'Ela morreu pra salvar a mãe', diz tia de recepcionista grávida esfaqueada pelo padrasto

Crime ocorreu em Pituaçu; jovem estava com 6 meses de gestação

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  • Eduardo Dias

Publicado em 30 de dezembro de 2019 às 11:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: Eduardo Dias/CORREIO

"Ela morreu tentando salvar a mãe", conta a dona de casa Lucila da Mata, 27 anos, tia da recepcionista  Alanes Beatriz da Mata de Goes, 19, morta a facadas pelo padrasto, no bairro de Pituaçu, em Salvador. Ainda sem acreditar no que aconteceu na manhã de domingo (29), ela clama por justiça. Lucila falou com o CORREIO enquanto aguardava a liberação do corpo da sobrinha no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), na manhã desta segunda-feira (30). O crime ocorreu na casa onde Alanes, grávida de seis meses, morava com a mãe, no bairro de Pituaçu, em Salvador.  A jovem foi morta a golpes de faca, na região do tórax. 

Alanes deixa um filho, Pedro Henrique, de 4 anos. Por causa das facadas, o bebê de seis meses, que se chamaria Artur Miguel, não resistiu aos ferimentos e também morreu. Alanes trabalhava havia um ano e seis meses como recepcionista da churrascaria Baita Tchê, na Orla. 

De acordo com a tia da vítima, Leonardo Souza de Jesus, 32, padrasto de Alanes, que é procurado pela polícia, premeditou o crime. Segundo ela, uma semana antes do crime, Alanes colocou Leonardo para fora da casa onde morava com a mãe, por contas sucessivas agressões e ameaças. "Alanes tinha colocado ele para fora de casa, mas ele tinha levado a chave do portão e voltou [na manhã de domingo], depois da festa, drogado e bêbado. Ele entrou e deixou o portão aberto para facilitar a fuga, foi tudo premeditado. Alanes morreu tentando salvar a mãe. Ela acordou com a mãe pedindo socorro", relatou a tia.Filha única, Alanes preparava o chá de fraldas do filho. "Ela era filha única de pai e mãe, e deixa um filhinho de 4 anos. Estava focada somente no trabalho e no chá de fraldas do bebê, ela queria muito esse filho", contou a tia, que revelou ainda que o ex-cunhado ameaçou sua mãe também. 

Segundo informações de Lucila, Leonardo não aceitava o fim do relacionamento com Sandra da Mota, 46 anos, mãe de Alanes. "Ela [Sandra] já teve alta médica, os ferimentos nela foram superficiais, nos braços e nas costas", explica Lucila. Polícia Civil informou que tem equipes fazendo buscas na tentativa de localizar e prender Leonardo (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) Segundo ela, foi usada uma faca grande, de cozinha durante os crimes. "Ele possui um histórico de agressões contra ela [Sandra]. Uma vez, ele a ameaçou com uma faca no pescoço".

A família de Leonardo também mora no bairro - e, após ele ser expulso da casa de Sandra e Alanes, ficou na casa dos parentes. "Minha sobrinha morreu dentro do quarto, em cima da cama. Queremos saber pra onde ele foi, nenhum dos parentes sabe ou diz onde ele está", afirmou Lucila.

A tia conta que quando a equipe do Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) chegou e deu os primeiros atendimentos já constatou que a jovem estava morta."Ele tentou matar a minha mãe também, correu atrás dela na rua com a faca,uma senhora de 69 anos. Meu sobrinho de 12 anos correu e se escondeu para não morrer também", relembrou.A tia da vítima disse ainda que o acusado já chegou chutando a porta, porque queria de qualquer jeito entrar na casa das vítimas. "Mas minha mãe não queria abrir a porta e pedia a ele para ir embora, mas ele continuava. A minha sobrinha ainda abriu o portão e mandou ele ir pra casa: 'olhe como você está, deixe a gente dormir'. Ele se aproveitou que ela voltou a dormir, foi na cozinha, pegou a faca e a esfaqueou no quarto, na cama. 'Não mate minha mãe, não', foi nessa hora que ele virou e deu as facadas no peito dela."

Em nota, a Polícia Civil informou que a 1ª Delegacia de Homicídios (1ª DH / Atlântico) está à procura de Leonardo, acusado do feminicídio da enteada. A polícia informou ainda que equipes fazem buscas na tentativa de localizar e prender o autor do crime..

Convívio A família conta que Alanes trabalhava desde os 14 anos. "Era uma menina meiga, doce, nunca brigou com ninguém. Ela se formou esse ano e estava fazendo planos para entrar na faculdade após a gravidez. Ela tinha o sonho de fazer Medicina".

A tia afirma também que Leonardo vivia brigando e agredindo Sandra. "Era usuário de drogas e não aceitava o fim do relacionamento. Ele cheirava, depois pedia desculpas e ela acaba aceitando ele de volta. Com Alanes, ele nunca teve desentendimento, mas ela não aceitava mais ele com a mãe dela. Ele cometeu um crime no interior, em Santo Amaro e veio para Salvador escondido".

O crime Alanes estava dormindo quando percebeu que o padrasto, havia entrado na casa e discutia com sua mãe. Ela foi assassinada quando tentava separar uma briga na manhã deste domingo (29), no bairro de Pituaçu. O padrasto e principal suspeito do crime é procurado.

Segundo informações da Polícia Militar, a briga aconteceu por volta das 6h, na Rua do Cascalho, e mãe e filha foram atingidas por golpes de faca.

Militares da 39ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/ Boca do Rio e Imbuí) acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). As duas mulheres receberam os primeiros socorros, mas Alanes e o bebê não resistiram aos ferimentos e morreram.

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro