Duas tartarugas são encontradas mortas na Praia da Boa Viagem

De janeiro a agosto, a Bahia registrou 778 encalhes de tartarugas

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  • Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2019 às 10:57

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/Secom

Duas tartarugas marinhas da espécie Aruanã, também conhecida como Verde, foram encontradas mortas na Praia do Meio, no bairro da Boa Viagem, no começo da manhã desse domingo (22). Ainda não se sabe a razão das mortes. De acordo com o fundador do Projeto Tamar, o oceanógrafo Guy Marcovaldi, provalvemente elas foram mortas por redes, que hoje representam a principal causa de mortes de tartarugas marinhas no Brasil e no mundo.

"Muita gente confunde com plástico, não deixa de ser um plástico. O plástico é prejudicial às tartarugas, mas as redes são mais ainda", avalia Marcovaldi. De janeiro a agosto, a Bahia registrou 778 encalhes de tartarugas, sendo que apenas três delas conseguiram sobreviver e foram devolvidas ao mar. A informação é do Projeto Tamar e da ong A-mar, que atuam na proteção a esses animais. (Foto: Divulgação/Secis) A maioria dos registros, 683, ocorreram no litoral norte da Bahia, entre a Praia do Forte, em Salvador, até a praia de Mangue Seco (na fronteira com Sergipe). A área é de monitoramento do Projeto Tamar.

O restante dos casos – incluindo as três tartarugas que foram salvas – foi registrado no litoral sul do estado, nas cidades de Maraú, Itacaré, Ilhéus e Uruçuca (em Serra Grande), onde o monitoramento é feito pela A-mar.

Os números deste ano já são maiores que os registros do ano passado, quando houve 684 encalhes nas duas áreas de monitoramento (550 casos no litoral norte e 134 no litoral sul).

A diferença de números entre um litoral e outro se dá porque as tartarugas estão mais presentes no litoral norte, onde o Projeto Tamar monitora, durante a temporada da desova, cerca de 8 mil ninhos. De acordo com Marcovaldi, o perímetro entre Salvador e o Rio São Francisco é considerado a maior área de desova da tartura marinha da América do Sul

Das sete espécies de tartarugas marinhas que existem no mundo, cinco ocorrem no Brasil: cabeçuda, de oliva, de pente, verde e de couro, sendo que a maior parte das que realizam a desova são as tartarugas de oliva.

Cada uma das tartarugas consegue colocar até 120 ovos, e a cada mil filhotes que conseguem chegar ao mar apenas três conseguem chegar à fase adulta, com 20 anos de idade. O Tamar estima que até dezembro estará soltando o filhote de número 40 milhões.

Limpeza das praias Além dos animais, pneus, tecidos, sacos plásticos e até um vaso sanitário foram recolhidos na ação que marca o Dia Mundial da Limpeza (Clean up Day) em Salvador. Cerca de 80 voluntários, entre mergulhadores e famílias de moradores do bairro, se reuniram neste domingo (22), das 8h às 12h, e participaram da limpeza das areias e do mar da Praia do Meio.

Com um hora e meia de coleta, os mergulhadores já tinham retirado do mar três pneus de caminhão, um vaso sanitário e 500 sacos plásticos, além das duas tartarugas.

“Todos esses materiais retirados causam um impacto enorme para ambiente e pra nós. Os animais marinhos não conseguem diferenciar o que é lixo de outras coisas na hora de se alimentar. Dependendo da quantidade e do que é ingerido, os animais não conseguem mais comer e podem sofrer cortes, tendo assim hemorragias fatais”, explicou a bióloga Carolina Morais.

De acordo com o secretário de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência de Salvador, André Fraga, a ação também tem um caráter de mobilizar moradores e comerciantes locais para a criação do Parque Municipal Cavalo Marinho.

“Estamos começando o movimento para envolver a sociedade acadêmica e os setores público e privado, além do cidadão, para criarmos mais um parque marinho na cidade. O objetivo é proteger as diversas espécies da fauna e flora marinha que vivem no local e tornar o lugar mais sustentável para as famílias que frequentam o mar de Boa Viagem”, disse Fraga.  

