Dos Esportes e Lazer

É essencial a instalação de parques infantis e a criação de espaços de lazer para idosos

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  • Waldeck Ornelas

Publicado em 31 de outubro de 2020 às 11:00

- Atualizado há um ano

As prefeituras costumam se omitir na formulação de uma política pública de esportes e lazer, contando com que a população, por iniciativa própria, dê conta do recado, encontrando as suas próprias alternativas. Na realidade, toda localidade tem pelo menos o seu campinho de futebol improvisado, onde a garotada e até os adultos se divertem. Mas isto é muito pouco. 

Quando se fala em esportes, não se pode pensar apenas em futebol, o esporte mais popular entre nós, mas no conjunto de atividades que envolve todo o setor. Uma boa referência podem ser os esportes olímpicos, não sob o prisma da alta performance, mas como um leque de atividades de prática mais comum em todo o mundo, inclusive em nosso país.  

O que se trata aqui é da necessidade de uma política estruturada para as atividades de esportes e lazer que cada Município precisa ter, para atender aos seus cidadãos, criar e oferecer opções para sua população, atendendo às distintas faixas etárias e atraindo a juventude para atitudes sadias. 

Não se pode esperar que municípios minúsculos do ponto de vista demográfico, frágeis do ponto de vista econômico e limitados do ponto de vista fiscal venham a estabelecer políticas que incluam compromissos de alto rendimento nas suas agendas esportivas, mas é indispensável que existam ações estruturadas capazes de mobilizarem e servirem à comunidade local. Cuidar dos esportes e do lazer da população também é política pública, principalmente no nível municipal de governo. 

Tampouco é preciso contar com um estádio de futebol ou um ginásio de esportes para implementar uma política nessa área. Até porque esses equipamentos, onde existentes, destinam-se ao esporte profissional. Mas certamente há, em cada cidade, espaço para uma quadra polivalente em uma praça pública, um campo de futebol nos arredores ou uma sala onde possa ser colocado um tatame ou uma mesa de tênis-de-mesa.  

Frequentemente as escolas contam com infraestruturas e equipamentos, como quadras poliesportivas, redes, bolas etc. que ficam inacessíveis à população, embora fechadas fora do horário de aulas, caracterizando uma subutilização dos investimentos públicos; por outro lado, equipamentos existentes na cidade precisam estar à disposição das escolas, para uso pelos seus alunos, de preferência no contraturno. 

É indispensável otimizar o uso dos recursos existentes, para atender à população. Ao órgão responsável da prefeitura – que não precisa ser uma secretaria – cabe promover as atividades, alocando os horários, organizando os grupos, estruturando campeonatos, fornecendo materiais, atribuindo premiações e coordenando a programação. Desejável que sejam disponibilizados instrutores para diversas modalidades; campeonatos escolares e de bairros podem se constituir em elementos motivadores da comunidade.  

Esta atenção é tanto mais importante agora, quando as preocupações com a vida saudável tem feito com que cada vez mais pessoas pratiquem esportes, caminhadas, ciclismo etc., em atividades ao ar livre, que as prefeituras precisam apoiar, criando as condições necessárias. Isto está diretamente relacionado com o urbanismo, os projetos de infraestrutura, iluminação pública, manutenção urbana, entre outros. É essencial a instalação de parques infantis para as crianças, assim como a criação de espaços de lazer para idosos, com ambientes para exercícios físicos, jogos de mesa e convivência.  

É interessante observar como muitas vezes, grandes revelações vêm de condições naturais, independente de investimentos públicos, que estão lá disponíveis e não são percebidas. Por exemplo, foi do baixo rio de Contas, na Bahia, que saiu o campeão olímpico brasileiro de canoagem – Isaquias Queiroz, e não apenas ele, mas toda uma plêiade de atletas. Uma sólida cultura de canoagem desenvolveu-se na área. 

As prefeituras precisam estar atentas. De repente, quando menos se espera, sai um campeão olímpico. 

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional.