Drones do Exército vão mapear estragos da chuva no interior da Bahia

Cidades atingidas receberam reforço de 100 militares

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  • Da Redação

Publicado em 15 de dezembro de 2021 às 05:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Manu Dias/GOVBA

Drones do Exército serão usados para mapear e identificar as áreas pouco acessíveis atingidas pelo temporal que provocou mortes e causou estragos nas regiões Sul e Extremo-Sul da Bahia. Nesta terça-feira (14), 100 integrantes do 35° Batalhão do Exército de Feira de Santana se deslocaram para as cidades mais afetadas. Uma base será montada em Eunápolis e, de lá, os militares vão se dividir para atuar em outras localidades. Ao todo, 51 municípios decretaram estado de emergência por conta da chuva. 

Além dos drones, a ajuda do Exército para as cidades destruídas pelas enchentes e deslizamentos prevê carros-pipa para levar água aos locais que enfrentam desabastecimento. Ontem, a primeira missão dos militares foi no distrito de Nova Alegria, em Itamaraju, levando mantimentos para a comunidade local. A cidade teve cerca de 90% do seu território devastado depois das fortes chuvas, de acordo com a assistente social Adriana Novaes, que atua na Secretaria de Desenvolvimento Social do município. 

Durante o Papo Correria transmitido nesta terça, o governador Rui Costa anunciou que o projeto de lei enviado à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), que garante a tarifa social na conta de água para moradores das cidades atingidas, foi aprovado por unanimidade. A medida visa facilitar a limpeza e reestruturação de casas e comércios atingidos. Também foram aprovados os recursos de R$ 20 milhões em financiamento aos comerciantes das cidades atingidas.

Em Itamaraju, onde foram registradas três mortes devido aos temporais, foi instalado o gabinete de crise do governo estadual, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A ideia é que, com a estrutura mais próxima, o planejamento e a execução das ações emergenciais de recuperação das cidades destruídas pelo temporal sejam reforçados. Após uma reunião com lideranças locais e políticos, foram instituídas coordenações dedicadas à saúde, limpeza, logística e distribuição de alimentos. Secretários se reuniram com moradores de Itamaraju para criar estratégias de amparo às famílias (Foto: Manu Dias/GOVBA) Equipes também foram organizadas para fazer o cadastramento das famílias que terão direito às doações. Ontem, os secretários da Casal Civil, Carlos Mello; da Saúde, Tereza Paim; de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis; e o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), José Trindade, estiveram em Itamaraju.

Para evitar surtos de doenças infectocontagiosas que costumam surgir após chuvas e alagamentos, como leptospirose e dengue, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) vai entregar 60 tipos de medicamentos e vacinas. Além de testes para covid-19 e máscaras para a população das regiões afetadas. 

Itamaraju sofre com os estragos da chuva

Itamaraju tem pelo menos 90 famílias – cerca de 250 pessoas - que precisaram sair de suas casas e se encontram em abrigos, ainda segundo a assistente social Adriana Novaes. Maria Glória Ramos, 45 anos, é uma dessas pessoas. A empregada doméstica mora na rua Espírito Santo, onde um deslizamento de terra matou duas crianças e um homem, na quarta-feira (08). Glória conta que os vizinhos eram amigos: “A menina que morreu brincava com uma das minhas filhas aqui na rua sempre”. 

Glória, o esposo, duas filhas e um neto, deixaram a casa que está sob risco de desabamento após muita resistência e só depois que membros de uma Igreja Batista da cidade foram insistir para que eles se deslocassem para um local seguro. Agora, a família está abrigada no templo evangélico e não tem previsão de quando poderá retornar para a própria moradia. “Ainda ficou muita gente lá na rua, muitas pessoas não quiseram deixar suas casas”, afirmou Glória. 

Mércia Rodrigues, 49, também é moradora de Itamaraju e, apesar de não ter sofrido com os impactos da chuva diretamente, prestou socorro à vizinhança. Sua casa abrigou três vizinhos, além de móveis que conseguiram ser salvos na chuva da última quinta-feira (09).

“É muito triste mesmo, conheço pessoas que perderam tudo e ficaram só com a roupa do corpo. Eu nasci aqui e nunca vi nada parecido”, afirmou a lojista. Mércia ressaltou ainda que a população é muito unida e que não poupa esforços para ajudar o próximo: “Até quem está de mal faz as pazes nessa hora, é todo mundo muito unido”. 