Além de Boa Viagem, as praias do Porto da Barra, São Tomé de Paripe, Stella Maris, Pedra do Sal (Itapuã) e Cantagalo também realizaram ações dentro da programação do Clean Up Day neste final de semana.  

O que fazer ao se deparar com um animal marinho morto Ao longo de todo o ano, diversas aparições de tartarugas, pinguins, golfinhos, focas, lobos-marinhos e, principalmente, de baleias são registradas nas praias soteropolitanas. A temperatura um pouco mais quente, correntes marítimas mais altas, ventos fortes e o clima tropical favorecem a chegada desses visitantes inusitados às areias da capital baiana.

O aparecimento de mamíferos marinhos chama a atenção dos banhistas, mas a orientação dos especialistas é que os curiosos mantenham distância dos animais, até mesmo para tirar fotos. Na última sexta-feira (30), uma baleia jubarte morreu após encalhar na praia do bairro de Coutos. O mamífero era um adulto, media cerca de 15 metros de comprimento e pesava, aproximadamente, 39 toneladas.

Somente neste ano foram registrados 42 encalhes de baleias no litoral brasileiro pelo o Instituto Baleia Jubarte, sendo que 14 deles foram na Bahia. Em Salvador, de janeiro a agosto, duas baleias morreram após encalhe.

Segundo o Instituto Baleia Jubarte, o fenômeno de aparição dos animais ocorre porque é neste período, entre os meses de julho a novembro, que eles aproveitam as águas quentes do arquipélago de Abrolhos e do litoral da Bahia para se reproduzirem.

Os locais mais propícios são as águas calmas e com alimentos, áreas onde a plataforma continental sofre um alargamento e mantém as águas rasas por mais de 200 quilômetros mar adentro. O instituto lembra ainda que o maior número de encalhes que vem ocorrendo nos últimos anos é decorrente da recuperação da população de baleias jubarte.

De acordo com o supervisor do Grupo Especial de Proteção Ambiental (Gepa), Robson Pires, das 26 espécies de baleias, 19 visitam o litoral brasileiro, por ser um ambiente rico em biodiversidade e gerar condições para reprodução e crescimento de milhares de animais e vegetais.

“As baleias que chegam à nossa costa ou já estão mortas ou muito debilitadas, devido a ataques de predadores, doenças ou politraumatismos provocados por choques contra grandes embarcações. Nesses casos, as chances de sobrevivência são poucas e o tempo para o socorro é curto”, afirma Pires.

Ele lembra ainda que, mesmo machucados ou doentes, estes animais têm a capacidade de nadar até a praia como último recurso para manter o orifício respiratório fora da água e conseguir respirar.

“O contato com o animal é muito perigoso pelo risco de transmissão de doenças, seja pelo contato direto ou respirando o ar que ele expele quando respira. No caso de animais dentro d’água e na zona de arrebentação, há risco de afogamento ou de o animal se debater, podendo ocasionar ferimentos graves como fraturas e até mesmo causar a morte. Por isso, sempre recomendado que a população não se aproxime”, afirma o coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes.

O titular da Coordenadoria de Salvamento Marítimo de Salvador (Salvamar), Yure Carlton, recomenda que, em situações como essa, o cidadão deve acionar os órgão competentes para fazer a remoção do animal. “Só uma equipe especializada poderá identificar as condições do animal, ver se está ferido ou tem alguma indicação de doença, antes de fazer a remoção de maneira rápida e segura. Se aproximar de um animal desse porte é muito perigoso, porque quando eles encalham, entendem que estão sob algum tipo de risco e pode acabar machucando quem estiver por perto”, explica Carlton.

Em caso de aparecimento de animais silvestres ou marinhos, a população deve acionar a Guarda Civil Municipal, através do número (71) 3202-5312. Além de órgãos como a Salvamar, Ibama, Polícia Ambiental e o Instituto Baleia Jubarte.