Dólar alto adia sonhos de viagens internacionais

Moeda americana voltou a bater recorde e fechou ontem na maior cotação da história do real

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Amorim
  • Gabriel Amorim

Publicado em 27 de novembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Empresária desistiu de visitar filho nos EUA (foto: Arissom Marinho)

O preço do dólar tem deixado o sonho daquela viagem internacional mais distante, ou pelo menos mais caro. É que a cotação da moeda americana  está em viés de alta e ontem fechou a R$ 4,24  (na modalidade comercial a vista, que é a referência do mercado). É o maior valor na história do real. E poderia ter fechado com uma cotação  ainda maior caso o Banco Central não efetuasse uma operação de venda de reservas para conter a desvalorização da moeda brasileira. Na máxima do dia, a divisa americana enconstou em R$ 4,28. 

O dólar turismo fechou o pregão de ontem a R$ 4,41 para a venda (câmbio oficial divulgado pelo Banco Central). Mas em Salvador, o dólar nessa modalidade variou de R$ 4,37 a R$ 4,56 em levantamento feito pelo CORREIO em dez casas de câmbio da cidade.  Uma forma de traduzir esses números para vida das pessoas é constatar que a viajar ficou mais difícil.

A administradora e coaching empresarial Zaíra Vasconcelos, 61 anos, não sabe se poderá visitar o filho, Rodrigo, 19, que mora há 4 anos nos Estados Unidos.  “Quando ele vem, nesta época do ano, para as festas, eu e o pai geralmente voltamos com ele, para passar mais um tempo junto. Este ano, não vamos conseguir ir”, detalhou. “Em outras ocasiões, mesmo ele dizendo que estava tudo bem, eu fui, para dar um apoio, um suporte. Dessa vez, até comprei dólar caro, mas decidimos ficar e esperar que venha”, contou.  

Última hora Deixar a compra da moeda para dias antes de uma viagem, que tem sido a escolha de muitos baianos, pode não ser a melhor estratégia. “As pessoas ficam esperando que algo aconteça no governo, ou no cenário internacional que faça o dólar cair, e em cima da hora acabam comprando a moeda ainda mais cara”, disse Daniel Franco, responsável pelo setor comercial da Prime Câmbio. 

A fala dele  foi completada pela de Rodrigo Firpo, diretor da Conecta Câmbio: “A gente não vislumbra  um cenário de queda a curto prazo. Então o ideal seria a pessoa se planejar e se aquela cotação couber no bolso, comprar logo”. 

Por isso, o economista, educador financeiro e colunista do CORREIO Edísio Freire recomenda comprar dólar aos poucos. “Quando se compra moeda para uma viagem não se está  querendo ganhar dinheiro com o mercado financeiro. Então é melhor procurar estratégias para reduzir os riscos”, explicou. “O melhor é comprar aos poucos, assim a pessoa tem um preço médio mais razoável no final”, completou. 

O  gerente de tesouraria do Travelex Bank, Felipe Pellegrini, concordou com Edísio. “Não tem como acertar o momento exato do melhor câmbio. O melhor é ir comprando de pouco em pouco”. 

Outros destinos Comprar aos poucos foi  a estratégia do jornalista Victor Fonseca, 24, que decidiu sair do país para estudar cinema. Apesar de ter escolhido o Canadá, onde o valor da moeda é um pouco mais baixo, ele sofre os impactos do câmbio desde que tomou a decisão.

“Não escolhi o Canadá exclusivamente pela moeda, claro que ser mais barato que o dólar americano contou a favor, mas eu já conhecia o país. Mesmo assim tenho sentido o aumento desde que comecei a comprar o dólar no início do ano”.

No caso de Victor, foi possível comprar o dólar canadense a R$ 3,04 no início do ano. Na última compra, realizada há poucos dias, o valor da moeda já estava a R$ 3,24.

Por conta dessa realidade, o jornalista cogitou suspender a viagem, “Pensei em adiar os planos, e ainda tenho receio por conta dessa alta do dólar, mas estou buscando outras alternativas para poder fazer o curso”, contou. 

Uma de suas estratégias tem sido utilizar aplicativos de cartão pré-pago para comprar o valor que vai usar na temporada fora do Brasil. 

O casal Caio Souza, 25 e Flávia Reis, 24, seguiu orientações de especialistas.  Prestes a se casarem, eles vão viajar em lua de mel e passaram os últimos meses de olho no valor da moeda americana para conseguir comprar na melhor cotação possível. “Olho diariamente, e consegui comprar no menor valor que vi nesses últimos três meses”, contou Caio. “A gente só vai conseguir viajar porque se programou, comprou várias coisas com antecedência", completou Flávia, a noiva. Viagens programadas com antecedência, são maioria dentre as que têm sendo vendidas em Salvador.  “Essa alta do dólar deu uma freiada, uma assustada em quem quer viajar. Como essa é uma época de festa em que o pessoal se planeja para viajar, e compra com bastante antecedência, o réveillon, por exemplo, não tem caído o número de viagens. Apenas quem deixou para última hora que tem esperado pra ver se as coisas melhoram e o dólar baixa”, afirmou  Angela Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem na Bahia (Abav-Ba)

Dicas de especialistas para viajar com o dólar alto

Se programe Em viagens internacionais, fazer programações e fechar detalhes com antecedência significa economia. 

Não deixe o câmbio para o fim  Não foque apenas nos gastos com hospedagem e pacotes, deixando a compra do dólar para a última hora. Isso pode representar gastos extras. 

Compre mês a mês  O ideal é ir comprando a quantia necessária de dinheiro mês a mês, aos poucos. Assim, na média, o custo acaba sendo o melhor possível.   

Fique de olho no mercado  Se você for utilizar a estratégia do mês a mês, é importante ficar de olho no mercado para garantir a compra no dia em que o valor esteja menor.

Pesquise  As casas de câmbio têm pequenas variações de preço. Quando o montante a ser comprado é grande, uma variação de centavos fazem  a diferença, por isso pesquisar os preços vale a pena.

Evite o uso do crédito  Já fora do país, é interessante evitar o uso dos cartões de crédito. Afinal, no momento em que compramos não sabemos o exato câmbio que será utilizado na conversão na hora da fatura. 

Prefira os cartões pré pagos  Essa é uma modalidade de cartão onde o turista carrega um determinado valor da moeda ainda no Brasil e lá fora utilizam como um cartão de débito evitando surpresas na hora da conversão das moedas.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier