'Ele atirou e não deu socorro', diz mãe de criança baleada em ação policial em São Marcos

Mãe encontrou o filho caído no chão, desmaiado e todo ensanguentado

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  • Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2021 às 10:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Marli Silva de Jesus, 46 anos, tinha pedido para o filho de 11 anos buscar um caixote na casa de um vizinho e dava banho na caçula quando foi supreendida por um vizinha, que chegou desesperada chamando por ela, na noite da última quinta-feira (30), por volta das 19h. Quando subiu a rua, na comunidade do Coroado, no bairro de São Marcos, encontrou o filho caído no chão, desmaiado e todo ensanguentado. "Tinha muito sangue e ele ainda tinha desmaiado. Pensei que estava morto, mas graças a Deus não estava".

O garoto tinha sido baleado na altura da virilha, na perna esquerda. "Ele atirou e não deu socorro, ele viu a criança no chão e acho que ele nem a viu como uma criança, acho que ele a viu como um cachorro", critica a mãe do garoto. De acordo com ela, a criança foi socorrida por vizinhos para a Unidade de Pronto Atendimento de São Marcos e depois transferida para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde permanece hospitalizada, após realização de cirurgia para retirada do projétil. No entanto, por meio de nota, a PM informou que socorreu a criança imediatamente após ser informada sobre o ferimento.

Até a tarde desta sexta-feira (1), ainda internado no HGE, haviam dúvidas sobre a necessidade ou não da amputação da perna da criança. Entretanto, Marli contou, mais tarde que, durante ligação de vídeo com o médico, o profissional afastou a possibilidade da amputação. Ainda não há previsão para a alta. Foto: Arisson Marinho/CORREIO Como o garoto é muito querido na comunidade, por ser aquela criança que costuma fazer favor para todos os vizinhos, o caso acabou gerando comoção. "Ele é um menino da comunidade, um menino do bem, uma criança do bem, que cata latinha, o lixo das pessoas. No momento do ocorrido, simplesmente ele estava passando, mas como sempre, eles só chegam aqui assim. Os policiais não respeitam ninguém, não respeitam mãe de família, não respeitam trabalhador", denuncia uma vizinha e amiga da família, que pediu para não ser identificada, por medo de represálias.

Assim como a mãe, ela também criticou o fato da polícia não ter prestado socorro ao ver a criança baleada no chão. "A criança tomou tiro e não teve socorro em momento algum. Quem pegou o menino para socorrer foi um morador, porque eles não tem dó. Se tirar vida de alguém, de uma criança, de um trabalhador, não estão ligando não. Só entram aqui assim mesmo, dando tiro", reclama.

Ela informou ainda que essa não foi a primeira vez que um inocente foi vítima da ação da polícia. "Eu espero que agora eles tenha respeito pelas pessoas, porque nem todo mundo que mora aqui é ladrão. Claro que tem que vir, mas que eles façam a abordagem dele de respeito, não já metendo bala, porque não é assim". 

Mãe de seis filhos, Marli conta que essa foi a primeira vez que a família foi vítima de uma ação da polícia. Ela conta que vai procurar a Corregedoria da Polícia Militar para registrar a ocorrência. Procurada, a PM ainda não se posicionou. Um grupo de moradores realizou um protesto na noite de quinta-feira (30) após a operação policial. De acordo com moradores, policiais teriam entrado na localidade atirando.

Troca de tiros Em nota, a PM informou que policiais militares da 47ª CIPM realizavam incursões na localidade do Coroado, onde se depararam com um grupo de homens armados e foram recebidos a tiros, na noite dessa quinta-feira (30).

Ainda segundo a PM, após a troca de tiros, os policiais encontraram um homem caído no chão, e também foram informados sobre a criança baleada.

O suspeito foi socorrido para o Hospital Professor Eládio Lassére, mas não resistiu aos ferimentos. De acordo com a polícia, foram encontrados com ele um revólver calibre 38; embalagem contendo maconha, cocaína e craque; além de R$ 27,00 em espécie.

A nota diz ainda que ocorrência e o material apreendido foram registrados e apresentados à Corregedoria Geral da Polícia Militar.