É de coxinha: salgado no formato de picolé faz sucesso e fatura R$ 12 mil por mês

Depois de ter ficado sem renda na pandemia, a professora e artesã Erika Oliveira já pensa em criar até o sorvete de coxinha

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  • Priscila Natividade

Publicado em 17 de abril de 2021 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Nara Gentil/CORREIO

Tem picolé de quê nesse isopor, freguesa? Poderia ser de coco, umbu, amendoim ou de tapioca. Mas não é. É de coxinha. Oxe, isso é quente ou gelado? “Na verdade, ele vem bem quentinho depois que a gente frita na hora da entrega. Fiquei sem renda na pandemia, segurei até onde podia. Em outubro, me desesperei porque precisava trazer dinheiro rápido para casa. Comecei a pesquisar o que eu poderia vender na praia, quando ela ainda estava liberada. Porém, eu queria algo que a pessoa não pegasse no alimento por causa do coronavírus, até que eu encontrei na internet um tal de picolé de coxinha”, conta a professora e artesã Erika Oliveira.

Ela correu para a cozinha e começou a testar a receita, mas a danada da coxinha era pesada para um palito. “Foram oito tentativas. Peguei os R$ 16 reais que tinha na conta, minha filha me emprestou mais R$ 200 e fomos ao supermercado comprar os ingredientes. Resolvi adaptar a massa, deixá-la mais leve. Acrescentei especiarias, desenvolvi meu próprio recheio. Agora pode balançar, virar de cabeça para baixo, mas ele não solta. Após passar pela aprovação do pessoal de casa, coloquei no isopor 20 picolés e fui para a praia de Vilas vendê-los”. E foi assim, que a coxinha virou picolé, ou o picolé virou coxinha. “Hoje, nós temos até patente. Quando eu parei o carro, levei um tempo para sair porque tive vergonha. Só que a coragem veio, quando eu pensei na necessidade de sobrevivência. A primeira pessoa que experimentou na praia, comprou meu isopor quase todo. Eu voltei toda empolgada”, lembra. Ela passou, então, a ir todo fim de semana na praia. Atualmente, as entregas são em domicílio com pedidos pelo Whatsapp, Redes Sociais ou iFood. “Em janeiro, eu não conseguia dar mais conta sozinha e contratei duas funcionárias. Se continuar desse jeito, eu contrato mais alguém”, completa Erika. 

O Picolé de Coxinha (@picoledecoxinha.salvador) chega a produzir uma média de 3,6 mil salgados por mês. É coxinha suficiente para garantir um faturamento mensal de R$ 12 mil ao negócio. Antes, Erika lucrava, com o artesanato, R$ 2 mil, na comercialização de peças em lojas colaborativas e de decoração instaladas em shoppings.

“Quanto choro meu travesseiro viu nesse tempo. As contas estavam atrasadas, minha filha já estava vendendo geladinho alcoólico na praia. Pensei até em vender a casa que tínhamos acabado de comprar há um ano, mas acabamos vendendo o carro. Eu nunca imaginei que a solução estava em apostar num salgado de formato diferente”, afirma. 

De todo tipo São três versões do picolé: o P (50g), M (85g) e o G (120g) com preços que variam de R$ 2,60 a R$ 7. O sabor mais vendido é o tradicional, que é o de frango, tamanho P. Porém, a marca começou a produzir também opções com recheios de camarão, calabresa, queijo e sertaneja.

“Apesar de ficarmos em Lauro de Freitas, o público que tem comprado mais é de Salvador, principalmente nos bairros de Brotas, Itaigara, Horto, Barra e Pituba. Todo dia eu saio para esses bairros. Também sempre sugiro juntar clientes, vizinhos que possam dividir a taxa. A gente dá um desconto para pedidos em quantidade”. 

No próximo semestre, a empreendedora deve lançar o cartão fidelidade Picolé de Coxinha, que vai dar direito a um kit a cada 10 compras.“O início foi no 'boca a boca' mesmo, mas o Instagram e a parceria com perfis de comida deram um 'boom' na procura. Eu tomei um susto quando acordei e vi um monte de pessoas que não conhecia seguindo o perfil. Isso ajudou muito”. O ganho está sendo investido na reforma de um espaço da casa para as frituras e mais a aquisição de freezers, fritadeiras, máquina para fazer a massa e compra de insumos. O antigo quarto do artesanato agora é o local onde as coxinhas são modeladas.

“O restante do dinheiro, estou guardando para futuras instalações. É muito sonho para quem começou com nada, só para sobreviver. Tive fé, coloquei de lado meu medo, minha insegurança, minha vergonha quando eu decidi sair do carro com meu isopor para vender. E até hoje, eu dou um passo de cada vez e assim eu estou indo”, diz. 

Como a cozinha de Erika não tem limites, após montar no Natal uma árvore de coxinha, um ovo de páscoa recheado de coxinha e de adaptar o salgado no formato de coração com caixa decorada e tudo para o dia das mães, a próxima receita é... O sorvete de coxinha (será possível, minha gente?): “Minha cabeça não para.  Vai ser muito teste para essa casca ficar do jeito que eu quero. Devo começar a desenvolver a massa na próxima semana. Já fucei a internet toda e não existe nada parecido, mas eu tive uma ideia 'top'. Vai ter sorvete de coxinha com queijo maçaricado. Aguardem”.

O PONTO CERTO DO PICOLÉ

Rede Busque ajuda de familiares, amigos, de quem está próximo para iniciar o negócio e divulgá-lo. Aposte também, em parcerias nas redes sociais.  

Educação financeira  Não dá para ganhar o dinheiro hoje e gastar ele todo amanhã, se quiser crescer. 

Pesquisa “Eu ficava horas por dia, pesquisando na internet chefs de cozinha, o que combinava, qual o tempero, o melhor óleo e temperatura para fritar.  E não precisa pagar por isso, porque eu não paguei. Só estudava”, aconselha Erika.

QUEM É

Erika Oliveira é professora, formada em Letras com Espanhol, artesã e criadora da marca Picolé de Coxinha