Efeito Fadinha: procura por skate cresce até 150% em Salvador por causa da Olimpíada

No mesmo dia em que Rayssa Leal conquistou medalha de prata, lojas de skate da capital viram demanda mais que dobrar

  • Foto do(a) author(a) Daniel Aloísio
  • Daniel Aloísio

Publicado em 30 de julho de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Wander Roberto/COB

Após uma adolescente brasileira de 13 anos apelidada de Fadinha conquistar uma medalha de prata no skate na Olimpíada de Tóquio, muita gente passou a querer ser skatista. Em Salvador, a procura por skates e itens de proteção chegou a crescer 150% na Giro Boards, loja do empresário Cesar Macedo, 48 anos. “Estou saindo exatamente agora para fazer entregas de produtos”, disse o rapaz, que gentilmente atrasou um pouco a obrigação para falar com a reportagem.  

“O crescimento começou logo quando iniciou a Olimpíada e as pessoas começaram a assistir. Depois que veio a primeira prata no masculino, o movimento cresceu ainda mais. Quando Rayssa Leal (Fadinha) ganhou, aí explodiu. Foram as meninas que passaram a querer comprar”, comemora o empresário, que fica feliz ao ver a popularização do esporte.   “Eu sou do tempo que a gente corria para não tomar porrada da polícia. Tinha muito preconceito. Nossas roupas chocavam a sociedade. Em São Paulo chegou a ser proibido. Hoje estamos em outra fase. A mídia deixou o skate bonito. Todo condomínio de luxo tem pista de skate dentro”, relata. Gerente da ZSU Skateshop, Mario Cesar Magalhães, o Marão, 38 anos, concorda com o colega. Nessa semana, o crescimento na procura por skate foi de 100% em comparação com a semana passada, quando as Olimpíadas ainda estavam começando. “Aumentou já no dia da medalha de Rayssa. O Instagram da gente começou a bombar, o acesso do site aumentou muito, toda hora o telefone toca ou entra gente na loja”, afirma. O reflexo disso se deu nas vendas: crescimento de cerca de 50%, segundo o rapaz.  

Leia mais: Salvador vai ganhar pista olímpica de skate em 2022 

O motor de todo esse crescimento, segundo o empresário, são as crianças, principalmente. “São eles que vem para a loja. O pai acompanha, é claro, quer entender como funciona, mas são as crianças que estão bastante interessadas, o que é muito bom. Acredito que virá uma geração forte para as próximas Olimpíadas”, projeta. 

Uma das pessoas que está procurando por skate é a guarda civil Cintia Alves Rodrigues, 32 anos. Quando era adolescente, ela tinha vontade de praticar o esporte, mas nunca teve coragem por causa do preconceito.“Era algo marginalizado. O pessoal dizia que era coisa de maconheiro mesmo. Então, eu sempre fui impedida de praticar”, lembra.  Para conhecer mais esse universo, em março desse ano, ela presenteou seu sobrinho João marcos, 15 anos, com um skate. Ela não imaginava que, inspirada na Fadinha, sua filha Heloísa, de apenas cinco anos, iria querer ser uma skatista. “Como uma mãe muito preocupada que sou, não vou comprar agora. Quero esperar ela crescer mais um pouquinho. Mas, se ela quiser mesmo competir, com certeza darei o incentivo que não tive”, garante.   Cintia pratica skate com o equipamento que ela presenteou o sobrinho (Foto: arquivo pessoal) Leia mais: Filho diz que Chorão torcia por Rayssa, mas cantor morreu antes de Fadinha andar de skate

Outras lojas comemoram aumento no skate    Wiliam Figueiredo, mais conhecido como GG por causa da sua loja de skate, a GG Story, acredita que esse aumento na procura pelo produto veio no melhor momento possível, já que o setor foi afetado pela crise gerada pela pandemia. “Nossa venda chegou a paralisar em determinados momentos do ano passado. Agora temos novos clientes, pessoas querendo entender do assunto”, diz.  

Por lá, crescimento na procura pelo serviço foi de cerca de 40%. “Na semana passada, quando as pessoas começaram a saber que o skate virou um esporte olímpico, o comércio já deu uma aquecida. Agora, são muitos que vão no meu WhatsApp para perguntar sobre valores e diferença entre as peças. Além das crianças, atendo pessoas que passaram 20 anos sem andar e querem voltar agora”, afirma.  

Já na Xtreme Sport, Ricardo Mota afirma que as peças mais procuradas são justamente os que foram usadas por Rayssa Leal na conquista da medalha de prata. “Até a lixa do skate que ela usou, o pessoal está procurando. Aqui cresceu uns 20% a procura pelo skate e equipamento de proteção. O perfil do público é composto por pessoas em busca do primeiro skate, principalmente crianças. Os jogos olímpicos geraram esse interesse”, avalia.  Saiba onde andar de skate:  Parque da Cidade  Parque dos Ventos  Pista de skate dos Barris   Pista de Skate do Imbuí  Pista de Skate da Ribeira   Pista de Skate de Lauro de Freitas O skate estreou no segundo dia oficial da Olímpiada, no último sábado (24), com os homens disputando pela modalidade Street, na qual a pista de competição simula as ruas com obstáculos como escadas, rampas, corrimões, guias de calçadas e muretas. A final aconteceu já na madrugada do domingo (25), por causa das 12 horas de diferença entre Salvador e Tóquio. O brasileiro Kelvin Hoefler conquistou a medalha de prata. O ouro ficou com o japonês Yuto Horigomi. O americano Jagger Eaton completou o pódio.  

