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Priscila Natividade
Publicado em 11 de março de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Elas não são apenas donas do próprio nariz, mas também do próprio negócio. O empreendedorismo feminino cada vez mais vem ganhando força. Segundo dados do Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae-BA), atualmente, dos mais de 430 mil microempreendedores individuais (MEIs) do estado, mais da metade são mulheres, o equivalente a 53,41%. >
Ainda de acordo com o Sebrae-BA, com base em dados de atendimento no último ano, os setores de Comércio (50,86%) e Serviços (38,76%) concentram a maior parcela das empreendedoras. Pelo menos 24,07% foram desligadas de emprego com carteira assinada e decidiram abrir um negócio. >
“Considerando a abertura de novos negócios, observa- se um percentual maior de mulheres do que de homens empreendendo. A principal motivação para o empreendedorismo feminino está diretamente ligada à independência financeira. Em sua maioria, elas são mães e responsáveis pela família”, destaca a gerente adjunta da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae-BA, Janaina Neves.>
Entre as áreas que mais favorecem o empreendedorismo feminino está a venda de vestuários e acessórios, beleza e estética, alimentação e comércio varejista de mercadorias em geral (supermercados). A especialista destaca, também, a tendência cada vez mais crescente de inserção das mulheres no mercado das startups. >
“O perfil da mulher empreendedora surge também como um diferencial, já que ela possui esse olhar mais cuidadoso para o negócio, está atenta a esses detalhes que o tornam único e são capazes de realizar múltiplas tarefas com o mesmo grau de desempenho em cada uma delas”, avalia Janaína Neves. >
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Empoderadas>
A empresária Jane Sampaio é dessas mulheres que empreenderam por necessidade e, com o passar do tempo, foi diversificando seus negócios. Jane gerencia um salão de beleza, uma oficina de conversão de gás veicular e ainda uma vidraçaria. >
“Para conciliar as três empresas é fundamental ter planejamento e não ter medo de arriscar. Comecei com a esquadria. Minha sogra tocava o negócio sozinha. Já tenho essa loja no Ogunjá há 28 anos. Recebemos de um dos clientes o salão de beleza como acordo de uma dívida. Entrei sem saber nada e joguei para frente. Aí surgiu a oportunidade do gás. Só tinha duas empresas há 15 anos aqui na Bahia que trabalhavam com isso”, conta. >
A empresa de esquadria chegou a faturar R$ 1 milhão. A oficina de conversão para gás veicular, R$ 500 mil. Enquanto o salão de beleza fatura algo em torno de R$ 100 mil. “Enfrentei muito preconceito ‘porque mulher não entende de mecânica nem de obra’. Mas venci com resistência”, diz Jane. >
E essas são só algumas habilidades femininas que favorecem o sucesso do negócio, como considera a cofundadora da escola para formação de empreendedores Sempreende, Luciana Padovez. “Como têm mais barreiras para superar, as mulheres costumam ser mais criativas e desenvolver produtos e serviços com uma elevada dose de identidade e afetividade. Elas têm maior foco no atendimento ao cliente e são mais eficientes para motivar sua equipe”. >
Empreendedoras e criadoras da primeira escola de liderança feminina do país, as sócias Carine Roos e Amanda Gomes dão o conselho para a mulher que quer ter um negócio próprio: “É necessário ter muita clareza sobre qual é o impacto que elas querem gerar e se isso está alinhado com seus valores”, recomenda Carine. >
Outro ponto fundamental é definir ações estratégicas, como completa Amanda. “Todo produto tem que ter uma transformação, um benefício para quem compra. Então, é importante entender o que você quer ser e o que quer se tornar por meio de seu negócio”.>
SIMPLICIDADE EM LARGA ESCALA Vó Sônia começou com uma loja de bolos e hoje soma 370 franquias (Foto: Divulgação) Sônia Ramos, a ‘Vó Sônia’, criadora da Casa de Bolos Começamos a Casa de Bolos em 2009, quando meu filho caçula foi desligado do trabalho. Já tínhamos, nessa época, o hábito de sentar em torno da mesa para comer meus bolos, que, feitos de forma simples e artesanal, faziam a alegria lá em casa. Era o momento para conversar, contar os casos, dar risada junto dos meus netos. O nosso negócio, que começou na simplicidade e necessidade, tinha muito potencial para crescer. No início, alguns chegaram a desconfiar do potencial do bolo caseiro e sua possibilidade de produção em grande escala, além, é claro, do desafio em manter em nossos bolos a mesma qualidade e carinho que eu fazia em casa. Na minha opinião, o que talvez a mulher agregue ao negócio é ter o sexto sentido, digamos assim, mais aflorado. Nós somos mais atentas aos detalhes e reconhecemos com mais facilidade as expressões de alegria ou tristeza. Para quem lida diretamente com o público, identificar esses sinais faz uma grande diferença. Seja quem está atendendo ou operando o negócio, ao identificar essas nuances, tem uma vantagem: se aproximar por empatia do público final. Hoje, a Casa de Bolos tem 370 unidades presente em 16 estados. Uma delas está em Salvador, no bairro de Itapuã. Ainda em 2019, a nossa expectativa é chegar a 400 unidades. O mercado de bolos caseiros tem sido muito bom para o empreendedorismo. Em menos de 10 anos de operação produzimos, aproximadamente,40 mil bolos em toda a rede. São números bastante expressivos que nos mostram um pouco do potencial do mercado e quanto ainda podemos explorar no segmento nos próximos anos. Falando em lojas, muitas delas são administradas por mulheres que, com muita garra e força de vontade, têm sido ponto fundamental na construção da marca Casa de Bolos e da propagação de nossos conceitos e valores. >
CINCO SEGMENTOS QUE FAVORECEM O EMPREENDEDORISMO FEMININO>
1. Comércio varejista de artigos de vestuário e assessórios De acordo com dados do Portal do Empreendedor, do Sebrae-BA, o segmento concentra atualmente o maior volume de microempreendedoras individuais. “Se olharmos as estatísticas, vamos encontrar um número grande de mulheres nos setores de Comércio e Serviços, principalmente em áreas onde elas se sentem mais atraídas, como é o caso dos artigos de vestuário, por exemplo”, afirma a gerente adjunta da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae-BA, Janaína Neves. >
2. Beleza e Estética É mais um segmento que Janaína destaca o interesse feminino. “O ponto em comum é que essas atividades, em sua maioria, estão sempre em alta por atenderem necessidades básicas”, explica. >
3. Alimentação É mais um segmento que concentra um grande número de empreendedoras. Por isso, a dica da gerente adjunta da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae-BA é inovar: “São atividades também que precisam ser executadas observando os detalhes, para buscar a diferenciação em relação aos concorrentes”, analisa.>
4. Comércio varejista de mercadorias em geral (supermercados) O segmento também está entre os que mais concentram empreendedoras, conforme dados do Sebrae-BA. “Os negócios estão onde as empreendedoras enxergam suas oportunidades e entendem os motivos que a levam a abrir uma empresa”, fala a técnica do Sebrae-BA. >
5. Startups Ainda de acordo com a gerente adjunta da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae-BA, é cada vez maior o número de mulheres comandando startups. “Os negócios ligados à tecnologia vêm se mostrando como mais uma oportunidade para as mulheres, sobretudo no que diz respeito a solucionar demandas da sociedade”. >