Comunidades ilhadas 

O aumento do nível dos rios causado pelos temporais tem prejudicado a locomoção de pessoas que vivem na zona rural de muitas cidades. No município de Caetanos, no sudoeste da Bahia, a região de Riachão do Gado Bravo tem sofrido com a falta de mantimentos, que chegam ao local, em sua maioria, de Vitória da Conquista. Maria do Socorro Vieira, que está ilhada na localidade, diz que não sai de casa há, pelo menos, 15 dias. Os rios Riachão e Gavião banham a área. Morador teve a moto levada pela chuva enquanto tentava buscar mantimentos, em Caetanos (Crédito: Foto do leitor) “Desde que eu nasci é assim, quando chove ficamos sem ter como sair daqui. A diferença é que agora nós temos como fazer imagens para provar o que passamos”, desabafou a moradora. Maria do Socorro contou ainda que um vizinho tentou ir de moto buscar alimentos em uma cidade vizinha e foi impedido pelo alagamento: “A água acabou levando a moto dele embora e ele ainda deu graças a deus por ter salvado a vida”. 

Caetanos não é um dos municípios em estado de emergência, apesar de parte da população ter sido afetada. De acordo com o último balanço divulgado pela Defesa Civil do Estado (Sedur), anteontem, até agora a chuva já causou 11 mortes em seis cidades baianas, além de 267 feridos, 6.371 desabrigados e 15.199 desalojados. Ainda segundo a Sedur, a população afetada chega a 220.297 pessoas. Em Amargosa seguem as buscas por Gildásio Ribeiro, que desapareceu após o soterramento de uma casa.  

Vale dos Búfalos, no sul da Bahia, fica alagado

A região conhecida como Vale dos Búfalos, entre Trancoso e Caraíva, foi fortemente impactada pelos temporais, quando o nível do rio Buranhém aumentou. Ao todo, 80 búfalos tiveram que ser transportados de caminhão para uma fazenda em uma localidade mais alta, no sábado passado (11). No dia seguinte, toda a região ficou inundada. 

O engenheiro agrônomo e proprietário das terras, Roberto Cangussu, 54, conta que quando a água ultrapassou o nível da ponte na BR-101, em Eunápolis, começou a imaginar que estragos poderiam ser sentidos na região.

“Pela experiência a gente já sabe que, em cerca de quatros dias, essa água começa a chegar por aqui. Todo ano ocorre um momento maior de chuva, mas nada parecido com o que aconteceu agora”, afirma o fazendeiro, que reside há 25 anos na propriedade. Boa parte da região do Vale dos Búfalos ficou alagada (Foto: Roberto Cangussu/Trevo dos Búfalos) Roberto afirma que os maiores prejuízos enfrentados são os custos da logística do transporte dos animais, diminuição da receita e danificação do capim. “Talvez daqui a 30 dias ainda vamos estar sofrendo os impactos, o nível baixou um pouco, mas para voltar a normalidade ainda vai demorar”, explica. Outra preocupação é que nessa época do ano, de alta temporada, a fazenda atende a clientela de restaurantes e hotéis, com os derivados do leite dos búfalos. Momento em que os animais foram levados de caminhão para outra propriedade (Foto: Roberto Cangussu/Trevos dos Búfalos) Bebê nasce um pouco antes de estragos

Um bebê chamado Victor nasceu algumas horas antes do temporal atingir o Extremo-Sul do estado. Os pais, Eliana Oliveira e José Victor Oliveira, são moradores de Jucuruçu e viajaram para a cidade de Itamaraju, a cerca de 100 quilômetros, quando a mãe começou a sentir dores. “Quarta-feira [na semana passada] estava marcado o parto, mas como eu estava com muita dor, mandei mensagem para o diretor do hospital e ele mandou eu ir logo”, contou a mãe em entrevista para a TV Bahia, nesta terça-feira (14).

Eliana disse ainda que o marido viu no jornal que a previsão era de muita chuva para os próximos dias e que, por isso, eles arrumaram com pressa as malas. O casal mora no povoado de Coqueiros e até a manhã desta terça não sabia como a residência estava. “Queremos voltar para casa e ver como está lá, porque a gente não sabe se danificou alguma coisa”, disse José na entrevista à emissora. 

O pai também afirmou que o filho é um “anjo que Deus mandou” e que a família está muito feliz com o nascimento do pequeno Victor, apesar de todo o sofrimento que a região vem enfrentando. 

Caixa anuncia medidas de apoio aos municípios atingidos

A Caixa Seguridade anunciou, anteontem, procedimentos especiais para moradores das cidades afetadas pelas enchentes no sul da Bahia e em Minas Gerais, estado que também enfrenta dificuldades causadas pelas chuvas. Entre as medidas anunciadas estão uma central de atendimento com equipes reforçadas e com opção específica para os moradores.  

A Caixa afirma que os procedimentos de pagamento de indenizações para processos de até R$ 10 mil tem prioridade na análise e aprovação. O prazo para pagamento é de dois dias úteis para alagamentos, inundações e destelhamentos. 

Quem tem seguros contratados até  17 de março de 2021 devem entrar em contato pelo 0800 702 4000 e digitar a opção 5. Para os que foram contratados a partir do dia 18 de março deste ano, podem contatar o 0800 722 4926, que possui atendimento 24 horas. Demais acionamentos devem ser feitos pelo 0800 722 4923.

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.