Leia mais: Olimpíada de 2024 devem ter breakdance, skate, escalada e surfe

Na noite do domingo, foi a vez das mulheres entrarem em ação. Foi nessa disputa que Rayssa Leal levou a medalha de prata, já na madrugada da segunda (26) em Salvador. O pódio foi completado por duas japonesas: Momiji Nishiya, que também tem 13 anos, ficou com o ouro, enquanto Funa Nakayama, de 16, ficou com o bronze.   

Brasileiros podem ganhar medalha na próxima semana  Atualmente, a competição de skate está pausada e retorna apenas na próxima terça-feira (12), com a disputa feminina da modalidade Park. Nesta, os atletas competem em uma pista com formato de piscina. Um dia depois, ocorre a disputa masculina desta mesma modalidade, encerrando o calendário do esporte em Tóquio. Dora Varella, Isadora Pacheco, Yndiara Asp, Luiz Francisco, Pedro Barros e Pedro Quintas são os brasileiros que vão em busca de medalhas. 

“Temos grandes chances de subir no pódio outra vez. Se não vier medalha, vai ser uma zebra muito grande. Os skatistas brasileiro sempre se destacaram nos grandes eventos mundiais. Pedro Barros é um nome muito forte no masculino para levar o ouro. No feminino, minha aposta é em Dora Varela”, disse Windson Romero, presidente da Federação de Skateboard do Estado da Bahia (Feseb) e praticante do esporte desde 1999.   Windson Romero é o presidente da Feseb (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Para ser um bom skatista, segundo Romero, não basta ir numa loja de varejo e comprar o primeiro equipamento que o vendedor te oferecer. Vai ser preciso prática constante, força de vontade e até investimento financeiro. “A gente tem grandes varejistas que vendem um produto de má qualidade e as pessoas adquirem material ruim, se frustram. É importante que as pessoas conheçam lojas em Salvador voltadas para o skatista. E quem busca o skate pela primeira vez deve ter o contato com alguém que entende da prática”, recomenda. Isso significa que, para praticar o esporte com regularidade, vai ser preciso gastar dinheiro. “Não existe skate de iniciante. Existe skate ruim, que são brinquedos vendidos em lojas de departamentos. Não há skate que preste abaixo de R$ 350”, diz Cesar Macedo. Em sua loja, o produto mais barato, pronto para ser usado em competições amadoras, sai por R$ 430. Os mais caros, que usam produtos importados, saem por R$ 1,4 mil.  

Leia mais: Vídeo de jovem caindo de skate na Ladeira da Barra viraliza; assista

Essa diferença no preço acontece, pois raramente uma pessoa vai conseguir ir numa loja e comprar um skate montado, pronto para venda. “Geralmente. o skatista escolhe uma marca diferente pra cada peça do skate, conforme a sua necessidade. No caso dos iniciantes, é preciso a presença de alguém que o oriente na escolha desses produtos”, argumenta Mario Cesar Magalhães, o Marão.    

Saiba quais são as peças de um skate e quanto ele varia de preço, segundo Marão:  

Shape: É a tábua de madeira onde os skatistas ficam apoiados. Seu valor pode variar de R$ 130 a R$ 500.  

Lixa: Feita de papel ou emborrachada, a lixa fica colada no shape. Ela serve para gerar atrito entre o skate e o calçado do praticante, o que possibilita a execução de manobras. O preço varia de R$ 15 a R$ 130.  

Rodinha: Que permite a movimentação do skate no solo. O preço varia de R$ 130 a R$ 300. 

Rolamento: É o material que vai dentro da rodinha, permitindo que ela gira livremente. Os preços variam de R$ 30 a R$ 400.  

Eixo: A parte onde se encaixam as rodas e os rolamentos. O preço varia de R$ 130 a R$ 750.  

Parafusos: Responsáveis por fixar o skate. O preço varia de R$ 16 a R$ 45.  

Saiba onde comprar seu skate:  

ZSU Skateshop  Bairro: Pituba  Instagram: @zsuskateshop 

GG Store  Bairro: Ribeira  Instagram: @gg_storebr 

Giro Boards Skateshop  Bairro: Pituba  Instagram: @giroboardsoficial 

Premiere Skateshop  Bairro: Não se aplica (Loja virtual)  Instagram: premiereskateshop 

Xtreme Sport  Bairro: Pituba  Instagram: @xtremesalvador 

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.