‘Ele a esfaqueou quando ela estava de joelhos orando por ele’, diz irmã de mulher morta

Família ainda não sabe o motivo real de crime no São Gonçalo do Retiro

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  • Bruno Wendel

Publicado em 5 de outubro de 2020 às 12:07

- Atualizado há um ano

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Foto: Reprodução Evangélica, Rosilene Souza Barbosa, 42 anos, tinha o hábito de intensificar as orações toda vez que o companheiro, o segurança Micácio Santos, começava a agredi-la verbalmente. Na noite do último sábado (3) não foi diferente. Pôs-se de joelhos e começou a pedir a intervenção divina. No entanto, Micácio, armado com duas facas, uma em cada mão, atacou a vítima pelas costas, no bairro de São Gonçalo do Retiro, em Salvador.

"Esse monstro a esfaqueou quando ela estava de joelhos, orando por ele. Toda vez que brigavam, ela pediu a Deus para dar livramento a ele. Um covarde. Pegou minha irmã pelas costas. Um covarde", desabafou ao CORREIO, por telefone, a irmã de Rosilene, Lindinaval Souza Barbosa, 41. Lindinaval está em Alagoinhas, cidade de origem da família, para o enterro da irmã, marcado para as 14h dessa segunda. 

O corpo de Rosilene foi liberado no final da tarde deste domingo. "O laudo do IML [Instituto Médico Legal] diz que minha irmã tomou seis facadas, três em cada lado", contou Lindinalva.

A irmã disse que a família não sabe o motivo real do crime. "Ela só vivia para ela. Há quatro meses ela sofreu um aborto espontâneo por causa dos problemas de saúde. Ela era diabética e obesa, mas queria dar um filho a ele. Foi quando decidiu frequentar academia para emagrecer. Ela fazia de tudo pra esse homem. Na semana do crime, ninguém ficou sabendo de briga entre eles. Estamos sem saber de fato o que houve", disse ela. 

Apesar de família desconhecer o motivo que levou Micácio ao crime, o casal tinha brigas constantes por causa de ciúmes do segurança. "Na frente da gente, os dois nem pareciam que brigavam. Mas com ela, ele não gostava que ela atendesse as nossas ligações, que ela andasse com outras mulheres da igreja. Tudo por causa do ciúme. Ela contava isso, mas acreditava que ele ia mudar um dia", contou a irmã da vítima.

Ela relatou que, há nove anos, Micácio deu um soco no rosto de Rosilene. "Ele teve uma crise de ciúmes e fez isso. Pra mim era para ela não mais voltar, mas ele ficou insistindo durante quatro meses e ela acabou cedendo", disse. 

Lindinalva disse ainda que Micácio apresentava ser uma pessoa tranquila. "Ninguém podia imaginar que ele era esse mostro. Eu apresentei um ao outro. Um ex-namorado era amigo dele e numa época saímos um dia os quatro juntos. Desde então, minha irmã e Micácio passaram a sair juntos e engataram o namoro. Eu, que apresentei os dois, jamais imaginaria isso, imagine ela? Ele é um homem sadio, forte, alto, quando tomava um remédio era para dor de cabeça. Já minha irmã era baixinha, gordinha, não teve forças para se defender", declarou.

Autor do crime preso Em nota, a Polícia Militar (PM) informou que policiais da 23ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Doron) foram acionados pelo Centro de Comunicação Integrada (Cicom), órgão da Secretaria de Segurança Pública (SSP) para atender a uma denúncia de agressão a uma mulher na Travessa 8 de Dezembro. "No local, a guarnição encontrou agentes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) socorrendo a vítima, que foi agredida pelo companheiro, porém não resistiu aos ferimentos". 

Ainda segundo a PM, a área foi isolada e o Serviço de Investigação em Local de Crime (Silc) acionado para realizar perícia e remoção do corpo. "Os militares deslocaram até o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), onde localizaram e conduziram o suspeito para o Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP)".

Segundo a Polícia Civil, o Samu foi acionado, mas a vítima morreu no local. O autor do crime tinha um relacionamento com a vítima há cinco anos e tentou suicídio após o crime. Ele foi socorrido por um vizinho para o Hospital Roberto Santos. Após alta médica, foi conduzido ao DHPP e autuado em flagrante por feminicídio.

Entre os dias 1 de janeiro e 30 de setembro de 2020 foram registrados 77 casos de feminicídio na Bahia, informa a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). Esse número representa um aumento de 5,4% em relação ao mesmo período de 2019, quando ocorreram 74 crimes deste tipo no estado.

Onde pedir ajuda em caso de violência contra a mulherGedem (Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do Ministério Público do Estado da Bahia) – Atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres em situação de violência doméstica, familiar e de gênero. Endereço: Avenida Joana Angélica, nº 1312, sala 309 – Nazaré. Telefone: 3103-6407/6406/6424. Nudem (Núcleo Especializado na Defesa das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar da Defensoria Pública do Estado) – Atendimento especializado para orientação jurídica, interposição e acompanhamento de medidas de proteção à mulher. Endereço: Rua Pedro Lessa, nº123 – Canela. Telefone: 3117-6935. 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar – Unidade judiciária especializada no julgamento dos processos envolvendo situações de violência doméstica e familiar contra a mulher, de acordo com a Lei Maria da Penha. Endereço: Rua Conselheiro Spínola, nº 77 – Barris. Telefone: 3320-9718 Gedem (Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do Ministério Público do Estado da Bahia) – Atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres em situação de violência doméstica, familiar e de gênero. Endereço: Rua Arquimedes Gonçalves, no. 142, Jardim Baiano. Nazaré. Telefone: 3321-1949 / 3328-0417 Nudem (Núcleo Especializado na Defesa das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar da Defensoria Pública do Estado) – Atendimento especializado para orientação jurídica, interposição e acompanhamento de medidas de proteção à mulher. Endereço: Rua Arquimedes Gonçalves, nº 482, Jardim Baiano, Salvador. Telefone: 3324-1587 Delegacia Digital - Basta acessar o site delegaciadigital.ssp.ba.gov.br, clicar em "Registre sua Ocorrência", selecionar a opção "Ocorrências Lei Maria da Pena" e registrar a denúncia seguindo os requisitos pedidos pelo site.