É Carnaval, é? Dois de Julho tem churrasco, cerveja e diversão

Muitos baianos escolhem curtir o desfile bebendo e petiscando

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 2 de julho de 2019 às 15:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Um dos hinos da música popular da Bahia, ’Chame Gente’, já canta os baianos como sagrados e profanos. A mistura, no entanto, não toma conta das ruas só durante as festas de fevereiro. O Carnaval guarda, inclusive, muitas semelhanças com outra importante festa popular do calendário baiano. Nos desfiles de Dois de Julho, a multidão também invade as ruas e há quem tire o dia para curtir e se divertir, como se fosse um dia de folia. 

“Eu tenho cerveja gelada e empedrada, que é pra levar porque o caminho é longo”, gritava uma ambulante ainda nos primeiros metros do percurso realizado para celebrar a Independência da Bahia. Entre fanfarras, turistas e aqueles baianos que entendem a festa como um dever cívico, não era difícil encontrar quem seguisse o conselho da vendedora de cerveja.

Com o pequeno Davi no cangote, o engenheiro Jefferson Marques, 31, aproveitou o feriado para mostrar ao filho a festa que fez parte da sua criação “Eu estudei em escola militar a vida toda, sempre vim desfilar. Quero que ele conheça desde cedo essa tradição”, explica. Nada fora do comum se não fosse o detalhe da latinha de cerveja que ele levava pelo caminho. “A gente cumpre o dever cívico mas se diverte também não é?”, brinca. 

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Pelo caminho, figuras como os amigos universitários Raphael Lira, 22,, e Lina Almeida, 23, brincavam ao som das fanfarras. Quando questionados sobre a importância da festa eles são sinceros. “Me faz lembrar as aulas de história da escola, mas eu venho mesmo é pra curtir”, diz Raphael. “É bom pra matar a saudade de brincar na rua, não precisa esperar o carnaval do ano que vem”, completa Lina aos risos. Rômulo Magalhães levou para a calçada da casa onde morou o seu negócio de espetos (Foto: Gabriel Amorim/CORREIO) No sobe e desce das ladeiras do Centro Histórico, a vontade de se divertir de quem vem ao Dois de Julho, não passa despercebida por quem mora pelo caminho. Pode, inclusive, virar oportunidade de um trocado extra no final da festa. É o caso do professor universitário e empresário Rômulo Magalhães, 53, que transforma a porta de casa em um pequeno bar.

O professor, que também é empresário e dono de uma espetaria, transferiu os espetinhos para a calçada da casa da família. "Dá pra curtir, protestar e ainda garantir um trocado", explica. Mesmo aproveitando para faturar, o professor acredita na força da festa.

"Dois de Julho mistura civismo, religiosidade, e é claro muita diversão. Vale muito a pena", opina.

A autônoma Marta Lemos, 42, resolveu parar perto dos espetinhos de Rômulo para ver o desfile passar. “Aqui não passo fome, não passo sede, e ainda curto com calma”, explica ela que estava acompanhada dos sobrinhos pequenos.     O personal trainer Alan dos Santos de galera: com a familia e o proprio cooler para garantir a cerveja gelada (Foto: Gabriel Amorim/CORREIO) Outro morador que resolveu curtir a festa da independência de uma forma diferente, o personal trainer, Alan dos Santos, 37, não vem sozinho. Há dez anos, sempre vai à festa ‘de galera’ e acompanhado do próprio isopor, carregado de cerveja gelada. "Para mim é uma festa pra curtir e ficar tranquilo com a família tomando a cervejinha. Não gosto de ter que ficar procurando pra comprar, então tem uns 10 anos que trago de casa", conta. A vendedora ambulante Iêda Oliveira, 53, diz que a vontade de curtir tomando aquela ‘breja’ não é exclusividade de Alan. “É muita gente que para aqui e fica só bebendo e espiando”, conta ela que espera o movimento bom de todos os anos, para voltar pra casa de isopor vazio. 

A forma de curtir as comemorações da independência acaba se revelando plural, como é o próprio desfile. Existem até aqueles para quem o desfile, carregado de seus simbolismos históricos, apenas passa. “Eu fico por aqui, bebendo, petiscando, dando aquela olhada. As vezes dá vontade de seguir o cortejo, as vezes não. É o destino que vai dizer para onde eu vou”, filosofa o eletricista Messias Silva, 50, que mesmo sem acompanhar de perto a parte histórica da festa se faz presente há mais de 10 anos. Nos anos em que a vontade de seguir o cortejo aparece, uma coisa é certa. “Quando eu subo, paro em um outro bar lá em cima para tomar mais uma”, conta ele enquanto bebe a sua cervejinha e come um petisco de presunto.  O eletricista Messias Silva gosta de aproveitar o desfile com cerveja e petisco (Foto: Gabriel Amorim/CORREIO) É só observar mais atentamente, para perceber que o desfile da independência, arrasta junto com todo o seu significado histórico aqueles que resolvem dar às comemorações uma cara de festa de verdade. Chegando no final do percurso, as mesas de bar pelo Terreiro de Jesus estavam cheias de quem queria estender a festa. A costureira Graça Melo, 48, por exemplo, é enfatica.

“Minha festa é aqui no bar. Vim direto pra cá, beber e curtir porque feriado para mim é festa”, defende.  Ao seu lado na mesa, o amigo Roque Lima, 51, chegou a acompanhar um pedaço do desfile mas, antes do fim, já estava sentado comendo um petisco e brindando ao Dois de Julho; “Eu venho agradecer ao caboclo. Tudo o que eu peço na vida eu consigo. Mas não pode faltar a cervejinha”, finaliza.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier