante aos olhos. O médico salienta que os dois casos de segunda infecção têm como importante diferencial, em comparação a outros trabalhos semelhantes no Brasil e em outros países, o fato de os pacientes apresentarem sintomas em ambas situações que testaram positivo para covid-19. "E no segundo episódio, as manifestações clínicas foram ainda mais específicas para a doença, com a presença de anosmia e disgeusia."

O médico explica que as evidências de reinfecção pelo novo coronavírus são fortes nos dois casos analisados. Ele conta que o homem, após a primeira infecção detectada pelo RT-PCR, submeteu-se também ao teste sorológico (verifica a resposta imunológica em relação ao vírus), que deu negativo. "Isso sugere que o paciente não produziu anticorpos, na primeira infecção, para evitar a segunda. E só após essa, a sorologia foi positiva", afirma.

A mulher também passou pelo teste sorológico, que detectou presença de anticorpos. "Certamente eles não foram o suficiente para eliminar o vírus e, assim, evitar a segunda infecção. A partir desse caso, reforçamos que o fato de ter anticorpos não garante que o indivíduo está completamente protegido contra o coronavírus, que pode ter sofrido alterações. Outra situação é que o título de anticorpos pode cair após a doença", acredita Carlos Brito. O médico acrescenta que o sequenciamento do vírus, em momentos distintos de sintomas nos pacientes, é capaz de contribuir para reforçar a hipótese de reinfecção, a fim de fazer diferenciação entre casos de reativação de infecção anterior e casos de reinfecção, o que pode ser feito em estudos futuros que investiguem essa possibilidade. A reportagem do Jornal do Commercio, parceiro do CORREIO pela Rede Nordeste, entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) e foi informada que, neste momento, não vai se pronunciar sobre o estudo.

No fim de agosto, pesquisadores da Universidade de Hong Kong relataram o caso de um homem com diferentes cepas de covid-19, em amostras coletadas com intervalo de quatro a cinco meses, o que assegurou que eventos de reinfecção são possíveis. O homem estava assintomático no segundo momento em que testou positivo para o novo coronavírus.

Em setembro, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) atualizou informativo que fala de informações limitadas sobre reinfecções. "Os dados, até o momento, mostram que uma pessoa que teve covid-19 e se recuperou pode ter baixos níveis de vírus por até três meses. Ela pode continuar a ter um resultado positivo, mesmo sem disseminar a doença. Não há relatos confirmados, por enquanto, de pessoa reinfectada dentro de três meses do quadro inicial. No entanto, pesquisas adicionais estão em andamento", destaca o CDC.

*Matéria originalmente publicada no Jornal do Commercio, parceiro do CORREIO pela Rede Nordeste