É o amor ao Ilê: Ladeira do Curuzu fica lotada para ver saída do bloco afro

Pela primeira vez, bloco desfila dois dias com associados e sai sem cordas na terça-feira

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  • Da Redação

Publicado em 23 de fevereiro de 2020 às 00:57

- Atualizado há um ano

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Sábado de Carnaval, e a saída do Ilê Aiyê no Curuzu é destino certo daqueles que querem acompanhar o que de mais bonito e tradicional há na folia baiana. Quem já é acostumado a bater ponto no evento sabe que a concorrência para garantir o melhor lugar em frente à varanda do Terreiro Ilê Axé Jitolu é grande: a ladeira é íngrime, há profissionais da imprensa por todo lado, políticos e personalidades disputam os holofotes, e os percussionistas do bloco abrem caminho em meio ao povo para dar início à festa.

Uma vez tendo seus caminhos abençoados, o trio do bloco Ilê Aiyê segue em festa do Curuzu para o Plano Inclinado da Liberdade. De lá, os associados fazem uma pausa até se encontrarem novamente horas depois no Corredor da Vitória, onde a entidade inicia o seu primeiro desfile no Circuito Osmar. Esse ano, a novidade é que o bloco irá desfilar apenas na madrugada deste domingo e na segunda com seus associados. Na terça, o Ilê sai sem cordas, em um trio com patrocínio da Prefeitura de Salvador.

Mãe e filho, Maria José, 64 anos, e Valério Neto, 26, saem juntos há 11 anos no Ilê, e garantem que todo ano aumenta o movimento em torno da cerimônia que abre os trabalhos do bloco durante o Carnaval. Ela, que começou a acompanhar vinte anos antes de começar a levar o filho, não nega que este ainda continua sendo seu momento favorito da folia. "Tanto a saída do Ilê aqui na Liberdade, quanto o desfile do bloco no Campo Grande, que para mim até hoje é o melhor circuito", comenta Maria José.  Carnavalescos de carteirinha, os dois, que são moradores do bairro de Itapuã, não dispensam os trios indendentes, nem os blocos de samba - apesar de ela dizer que hoje está mais devagar. (Foto: Marília Moreira/ CORREIO) Segundo o presidente do Ilê Aiyê, Antônio Carlos Vovô, historicamente. e ainda hoje, mulheres são maioria entre os associados do bloco, correspondendo a aproximadamente 70% do público que compra fantasia. No total, cerca de 1200 pessoas desfilam esse ano. "Por conta do episódio do ano passado, em que tivemos um problema na distribuição das nossas fantasias, muita gente deixou de sair. Esse ano acabamos limitando, e muita gente ficou gente de fora", comentou. 

Em 2020, o Ilê Aiyê homenageia o país africano Botswana, exaltando a história da nação que foi reconhecida pela ONU como um caso verdadeiro de sucesso em termos de progresso humano e econômico. “Botswana é um país de êxito, pequeno, emergente, sem taxa de analfabetismo nem casos de corrupção. Pelo fato de trabalharmos com Carnaval, mas também com educação, a história deles sempre foi acompanhada por nós e esse ano entra como nosso tema”, comentou o presidente do Ilê Aiyê, Antônio Carlos Vovô.

Vovô ainda falou sobre a dificuldade de custear o bloco, que levou à decisão de desfilar apenas dois dias com seus associados e buscar o apoio para sair um dia sem cordas. "A prefeitura contratou a Banda Aiyê e nós vamos tocar sem cordas para todo mundo. Vai ser a banda em cima do trio, como a gente já faz nas festas daqui, como a do Dia da Consciência Negra. Vamos fazer um grande Carnaval, e um grande arrastão, porque uma das tentativas nossas é sempre revitalizar o Carnaval do Centro, que está muito esquecido, e enfraquecido", explicou.

Poder feminino A Deusa do Ébano 2020, Gleicy Ellen, falou da importância de alcançar esse título, e o quanto ele pode ser transformador na vida de outras pessoas. "Sempre tive muita vergonha de usar o meu cabelo, então quero mostrar para nossas crianças que nosso cabelo é lindo, somos lindas, somos deusas. Eu estou à frente do bloco Ilê Aiyê representado todas nós. No futuro, pretendo fazer faculdade de Comunicação para ir às escolas. Eu costumo falar que a gente aprende o inglês, mas acho importante também aprendermos o iorubá", comentou enquanto aguardava a amarração do turbante. (Foto: Gabriela Cruz/ CORREIO) Para a estilista Dete Lima,que há 41 anos é responsável por vestir as deusas do bloco, a tarefa é fruto de emoção ainda hoje, depois de tantos carnavais. "Aqui elevo a autoestima de cada mulher negra, e a minha também. A a cada ano, eu me sinto uma Deusa do Ébano junto com elas", comemorou.

Além da Deusa do Ébano, as princesas Sabrina Sant'Ana dos Santos (2º lugar) e Núbia Ferreira (3º lugar) também participaram da Saída do Ilê na Liberdade.

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