Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2020 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Antes de ser internada no Hospital Couto Maia, onde viria a falecer vítima do novo coronavírus (Covid-19), a técnica de enfermagem do Hospital Santo Antônio, das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), Rosana dos Santos Cerqueira, 44 anos, estava bastante debilitada, contou uma funcionária da instituição e amiga da vítima, que não quis se identificar.>
No dia 19 de abril, Rosana contou para a amiga, em ligação, que estava com muitas dores no corpo, com dor de garganta e tossindo muito. “Domingo retrasado eu falei com ela. Ela nem conseguia falar direito. Minha amiga estava sem apetite e com febre entre 38.9º e 40º. Ela me contou que a febre não estava passando”, relembrou. >
Segundo a amiga, Rosana era hipertensa e sofreu uma parada cardíaca no hospital, onde teve que fazer hemodiálise e ser entubada enquanto estava internada desde 21 de abril. Boletim dos casos de coronavírus divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia aponta, entretanto, que a mulher de 44 anos que morreu nesta terça em um Hospital Público de Salvador não tem histórico de comorbidades. A técnica de enfermagem iria completar 45 anos em 7 de maio.>
Rosana atuava na Enfermaria Nossa Senhora de Fátima e trabalhava no Hospital Santo Antônio desde 2002. De acordo com a Osid, a técnica estava afastada de suas atividades no hospital desde o dia 13 de abril. Ela ficou isolada em casa, mas teve um agravamento no quadro e foi internada no Hospital Couto Maia.>
Em nota de pesar, a Osid afirmou que Rosana fez o teste para o coronavírus após passar por atendimento no ambulatório montado nas Obras Sociais para acolher os colaboradores com sintomas gripais. De acordo com a amiga da vítima, Rosana chegou a desmaiar no hospital no dia que foi atendida no ambulatório. >
Para a colega de trabalho e amiga, Rosana conseguia amenizar o clima dos plantões noturnos com suas brincadeiras e piadas. “Ela vai fazer muita falta porque era muito alegre e risonha. Era uma boa profissional e amiga de todo mundo”, contou.>
A funcionária tinha acabado de voltar das férias quando se infectou, afirma a colega de trabalho. “Ela voltou no meio dessa situação do coronavírus. Antes de ser afastada, ela tinha comentado comigo que a enfermaria que ela trabalhava estava com muitos pacientes com infecções diferentes juntas em um posto pequeno”, contou a amiga.>
Rosana começou a atuar na Osid tratando de pacientes com tuberculose, depois ela foi transferida para a clínica médica, contou a amiga. A técnica de enfermagem ainda atuou no setor de pacientes crônicos. Por fim, ela estava na enfermaria Nossa Senhora de Fátima, que é uma unidade de Alta Complexidade em Oncologia. “A gente se conheceu na Nossa Senhora de Fátima e éramos muito amigas. Fui para outra enfermaria, mas tínhamos voltado a trabalhar juntas durante a pandemia pois o setor de oncologia foi transferido para a enfermaria São Lázaro”, disse a também funcionária da instituição.>
A técnica de enfermagem morava com o pai idoso e a irmã. Depois da confirmação da doença, ela teve que ficar isolada em um quarto da casa. A irmã era a responsável por entregar a comida pela janela. “O pai e a irmã fizeram o teste da Covid-19 para saber se pegaram a doença”, contou a amiga.>
Rosana é a segunda funcionária da Osid a morrer em decorrência do coronavírus. Na última quarta (22), o técnico de enfermagem Antônio César Ferreira Pitta de Jesus, 48 anos, também faleceu no Couto Maia.>
Cesinha, como era conhecido, trabalhava no Hospital Santo Antônio como funcionário da Unidade de Coleta e Transfusão de Sangue desde 2012. Ele morava no Nordeste de Amaralina e, segundo informou a líder da unidade, Marília Sentges, estava afastado das atividades desde o dia 15 de abril, quando apresentou febre e tosse.>
Em 16 de abril, o número de profissionais de saúde infectados pelo coronavírus no Hospital Santo Antônio chegou a 64. Na data, entre os pacientes, o total era 30 casos confirmados, com duas mortes. Após este boletim, a Osid parou de divulgar dados sobre os casos dentro do Hospital Santo Antônio para a imprensa. Os números são repassados apenas para a Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), que divulga apenas o boletim consolidado de infectados na Bahia.>
Transferência de pacientes Todos os pacientes transferidos como medida protetiva do Hospital Santo Antônio para um centro de acolhimento no Rio Vermelho retornaram para a Osid nesta terça-feira (28). Os infectados pelo coronavírus foram encaminhados para unidades de saúde da rede pública estadual. >
A instituição não divulgou quantos pacientes voltaram para o hospital. Dentre os 200 transferidos para o Rio Vermelho em 19 de abril, 26 possuíam diagnóstico positivo para Covid-19. Os demais tinham perfil etário acima de 60 anos e foram encaminhados por precaução.>
O retorno dos pacientes para a Osid começou na segunda (27) após a desinfecção do hospital realizada no último final de semana. Segundo a instituição, a limpeza abrangeu enfermarias, corredores, paredes, sanitários e equipamentos como camas, cadeiras e armários, de modo a higienizar de forma ampla o hospital.>
A limpeza foi realizada por profissionais do setor de Higienização da Osid e militares do Comando Conjunto Bahia, formado pela Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira.>
No Hospital, também foi instalado um túnel de desinfecção, que começou a funcionar na segunda. O equipamento limpa o uniforme de trabalho dos profissionais de saúde com jatos de uma solução de hipoclorito de sódio.>
Para se desinfectarem, os trabalhadores da área de saúde passam pelo túnel antes de sair do hospital ao final do dia de trabalho. De acordo com a Osid, o processo faz com que seja possível retirar o Equipamento de Proteção Individual (EPI) com uma maior margem de segurança.>
Além da desinfecção, as iniciativas de enfrentamento ao Coronavírus da Osid incluem a redução de 50% do número de leitos em cada enfermaria; adequações dos sistemas de renovação de ar; realização de testes RT-PCR em todos os funcionários e pacientes, mesmo os assintomáticos; intensificação das auditorias de utilização correta dos EPIs por todos os profissionais de saúde, além da desparamentação desses profissionais; entre outras ações.>
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela>